Descrição: Uma das principais pragas que atingem a cultura da cana-de-açúcar nas regiões Norte e Nordeste do Brasil é a broca gigante Telchin licus licus (= Castnia licus) (Drury, 1773) (Lepidoptera: Castniidae).
Biologia e comportamento:
a fêmea oviposita geralmente entre os detritos vegetais, na base do
colmo, coincidindo com o início da brotação da cana recém cortada.
Larvas
eclodem após 7-14 dias e completam seu desenvolvimento entre 60 a 90
dias, após passar por cinco instares, alcançando até 80 mm de
comprimento em condições favoráveis de ambiente e alimento. No entanto,
geralmente o ciclo larval necessita de até 10 meses, se as larvas se
encontrarem com deficiência nutricional ou em clima adverso.
A pupa se encere em um casulo feito com fibras da cana, sendo que o adulto emerge após 30-45 dias.
O
adulto tem 35 mm de comprimento e 90 mm de envergadura, com o hábito
diurno, sendo que ocorre sua maior atividade em dias ensolarados.
Quanto
ao número de gerações, pode ocorrer de duas a três anuais, entretanto é
mais frequente que o ciclo biológico dure quase um ano.
Danos e sintomas: as lagartas perfuram internamente o colmo,
causando a morte de plantas ou considerável perda de peso e facilitam a
penetração de fungos da podridão vermelha, que invertem a sacarose,
diminuindo a produção de açúcar. As lagartas, com a mínima perturbação,
procurando se proteger, enterram-se profundamente nos túneis abertos
anteriormente no rizoma ou entre as raízes, o que contribui para
preservá-las.
Logo após o corte da cana, as lagartas têm o hábito de vedar, com restos
de alimento (fibras), o orifício deixado aberto pela galeria interna
onde viviam visando proteger-se. Elas passam então a viver escondidas
durante o dia na parte mais profunda e fresca da touceira,
alimentando-se do rizoma, de restolhos e de raízes, debilitando e
reduzindo o poder germinativo da touceira. Na cana pequena,
recém-brotada, especialmente de socarias, as lagartas, em busca de
melhor alimento, saem da touceira e atacam os rebentos, penetrando por
alguns centímetros nos tecidos destes, destruindo seu por vegetativo e
causando a secagem e, às vezes, o apodrecimento da gema apical.
Devido
ao pobre poder nutritivo dos tecidos atacados, as lagartas passam
sucessiva e rapidamente a outros rebentos, causando, com a morte destes,
o aparecimento do “coração morto”. O coração morto apresenta, em sua
base, galeria de cerca de 1 cm de diâmetro que, ao ser cortada, aparece
geral e caracteristicamente limpa e vazia.
A lagarta de T. licus permanece danificando o interior da
touceira e do colmo da cana-de-açúcar, durante quase todo o seu ciclo de
desenvolvimento, que é de aproximadamente 90 dias. Em alguns locais,
como no estado de Alagoas há registros de níveis de danos que variam de
45 a 60% das plantas cultivadas.
Ocorrência: sua incidência não se restringe apenas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, já que existem relatos desta praga danificando a cultura da cana em países da América do Sul e da América Central, entre os quais estão as Guianas, Bolívia, Colômbia, Panamá e Trinidad-Tobago. Em julho de 2007 foi relatada pela primeira vez a ocorrência desse inseto atacando cana-de-açúcar na região sudeste do Brasil, município de Limeira, SP, porém informações sobre danos e índice de infestação ainda não foram divulgados.
Manejo:
para combater a broca não existe nenhum método de controle eficiente, porém o controle mecânico de lagartas e crisálidas, com auxílio de enxadinha especial e os espetinhos de metal (eles são inseridos nos buracos para matar o inseto) e a captura de mariposas com o uso de redes entomológicas têm sido utilizados na tentativa de diminuir a incidência da praga. Cabe ressaltar que, quando 30% das plantas estiverem atacadas pela praga, a recomendação é que se faça a reforma do canavial utilizando eliminadores de soqueira.
Alguns trabalhos realizados com os fungos Beauveria bassiana, Beauveria brongniartii e Metarhzium anisopliae vem demonstrando possibilidades de utilização desses patógenos no controle de T. licus, porém a eficiência em campo desses agentes pode ser limitada pelo comportamento da lagarta ao se abriga no interior do colmo, o que dificulta a ação dos patógenos.
O comportamento desse inseto, atacando as partes subterrâneas da planta, sugere a possibilidade de uso de nematoides entomopatogênicos como alternativa de controle. Em teste de laboratório avaliando o nematoide Steinernema sp. (IBCB n06), obtiveram-se 74% de mortalidade do inseto.
Referência consultada
GALLO, D. et al. Entomologia Agrícola. FEALQ, Piracicaba, 920 p., 2002.
PINTO, A.S. Controle de pragas da cana-de-açúcar. Boletim Técnico Biocontrol, 64 p., 2006.
Autor: Luis Garrigós Leite, Instituto Biológico
E-mail: luis.leite@sp.gov.br