Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024
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Míldio (Bremia lactucae Regel.)

Autores: Jesus G. Töfoli; Ricardo J. Domingues; Josiane T. Ferrari, CPDSV, Instituto Biológico

E-mail: jesus.tofoli@sp.gov.br

Originária do leste do mar mediterrâneo, a alface (Lactuca sativa) é uma das hortaliças mais cultivadas e consumidas no mundo. No Brasil, o seu cultivo concentra-se principalmente nas regiões Sul e Sudeste e a produção atende desde mercados tradicionais até os mais diferenciados como: o de “fast food”, o de produtos minimamente processados e a alta gastronomia.

A alta popularidade da alface deve-se principalmente ao seu fácil cultivo e a sua versatilidade e características culinárias como: crocância, sabor agradável, diferentes cores, texturas, formatos e tamanhos variados. As propriedades nutritivas como: baixas calorias e presença significativa de vitaminas (A, E, C, B1, B2 e B3) e sais minerais (cálcio, magnésio e potássio) além de ação sedativa natural também favorecem o seu consumo.
O míldio, causado por Bremia lactucae, representa uma das maiores ameaças ao cultivo da alface em períodos úmidos e com temperaturas amenas.

Etiologia
Bremia lactucae trata-se de um microrganismo biotrófico pertencente ao Reino Chromista, Filo Oomycota, Classe Peronoporea, Ordem Peronosporales, Família Peronosporaceae. Os esporangióforos possuem de 4 a 6 ramificações dicotômicas e apresentam dimensões que variam de 430 - 990 x 7 - 16 µm, terminando em extremidades dilatadas (apófise) em forma de taça, cada uma contendo de 4 a 5 esterigmas onde os esporângios são formados. Os esporangióforos são finos, longos com coloração que varia do branco ao marrom escuro e emergem no tecido lesionado através dos estômatos. Os esporângios são hialinos, com formatos de esférico a ovóide e papilados (12-31 x 11-27,5 μm).
A doença pode ser causada por várias raças de B. lactucae, o que dificulta a obtenção de cultivares resistentes, e torna necessária uma constante reavaliação dos cultivares, em função das raças do patógeno predominantes em cada região. Na Europa existem identificadas 36 raças do patógeno, enquanto que no Brasil foram detectadas a ocorrência de seis raças, nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Destaca-se que as populações do patógeno são dinâmicas, sendo o surgimento ou a introdução de novas raças algo esperado. Esse fato exige que os novos cultivares sempre apresentem novos genes de resistência para que essa não seja quebrada. Atualmente as espécies Lactuca serriola, Lactuca virosa e Lactuca saligna têm sido as fontes mais utilizadas em programas de melhoramento visando resistência ao míldio. No Brasil, além da alface B. lactucae é descrito em marianinha (Centaurea cyanus L.), sempre viva (Helichrysum bracteatum L) serralha lisa (Sonchus oleraceus L.), serralha de espinho (Sonchus asper L.) e alcachofra (Cynara sclolymus L.) O míldio encontra ótimas condições para o seu desenvolvimento em períodos de alta umidade (maior que 90%) e temperaturas que variam de 12 a 20°C. Dias nublados, chuvosos ou com intenso orvalho são altamente a doença. Uma vez presente na cultura, os esporângios são dispersos rapidamente pela ação de ventos e respingos de água provenientes de orvalho, chuvas e irrigação. A infecção ocorre em apenas 3 ou 4 horas após o contato com plantas suscetíveis, sendo os primeiros sintomas observados a partir de 72 horas após a inoculação. Plantios adensados e excesso de adubação nitrogenada podem favorecer a doença por promover o acúmulo de umidade na folhagem e gerar tecidos mais tenros e suscetíveis, respectivamente. Sementes contaminadas, mudas doentes e hospedeiros alternativos são as principais fontes de inóculo da doença.

Sintomas
A doença pode ocorrer em qualquer fase da cultura afetando desde plântulas recém-emergidas até plantas adultas. Em plântulas, a doença é observada inicialmente nas folhas cotiledonares e em seguida nas primeiras folhas verdadeiras. Essas amarelecem rapidamente, secam e morrem de forma prematura. Em plantas em desenvolvimento ou adultas, os primeiros sintomas da doença manifestam-se nas folhas externas através de manchas foliares verde-claras ou amarelas, úmidas e de tamanho variável. Essas apresentam formato angular, sendo delimitadas pelas nervuras das folhas e ao evoluírem tornam-se necróticas, castanhas e apresentam um crescimento branco na face inferior das lesões, constituído por esporângios e esporangióforos do agente causal. Em campo aberto ou sistemas hidropônicos a doença pode reduzir de forma significativa a área foliar das plantas, comprometendo seriamente o rendimento e a qualidade da produção.

Manejo

Entre as medidas recomendadas para o manejo do míldio destacam-se:

• Plantio de mudas sadias.

• Evitar o plantio e a produção de mudas em áreas sujeitas ao acúmulo de umidade e circulação ar limitada.

• Plantio de cultivares tolerantes ou resistentes.
Considerando o alto poder destrutivo da doença no inverno e na primavera, a adoção de cultivares com níveis de resistência é importante para viabilizar a produção nessas épocas. Entre as cultivares resistentes e ou tolerantes ao míldio, disponíveis no mercado brasileiro destacam-se:

  • Grupo Americana - Raider Plus, Mayumi, Maysah, Madras, Silvana, Rubette, Laís. Kazan, Callore, Pedrola, Ludmila, Rafaela, Bruma, Escarcha, Icebela.
  • Grupo Crespa - Gizele, Malice, Inaiá, Bruna, Lirice, Paola, Melissa, Locarno, Querido, Caipira, Valentina, MultiBlond, MultiGreen, Batuka, Bataille, Naide, Isadora, Excite, Jonction, Jade, Loreane, Filó, Brida.
  • Grupo Roxa - Scarlet, Red Star, Pira Roxa, Gourmandine, Bocado, Grenadine, Belíssima, Maíra, Redflax, Rosabela, Mirela, Carmin, Milamil, Bellagon, Carmoli, Barlach.
  • Grupo Mimosa - Imperial, Imperial Roxa, Querido, Angélica.
  • Grupo Batávia - Joaquina, Cacimba.
  • Grupo Frisées - Atalaia, Itaúna, Desirade.
  • Grupo Romana - Romana Bonnie, Astorga (mini), Tendita, Salvius.
  • Grupo Lisa - Ofélia, Luara, Letícia, Marcela, Inês, Melissa, Larissa, Natalia, Fortaleza.
  • Grupo Multifolhas - Multiblond, Multigreen, RedFlash, Cousteau.

Fonte: Catálogos de empresas de sementes. Consulta: Agosto 2020.

• Em períodos críticos a doença reduzir as regas e evitá-las nos finais de tarde. O uso de irrigação localizada pode reduzir a doença por reduzir a sua disseminação e evitar o acúmulo de água livre na superfície das folhas.

• Evitar o plantio adensado, principalmente em épocas favoráveis à doença, visa principalmente aumentar a circulação de ar entre as plantas evitando assim a formação de microclima favorável a doença.

• Adubação equilibrada.
Evitar excesso de adubação nitrogenada, uma vez que tecidos tenros favorecem a infecção. Níveis adequados de fósforo, cálcio, potássio e silício podem reduzir a doença. Registrados como fertilizantes os fosfitos apresentam propriedades sistêmicas e caracterizam-se por estimular o crescimento das plantas, por possuírem ação fungicida sobre oomicetos e estimular a produção de fitoalexinas (compostos produzidos pela planta capazes de reduzir ou inibir a infecção).

• Manejo correto das plantas invasoras. Em áreas infestadas a dispersão da umidade é mais lenta o que pode favorecer a doença.

• Em ambiente protegido e cultivo hidropônico promover circulação de ar através do manejo correto das cortinas e uso de ventiladores com o objetivo de dissipar a umidade.

• Eliminar e destruir plantas remanescentes e descartes de pós-colheita.

• Aplicação de preventiva de fungicidas registrados.
Em áreas com histórico da doença o uso de fungicidas deve ser preventivo e realizado dentro de programas de produção integrada. O produtor deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose, volume, intervalo e número de aplicações, uso de equipamento de proteção individual (EPI), intervalo de segurança, armazenamento de produtos, descarte de embalagens etc. Para evitar a ocorrência de resistência de B. lactucae a fungicidas recomenda-se que fungicidas específicos sejam utilizados de forma alternada ou formulados com produtos de contato; que se evite o uso repetitivo de produtos com o mesmo mecanismo de ação; e que não se façam aplicações curativas em situações de alta pressão de doença. Entre os ingredientes ativos registrados para o controle do míldio da alface no Brasil destacam-se os produtos à base de mandipropamida, fenamidona, dimetomorfe, fluopicolide, propamocarbe, bentiavalicarbe e ciazofamida (http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons)

Referência consultada

KOIKE, S.T.; GLADDERS, P.; PAULUS, A.O. Vegetable Diseases: a colour handbook. St. Paul: APS. 2007. 448 p.

KRAUSE SAKATE, R. et al. (Ed.) Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 5. ed. São Paulo: Agronômica Ceres 2: 2016, p.33-40.

LOPES, C.A.; QUEZADO-DUVAL, A.M.; REIS, A. Doenças da alface. Brasília: Embrapa Hortaliças. 2010. 68p.

TOFOLI, J.G.; DOMINGUES, R.J. Manejo e métodos de controle de doenças fúngicas da alface. PROSAF. Instituto Biológico. http://www.biologico.sp.gov.br/uploads/files/pdf/prosaf/apostilas/doencas_alface.pdf

TÖFOLI, J.G.; DOMINGUES, R.J. Doenças causadas por fungos. Aspectos Fitossanitários da Cultura da Alface. Boletim Técnico - Instituto Biológico, nº 29, p. 28-26, 2017.


 
Publicado em: 14/08/2020
Atualizado em: 14/02/2023
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