Praga: Cerataphis brasiliensis (Hempel, 1901)
(Hemiptera: Sternorryncha: Aphididae: Hormaphidinae: Cerataphidini).
Nome popular: Pulgão-das-palmeiras
O plantio de espécies ornamentais no Brasil é bastante representativo, totalizando em vendas
de flores e plantas ornamentais a quantia anual bruta de aproximadamente 8,1 bilhões de reais em
2018, chegando a ser considerada uma das atividades mais lucrativas do segmento agrícola. Dentre
as inúmeras espécies ornamentais cultivadas no Brasil, as espécies da família Arecaceae (=Palmae)
ocupam posição de destaque pelo alto valor econômico e potencial ornamental. Palmeiras são
amplamente empregadas pelo homem na alimentação, medicina tradicional, paisagismo e têm
importante papel ecológico como produtoras na cadeia trófica. São conhecidas aproximadamente 4
mil espécies, distribuídas em mais de 200 gêneros; a maioria apresenta distribuição tropical.
Dada a importância desse grupo, maior atenção vem sendo dispensada no cuidado das palmeiras,
uma vez que inúmeras pragas podem comprometer seu desenvolvimento, produção e/ou aspecto
estético.
Os afídeos são organismos de biologia complexa, podendo dada espécie apresentar ou não
alternância de hospedeiros, sendo esta última obrigatória ou facultativa, alternância entre geração
sexuada e partenogenéticas, formas aladas e ápteras e oviparidade e viviparidade; podem
apresentar várias gerações em um ano, com cada fêmea produzindo de cinquenta a cem novos
indivíduos durante sua vida sendo que, cada novo indivíduo pode reproduzir-se dentro de seis a oito
dias. Essa forma de reprodução pode favorecer a ocorrência de grandes populações em curto prazo
de tempo com um enorme potencial de dano sobre a cultura atacada.
Apesar da semelhança visual, a espécie Cerataphis brasiliensis popularmente denominado “pulgão-
das-palmeiras”, não é uma cochonilha como equivocadamente possa parecer, pois não apresenta a
fase séssil comum às cochonilhas além de características morfológicas e comportamentais distintas.
C. brasiliensis (Figs. 01, 02, 03), juntamente com Cerataphis lataniae (Boisduval) são as únicas
duas espécies de afídeo que infestam palmáceas. C. brasiliensis apresenta forma circular, achatada
dorso-ventralmente, de coloração marrom-escura, verde-escura a preta, com tamanho entre 1,5 e 2
mm de diâmetro; possui uma franja cerosa de coloração branca contornando todo o corpo. A
espécie exibe ampla distribuição mundial em zonas tropicais e subtropicais; no Brasil, sua área de
abrangência estende-se de norte a sul do país, com maior ocorrência nas regiões norte, nordeste,
sudeste e sul. A espécie a despeito de seu epíteto “brasiliensis” é originária do sudeste asiático.
De
ocorrência tanto em ambiente externo, como em estufas, C. brasiliensis foi disseminada
internacionalmente através do comércio de espécies ornamentais a partir do início do século XX e
pode ser considerada uma das mais comuns pragas de palmáceas ornamentais apesar de infestar
também espécies de interesse industrial.
Hospedeiros: dentre os principais gêneros e espécies de palmeiras suscetíveis ao ataque de C. brasiliensis estão: Euterpe edulis, Euterpe oleracea, Bactris gasipaes, Elaeis guineensis, Archonthophoenix alexandrae, Cocos nucifera, Attalea speciosa, Acrocomia aculeata, Roystonea spp., Dypsis madagascariensis, Dypsis decaryi, Dypsis lutescens, Phoenix canariensis, Phoenix dactylifera, Veitchia sp., Bismarckia nobilis, Butia sp.,Astrocaryum sp., Rhaphia sp., Syagrus spp
Danos: comprometimento (abortamento) da floração e frutificação, clorose e queda antecipada das
folhas, estagnação do crescimento, redução da produtividade, danos de caráter limitante
(depauperamento e/ou morte das plantas) e/ou estético (deformação e depreciação do valor
agregado), possibilidade de transmissão de agentes fitopatogênicos, redução da taxa fotossintética
e da respiração vegetal devido ao desenvolvimento da fumagina. O aspecto melado decorrente do
depósito de excretas (melada ou honeydew) (Figs 04 e 05) dos pulgões sobre as folhas e o
consequente enegrecimento (fumagina) destas superfícies após a colonização por fungos saprófitos
do gênero Capnodium, são comumente observados após infestações da praga. A dispersão de C.
brasiliensis de plantas infestadas para não infestadas é eficientemente realizada por diversas
espécies de formigas (Figs 06 e 07) (Camponotus spp., Nylanderia fulva, Paratrechina longicornis,
Solenopsis sp., dentre outras) que se beneficiam pela ingestão das excretas ricas em carboidratos
liberadas pelos pulgões.
C. brasiliensis possui preferência por palmeiras jovens, se concentrando principalmente na face
abaxial dos folíolos das folhas mais novas (“flechas” ou ponteiros) evitando a incidência direta da
radiação solar e de chuvas.
Também é encontrada na região do cone vegetativo e em regiões novas do estipe, em bainhas
foliares, inflorescências e frutos. O grau de infestação pode atingir níveis críticos como 1 a 3 afídeos
/ cm2 na região da “flecha” com amarelecimento da área infestada., pode também ser vetor de
vírus a essas plantas.
Controle: apesar da não existência de produtos registrados para o controle da praga, diversos
inseticidas de efeito levemente sistêmico, tais como o Thiamethoxan e Imidacloprido são eficientes.
Alguns produtos naturais na forma de óleos (cítricos) e extratos aquosos (alho, cravo da índia)
possuem eficiência entre 80 a 100% e podem ser usados com danos mínimos ao meio ambiente e à
saúde.
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Autor: Francisco José Zorzenon, Instituto Biológico
E-mail: francisco.zorzenon@sp.gov.br