Sábado, 20 de Abril de 2024
Antracnose (Colletotrichum guaranicola )

Hospedeiro: Guaranazeiro (Paullinia cupana HBK var.sorbilis (Martius) Ducke.

Agente causal: Colletotrichum guaranicola Albuq.

Etiologia: Colletotrichum guaranicola foi identificado em 1959 em guaranazeiros no município de Maués, estado do Amazonas (Albuquerque, 1960). O patógeno produz esporos em acérvulos subepidérmicos desprovidos de setas, medindo de 75 µm a 83 µm de diâmetro, a partir do qual emergem conidióforos curtos, simples, hialinos, asseptados medindo 14 µm - 20 µm x 4µm– 6 µm com extremidade afilada onde há uma cicatriz na região de inserção do esporo. Os conídios apresentam formato irregular tendendo para cilíndrico, medindo 12 µm - 20 µm x 4µm - 6µm. Ao germinar, os conídios podem apresentar um septo transversal na região central e emitir dois tubos germinativos, um em cada extremidade. Quando o tubo germinativo entra em contato com a superfície da folha, formam apressórios ovoides, escuros, medindo 4µm - 8 µm x 4µm - 6µm. É um patógeno hemibiotrófico que infecta as folhas jovens de forma direta, após curto período de biotrofia, coloniza os tecidos da folha de forma intra e intercelular, resultando nos sintomas iniciais que podem ser visíveis 48 horas após a infecção em clones suscetíveis de guaranazeiro. Tem ampla variabilidade genética entre isolados, comum em espécies deste gênero, levando em consideração que a antracnose é uma doença endêmica em áreas de cultivo de guaranazeiro no Amazonas, onde múltiplas infecções ocorrem constantemente resultando em alta taxa de reprodução do patógeno, o que favorece a ocorrência de variantes dentro da espécie . O patógeno sobrevive nos restos da cultura, como folhas doentes caídas no solo, e em plantas invasoras, como hospedeiras alternativas e em plantas usadas para cobertura de solo, como Calopogonium mucunoides, Crotalaria striata, Mucuna aterrimae, Pueraria phaseoloides que podem servir de fonte de inóculo do C. guaranicola. A disseminação do patógeno é maior em períodos chuvosos. Sob condições de alta umidade, os acérvulos exsudam massas de coloração creme nas lesões de folíolos jovens, constituídas de conídios que são disseminados através de respingos de chuva e ventos. Mudas doentes constituem a principal forma de disseminação do patógeno para longas distâncias.

Sintomas: As infecções iniciam a partir de conídios. O patógeno infecta folíolos jovens, pecíolos e hastes tenras. Os sintomas, tradicionalmente associados à doença, ocorrem em folíolos jovens, causando lesões necróticas, escuras que coalescem provocando a seca total do folíolo ou de extensas áreas, com subsequente morte prematura e queda destes. Em folhas maduras, ocorrem lesões necróticas de coloração marrom-escura e contornos definidos. Os sintomas da antracnose do guaranazeiro, dependendo da cultivar, variações edafoclimáticas e idade dos tecidos afetados, podem se expressar sob diferentes tipos. Araújo et al. (2005) descreveram os seguintes sintomas: 1) lesões de coloração marrom circundadas por halo amarelo conspícuo; 2) lesões do tipo mancha zonada sem halo; 3) manchas necróticas, irregulares, marrom-claras com ausência de halo; 4) manchas irregulares castanho avermelhadas. Para todos os sintomas acima mencionados foram utilizados procedimentos de laboratório, que confirmaram o C. guaranicola como único agente etiológico. Tais sintomas, portanto, são representativos de agressões típicas induzidas por C. guaranicola, cuja variação no aspecto pode ocorrer no estádio fenológico em que se dá a infecção, ou mesmo em virtude da resposta clonal. Importância econômica: a doença mais importante e destrutiva do guaranazeiro, é um dos fatores responsáveis pela baixa produtividade e decadência de guaranazais e pode causar redução de até 80% na produtividade de clones suscetíveis ou em plantios com baixo nível de adoção de tecnologias.

Ocorrência: o patógeno ocorre na Amazônia.

Manejo da doença: Diante da importância e da agressividade da antracnose, são necessárias medidas que abranjam um espectro variado de princípios de controle, aliando medidas preventivas e protetoras, de modo a não onerar custos, visando a garantir a viabilidade da cultura, principalmente aos pequenos produtores. O plantio de cultivares resistentes e produtivas é a medida mais eficiente para o controle da doença. As cultivares BRS CG 612, BRS CG 648, BRS CG 882, BRS Amazonas, BRS Andirá, BRS Cereçaporanga, BRS Luzéia, BRS Maués, BRS Mundurucânia, BRS Onhiamuçabê e BRS Saterê apresentam alta resistência à antracnose.
A poda fitossanitária é outra estratégia a ser utilizada após o período de colheita dos frutos. Realizar poda de limpeza logo após a colheita, eliminando-se galhos secos e remanescentes de inflorescências e cachos. Em plantios afetados pela doença localizados nos municípios de maior incidência e severidade da antracnose, como Itacoatiara, Maués, Boa Vista do Ramos, Nova Olinda e Urucará, promover uma poda fitossanitária no período de 15 de abril a 15 de maio, com a redução de 50% do volume da copa, através da remoção de 50% do comprimento dos ramos, com a retirada obrigatória das folhas recém-lançadas do plantio, infectadas ou não. Após a poda, prover uma adequada adubação para garantir a recuperação das plantas.

Referência consultada

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NASCIMENTO FILHO, F.J. et al. BRS Saterê: nova cultivar para o agronegócio do guaraná no Estado do Amazonas. Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental,2009. 2p. (Embrapa Amazônia Ocidental. Comunicado Técnico, 82).
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Autor: Luadir Gasparotto, Embrapa Amazônia Ocidental
E-mail
: luadir.gasparotto@embrap.br

 
Publicado em: 19/10/2016
Atualizado em: 19/10/2016
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