Quinta-Feira, 25 de Abril de 2024
Ferrugem alaranjada do cafeeiro (Hemileia vastatrix )

Hospedeiro: A ferrugem alaranjada do cafeeiro é causada pelo fungo biotrófico Hemileia vastatrix Berkeley et Broome. O fungo infecta exclusivamente espécies do gênero Coffea (Família Rubiaceae), incluindo Coffea arabica (café arábica) e Coffea canephora (café robusta) cultivadas em grande escala nas variadas regiões cafeeiras do mundo. A espécie C. canephora apresenta cultivares com resistência, enquanto que a maioria das cultivares comerciais dentro da espécie C. arabica é suscetível à doença.

Etiologia: Hemileia vastatrix Berkeley et Broome é um fungo biotrófico exclusivo do gênero Coffea, pertencente à classe dos basidiomicetos, ordem Uredinales e família Pucciniaceae. A espécie foi descrita originalmente em 1869, por Berkeley e Broome, estando associada a um tipo de ferrugem encontrada em cafeeiros do Ceilão, atualmente Sri Lanka.
O patógeno produz dois tipos de esporos morfologicamente distintos, os teliosporos de formato irregular sem espículas e os urediniosporos dicarióticos (esporos assexuais) tipicamente reniformes, equinulados dorsalmente e lisos ventralmente. Os urediniosporos ao entrarem em contato com a face abaxial das folhas germinam na presença de água e temperatura favorável, penetram através dos estômatos após a diferenciação dos apressórios, ocorrendo ramificação do micélio intercelular dentro das folhas do hospedeiro e a formação de haustórios, responsáveis pela absorção de nutrientes. Urediniosporos pedicelados e reunidos em feixes são produzidos através dos estômatos podendo infectar novamente outras folhas da mesma planta ou de plantas distintas.
Os teliosporos são produzidos ocasionalmente, no centro de lesões mais velhas. Os urediniosporos produzidos pelo patógeno são disseminados a longas distâncias, especialmente pelo vento e pelo homem. Na mesma plantação, a maior disseminação local da doença, de uma planta a outra ou entre as folhas de uma mesma planta, ocorre especialmente pelas gotas de chuva.

Sintomas: O patógeno infecta a face inferior das folhas, onde aparecem pequenas manchas de coloração amarelo-pálida de 1 a 3 mm de diâmetro, que evoluem, atingindo até 2 cm de diâmetro, apresentando aspecto pulverulento, com produção de uredosporos de coloração amarelo-alaranjada. Na face superior das folhas, a doença causa manchas cloróticas amareladas correspondendo aos limites da pústula na face inferior, que posteriormente necrosam. Em decorrência da formação de pústulas, ocorre redução da área fotossintética, queda precoce de folhas e a seca dos ramos laterais.

Importância: A ferrugem alaranjada do cafeeiro é considerada a principal doença dessa cultura. O café representa uma fonte significativa de renda para vários países da América Latina, África e Ásia e é uma das espécies agronômicas mais importantes no Brasil, o principal produtor e exportador mundial desta cultura. Os principais prejuízos ocasionados pela ferrugem alaranjada consistem na redução da área foliar, pela formação de lesões e queda precoce das folhas e a seca dos ramos laterais. A desfolha acarreta a redução do florescimento e da frutificação, perda de vigor das plantas, diminuindo a produtividade e qualidade.

Ocorrência: A ferrugem alaranjada do cafeeiro foi constatada pela primeira vez no Brasil no estado da Bahia em 1970. Devido à rápida disseminação do patógeno, todo o parque cafeeiro brasileiro foi afetado em poucos anos ocasionando decréscimos significativos na produção. A intensidade da doença está associada ao ambiente, ao patógeno, ao hospedeiro e ao manejo da cultura e ocorre em todas as regiões produtoras de café no Brasil e na América Central. Atualmente, 45 raças fisiológicas do fungo já foram identificadas provenientes de diversas regiões cafeeiras do mundo, sendo que no Brasil foram descritas pelo menos 13 raças. Entre estas, a raça II predomina nos cafezais brasileiros.

Manejo: A introdução e disseminação do patógeno nas lavouras podem ser limitadas por tratos culturais e métodos de controle adequados.
Entre estes podem ser mencionados:

  • adubação adequada; eliminação de material vegetal infectado e evitar condições favoráveis para o desenvolvimento da doença como, a presença de inóculo do ano anterior, carga pendente que pode tornar o cafeeiro mais suscetível e sistemas de plantio e condução que tornem o ambiente mais sombrio e úmido;
  • controle químico: o controle químico da ferrugem do cafeeiro no Brasil tem se mostrado eficaz. Para tanto, deve ser adotado com a seleção correta do sistema, dos fungicidas, doses, épocas e tecnologia adequada de aplicação. Vem sendo realizado através de pulverizações com fungicidas protetores e/ou fungicidas sistêmicos aplicados via solo ou tronco. O uso racional desses produtos tem efeito benéfico para os produtores. Entretanto, a longo prazo, pode ocorrer seleção de novas raças resistentes aos fungicidas aplicados e agravamento de outras doenças e pragas do cafeeiro, devido ao seu efeito na microbiota, eliminando inimigos naturais, além da possibilidade de contaminação do ecossistema.
  • controle genético: A utilização de cultivares portadores de resistência genética a H. vastatrix, é um sistema de controle eficiente e econômico. Materiais com resistência estão sendo melhorados gradativamente, através de pesquisas, visando atender, também a outras características desejáveis como produtividade, o vigor, a uniformidade entre plantas etc... Nos últimos anos novos cultivares têm sido colocados à disposição dos produtores. Entretanto, o principal desafio é a obtenção de resistência durável para evitar a superação da resistência pelo surgimento de novas raças do patógeno. Novas raças de H. vastatrix foram identificadas sendo capazes de infectar cultivares, previamente tido como resistentes.
  • indução de resistência sistêmica: estudos vêm sendo realizados visando à utilização de produtos bióticos ou abióticos, não tóxicos, que atuam como indutores de resistência ativando os mecanismos de defesa inerentes das plantas.

Referência consultada

BETTENCOURT, A.J.; FAZUOLI, L.C. Melhoramento genético de Coffea arabica L.: Transferência de genes de resistência a Hemileia vastatrix do Híbrido de Timor para a cultivar Villa Sarchí de Coffea arabica. Documentos IAC, Campinas, v.84, p.1-26, 2008.

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DeJESUS, C.O. Genes envolvidos na indução de resistência de cafeeiro à Hemileia vastatrix, 2009. 75 p. Tese (Mestrado em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio) – Instituto Biológico, 2009.

FAZUOLI, L.C. ; BRAGHINI, M.T.; SILVAROLLA, M.B.; DE OLIVEIRA, A.C.B. A ferrugem alaranjada do cafeeiro e a obtenção de cultivares resistentes. O Agronômico, Campinas, v.59, n.1, p.1-6, 2007.

FAZUOLI, L.C. ET AL. Melhoramento do cafeeiro: variedades tipo arábica obtidas no Instituto Agronômico de Campinas. In: ZAMBOLIM, L. (Ed.). O estado da arte de tecnologias na produção de café. Viçosa: UFV, 2002. cap. 5, p. 163-215.

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JUNIOR, E. F. ET AL. Avaliação de cultivares de café arabica em região marginal. Acta Scientiarum Agronomy, v.29, n. 2, p. 197-203, 2007.

SERA, G.H.; SERA, T.; FONSECA; I.C. DE B., ITO, D.S. Resistance to leaf rust in coffee cultivars. Coffee Science, Lavras, v.4, n. 1, p.1-8, 2009.

Autor: Sylvia Dias Guzzo, Instituto Biológico

 
Publicado em: 08/05/2016
Atualizado em: 01/03/2024
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