Hospedeiro principal: Citrus sinensis L. Osbeck (laranja doce), Rutaceae
Agente causal: Citrus leprosis virus C (CiLV-C), gênero Cilevirus
Etiologia: A enfermidade, conhecida como leprose dos citros, lepra explosiva, scaly bark, leprose, leprosis, é causada pelo Citrus leprosis virus C (CiLV-C). Esse vírus é o membro tipo do gênero Cilevirus, tem partículas baciliformes não envelopadas de 120–130 X 50–55 nm, infecta naturalmente várias espécies de laranja doce e tangerinas, entre elas C. reticulata, C. reshni, C. deliciosa, C. lycopersiciformis, C. unshiu, C. depressa, com diferentes níveis de resistência ao vírus, além de gêneros próximos, como Swinglea glutinosa e plantas da vegetação espontânea como Commelina benghalensis (trapoeraba).
O vírus é transmitido na natureza de modo circulativo por ácaros do gênero Brevipalpus (Acari:Tenuipalpidae), B. yothersi (sin. B. phoenicis) e B. obovatus, nos estádios de larvas, ninfas e adultos. Experimentalmente, pode ser transmitido pelo ácaro vetor para pelo menos 40 espécies vegetais de 18 famílias botânicas, e por enxertia e inoculação mecânica, para diferentes espécies de Rutaceae, Amaranthaceae e Tetragoniaceae.
Sintomas: O vírus não invade seus hospedeiros sistemicamente e, portanto, induz ao aparecimento de lesões localizadas próximas às áreas de alimentação do ácaro vetor. As lesões típicas são circulares, cloróticas e/ou necróticas, com tamanho entre 5 a 12 mm e coloração de amarelo brilhante a marrom escuro. Geralmente, têm um ponto necrótico central, circundado por um halo clorótico; podem fundir-se e formar anéis concêntricos. Nos ramos jovens as lesões são cloróticas, e se tornam necróticas e salientes nos ramos mais velhos. Ao fundir-se dão ao ramo um aspecto rugoso. Nos frutos as lesões podem ser cloróticas e/ou necróticas, causando mudança da coloração dos mesmos e servindo de abrigo do ácaro vetor.
Importância: Entre as viroses que ocorrem nos citros, a leprose tem uma elevada importância econômica, uma vez que os gastos com acaricidas para seu controle podem atingir cifras acima de US$ 80 milhões por ano. A incidência da doença nos pomares paulistas é alta, existindo grande abundância de inóculo com consequente potencial de dano, pois, na ausência do controle do vetor, a leprose pode ocasionar perdas até de 100% da produção, dependendo da suscetibilidade da variedade. Por outro lado, a utilização de acaricidas em larga escala ocasiona a seleção de populações de ácaros resistentes aos agrotóxicos e gera problemas de natureza econômica e ecológica.
Ocorrência: O CiLV-C é encontrado em países da América do Sul à América do Norte. Além do Brasil, foi descrita na Costa Rica, Panamá, Guatemala, Paraguai, Argentina, Bolívia, Venezuela, Colômbia, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Belize e México.
No Brasil ela está presente em todas as regiões em que os citros são cultivados, com maior relevância no estado de São Paulo. A doença já foi identificada no Distrito Federal e em todos os estados brasileiros, com exceção de Rondônia, Amapá, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas.
Há outros vírus associados a sintomas de leprose dos citros em países como Colômbia e México, além do estado do Havaí, nos EUA, mas esses vírus não ocorrem no Brasil.
Manejo: A constante presença do vetor e do vírus nos pomares dos estados produtores de citros no Brasil faz com que seja necessário um rigoroso controle das populações do ácaro pelo uso de acaricidas, que são a principal forma de controle da doença no país. Os ácaros predadores pertencentes principalmente à família Phytoseiidae, mais frequentemente encontrados em citros no Brasil, são considerados os inimigos naturais mais eficientes dos Brevipalpus spp.
Também podem ser usadas variedades resistentes de citros, fungos entomopatogênicos e práticas culturais, tais como o uso de quebra ventos ou cercas-vivas, com a ressalva de que algumas delas podem ser hospedeiras alternativas do ácaro e do vírus. O mesmo ocorre para espécies da vegetação espontânea, cujo papel na epidemiologia da doença deve ser mais bem estudado.
Também se pode usar a desinfecção das ferramentas e o controle de máquinas e equipamentos visando diminuir a incidência e a severidade da doença. .
Referência consultada
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Autores: Addolorata Colariccio, Instituto Biológico ; Juliana Freitas-Astúa, EMBRAPA Mandioca e Fruticultura
Email: addolorata.colariccio@sp.gov.br