Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024
PRSV-P (Papaya ringspot virus - estirpe mamoeiro )

Hospedeiro: Carica papaya (Caricaceae), mamoeiro.

Agente causal: Papaya ringspot virus – estirpe mamoeiro (papaya strain ou “P type” - PRSV-P).

Etiologia: O PRSV, pertencente ao gênero Potyvirus, família Potyviridae, possui partículas alongadas flexuosas, com cerca de 720 nm de comprimento e genoma constituído por um RNA de fita simples com aproximadamente 10.000 nucleotídeos. O PRSV-P infecta plantas da família Caricaceae (mamoeiro), Cucurbitaceae (abóboras, abobrinhas, melancia, entre outras) e Amaranthaceae (Chenopodium amaranticolor e C. quinoa – espécies empregadas em testes de inoculação experimental do vírus). Porém, vale lembrar que há uma estirpe de PRSV que infecta somente plantas das famílias Cucurbitaceae e Amaranthaceae, denominada estirpe melancia, PRSV-W (watermelon strain ou “W type”).

Sintomas: Anéis (ou manchas anelares) concêntricos nos frutos são considerados os sintomas típicos da doença, que inclusive originaram o nome da espécie: “vírus da mancha anelar do mamoeiro” (Papaya ringspot virus). Além das manchas anelares nos frutos, o vírus pode induzir amarelecimento (clorose), mosaico, bolhas e deformação foliar, além de anéis nas folhas e no caule e manchas oleosas irregulares nos pecíolos, no caule e no tronco. Alguns sintomas induzidos pelo PRSV-P em mamoeiro podem ser observados nas Figuras 1 a 6. As deformações das folhas podem resultar em afilamentos extremos sintomas conhecidos por “cordão-de-sapato”, em inglês shoestring-like symptoms). As infecções precoces invariavelmente levam a reduções drásticas no desenvolvimento das plantas (nanismo), que terão a produção dos frutos comprometida, ou produzirão somente frutos pequenos, inadequados para a comercialização.

Importância: O mosaico ou mancha anelar do mamoeiro, induzida pelo PRSV-P, é a doença mais importante que acomete os pomares de mamoeiro, principalmente ‘papaya’. Após a implantação do pomar, a incidência do vírus pode chegar a 100% em menos de seis meses. Isso devido à transmissão (não persistente) e eficiente disseminação realizada por diferentes espécies de afídeos (pulgões). Caso não sejam tomadas medidas adequadas de manejo e controle, essa virose pode ser o principal fator limitante para o cultivo do mamão.

Ocorrência: O vírus é encontrado em praticamente todas as regiões produtoras, tropicais e subtropicais, em que o mamão é cultivado: América do Sul, América Central (incluindo Ilhas do Caribe), América do Norte (Havaí), Ásia e Oceania. No Brasil, o PRSV-P ocorre em todo o território nacional e é facilmente encontrado em mamoeiros que crescem em fundo de quintal.

Manejo: No campo, o PRSV-P é transmitido por afídeos de modo não-persistente, por meio das picadas de prova (característica do comportamento alimentar desses insetos). Para que a transmissão ocorra, os afídeos não necessitam colonizar as plantas de mamoeiro, dificultando o controle da virose por meio do uso de inseticidas direcionados aos vetores, o que definitivamente não é recomendado para o controle desse vírus no campo.
Não há variedades comerciais de mamoeiro resistentes ao PRSV-P. Entretanto, no Havaí, e em alguns outros poucos países como a China, variedades transgênicas (‘Rainbow’ e ‘SunUp’) resistentes ao vírus tem sido o principal método para o controle do PRSV-P, e vem sendo empregadas com sucesso há décadas.
No Brasil, o vírus tem sido controlado, em algumas regiões produtoras, por meio de “Programas de Erradicação” de plantas infectadas (rouging) ainda no início da infecção. Isso é feito por profissionais especializados devidamente capacitados, conhecidos como “pragueiros” ou “mosaiqueiros”, que conseguem identificar visualmente os sintomas da virose. No Estado de São Paulo, devido ao status endêmico do PRSW-P, o cultivo de mamoeiro não é recomendado. Quando há dúvidas no reconhecimento dos sintomas, ou quando ocorrem sintomas não convencionais, amostras são enviadas para testes sorológicos ou moleculares para a confirmação. O rouging sistemático tem permitido o convívio com a virose, principalmente em pomares localizados em áreas produtoras no Sul da Bahia e Norte do Espírito Santo.
Além do rouging, alternativas de controle desta virose são recomendadas: (i) evitar a instalação de viveiros e pomares novos próximos às áreas com cultivos de mamoeiro, principalmente de pomares velhos; (ii) nos pomares, evitar a presença de cucurbitáceas, hospedeiras alternativas do vírus; (iii) procurar manter o pomar limpo, com controle efetivo de plantas daninhas, hospedeiras alternativas dos afídeos – isso não significa que as entrelinhas do pomar devam ficar com solo totalmente desprotegido, sendo recomendado a manutenção de capim roçado baixo ou grama baixa; (iv) eliminação de pomares velhos ou abandonados.

Referência consultada

GONSALVES, D. Control of papaya ringspot virus in papaya: A case study. Annual Review of Phytopathology, v.36, p.415-437, 1998.

GONSALVES, D. et al. Papaya ringspot virus (Potyviridae). In: Mahy, B.W.J., Van Regenmortel, M.H.V. (Eds.), Encyclopedia of Virology, Vol. 4. Oxford, UK: Elsevier. p.1-8, 2008.

HULL, R. Plant Virology, Fifth Edition. London, UK: Elsevier, Academic Press. 1104 p. 2014.

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TRIPATHI, S. et al. Papaya ringspot virus-P: characteristics, pathogenicity, sequence variability and control. Molecular Plant Pathology, v. 9, p. 269-280, 2008.

VENTURA, J.A., COSTA, H., TATAGIBA, J.S. Manejo das doenças do mamoeiro. In: Martins, D.S.; Costa, A.F.S. (Eds.) A Cultura do Mamoeiro: Tecnologias de Produção. Vitória, ES: INCAPER. p.231-308. 2003.

Autores: Marcelo Eiras, Alexandre L. R. Chaves, CPSV, Instituto Biológico
E-mail: marcelo.eiras@sp.gov.br

 
Publicado em: 27/06/2017
Atualizado em: 27/06/2017
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