Quinta-Feira, 25 de Abril de 2024
Cercosporiose (Cercospora coffeicola)

Hospedeiro: A cercosporiose do cafeeiro é causada pelo fungo necrotrófico Cercospora coffeicola Berkeley & Cooke, que infecta espécies da Família Rubiaceae (Rubiáceas), gênero Coffea. A cercosporiose, uma das doenças mais antigas do cafeeiro, é conhecida também como mancha-de-olho-pardo, mancha-circular, olho-de-pomba ou olho-pardo.

Etiologia: O agente etiológico da cercosporiose, Cercospora coffeicola Berkeley & Cooke, pertence à classe dos Hyphomycetes, ordem Moniliales, família Dematiaceae. Em meio de cultura as colônias apresentam coloração micelial distinta dependendo das condições de luminosidade. Quando são mantidas no escuro as colônias variam de preto-esverdeado, no início do desenvolvimento, a branco leitoso até pardo após um maior intervalo de permanência no meio de cultura. Na presença de luz pode haver produção do pigmento de cor vermelha, denominado cercosporina, resultando, conseqüentemente, em alterações na cor do micélio.
C. coffeicola
produz dois tipos de estruturas reprodutivas, os conidióforos e conídios. Os conidióforos são cilíndricos, septados e de coloração pálida a marrom, agrupados em fascículos e conformação de esporodóquios. Na extremidade dos conidióforos formam-se os conídios hialinos e multisseptados. As estruturas reprodutivas formam-se no centro das lesões em ambas as faces das folhas.
O conídio emite tubo germinativo que penetra pelas aberturas estomatais e coloniza os tecidos do hospedeiro inter e intracelularmente por meio das hifas. A esporulação do fungo, em cafeeiro, pode ocorrer em toda a região abaxial do limbo foliar e nos frutos, formando esporodóquios. Os conídios de C. coffeicola podem sobreviver por mais de sete semanas em folhas destacadas e permanecer viáveis por quase nove meses na superfície foliar, aguardando condições favoráveis para poder invadir as células do hospedeiro.
No campo, o patógeno é disseminado por vento, água ou insetos e está presente de forma endêmica em quase todas as regiões que apresentam condições favoráveis ao seu desenvolvimento.

Sintomas: O fungo C. coffeicola infecta mudas de cafeeiro, mantidas em viveiros, e plantas novas e adultas no campo, sendo capaz de se desenvolver especialmente nas folhas e frutos.
Os sintomas da doença nas folhas manifestam-se como manchas de configuração circular, com 0,5 a 1,5 cm de diâmetro, de coloração pardo-clara ou marrom-escura, com centro branco-acinzentado, envolvidas por anel arroxeado e apresentando um pequeno halo amarelado.
Em estádio mais avançado, podem ser observadas no centro das lesões pequenas pontuações pretas, que constituem as estruturas de frutificação do fungo. As folhas atacadas caem rapidamente, ocorrendo desfolha e seca de ramos. Em condições de viveiro, causa desfolha intensa, provocando atraso no desenvolvimento e raquitismo das plantas.
Em algumas regiões foram observadas variações nos sintomas descritos ocorrendo formação de lesões bem escuras sem a presença do centro claro ou do halo amarelo, sendo a doença denominada de cercospora negra.
Nos frutos, as lesões começam a aparecer quando estes estão ainda pequenos, aumentando o ataque no início da granação. As lesões permanecem até o amadurecimento dos frutos, sendo que a maior incidência ocorre nos ramos expostos ao sol. À medida que as manchas envelhecem, assumem um aspecto ressecado e escuro, fazendo com que a casca, nessa parte, fique aderente à semente, o que, em ataques mais severos, causa o seu chochamento. Em alguns casos, pode ocorrer queda prematura dos frutos ou amadurecimento precoce.

Importância: O café representa uma fonte significativa de renda para vários países da América Latina, África e Ásia, sendo que o Brasil é o maior produtor e exportador mundial. Dentre as doenças que atingem o cafeeiro, a cercosporiose é uma das mais antigas e importantes sendo responsável pela redução da qualidade e produtividade da cultura em todas as regiões cafeeiras do Brasil.
Os principais prejuízos ocasionados pela cercosporiose consistem na redução da área foliar, devido à formação de lesões, desfolha e raquitismo das mudas em condições de viveiro, tornando-as inadequadas para o plantio. Em lavouras, além da queda precoce das folhas, pode ocorrer a seca de ramos laterais, amadurecimento precoce, queda prematura e chochamento dos frutos infectados, reduzindo a produção e acarretando perdas no rendimento e na qualidade do café. Os prejuízos com a cercosporiose ganharam maior importância econômica nos últimos anos, devido a perdas significativas no rendimento, especialmente em áreas de baixa fertilidade natural.

Ocorrência: Os primeiros relatos da presença de C. coffeicola no Brasil datam de 1887. Atualmente, a ocorrência de C. coffeicola é endêmica, estando presente em todas as regiões cafeeiras do Brasil e do mundo, ocasionando perdas na produtividade, além de afetar o tipo e a qualidade do café produzido. A ocorrência da cercosporiose é bastante afetada pelo manejo inadequado de nutrientes nas lavouras. Plantas apresentando deficiências nutricionais são mais suscetíveis ao ataque do patógeno. O desenvolvimento da cercosporiose nas lavouras é também favorecido pelo excesso de insolação, ventos, solos de baixa fertilidade, adubação desequilibrada e deficiência hídrica.

Manejo: Alguns cuidados podem ser observados para se limitar a introdução e disseminação do patógeno nas lavouras:

  • medidas de controle da doença de caráter preventivo: incluem cuidados na formação das mudas, procurando-se evitar condições favoráveis à doença por meio de práticas culturais, como formação de viveiros em local bem drenado e arejado, utilização de substratos ricos balanceados em nutrientes, com boas propriedades físicas, controle da irrigação e do excesso de insolação nas mudas, realização de adubações de cobertura ou foliares quando necessárias;
  • controle químico: Além dos tratos culturais adequados, o controle químico é utilizado preventivamente em mudas ou no início dos primeiros sintomas da doença em cafeeiros adultos. É realizado, especialmente, através de aplicações de fungicidas protetores e/ou sistêmicos visando também o controle simultâneo da cercosporiose e ferrugem alaranjada.
  • controle genético: estão sendo realizados estudos para identificação de fontes de resistência em espécies de Coffea visando o desenvolvimento de cultivares de café arábica, resistentes à cercosporiose.
  • indução de resistência sistêmica: estudos mais recentes vêm sendo realizados, especialmente em condições de casa de vegetação, visando à utilização de produtos bióticos ou abióticos, não tóxicos, que atuam como indutores de resistência ativando os mecanismos de defesa inerentes das plantas.

Referência consultada

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Publicado em: 08/05/2016
Atualizado em: 08/05/2016
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