Quinta-Feira, 25 de Abril de 2024
ToYVSV (Tomato yellow vein streak virus )

Tomato yellow vein streak virus (ToYVSV) em tomateiro

Hospedeiro: Solanum lycopersicum (tomateiro), Solanaceae.

Agente causal: Tomato yellow vein streak virus (ToYVSV)

Etiologia: Tomato yellow vein streak virus, de acordo com o Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (International Committee on Taxonomy of Viruses, ICTV – https://talk.ictvonline.org/taxonomy/), é uma espécie pertencente ao gênero Begomovirus, família Geminiviridae, Ordem Geplafuvirales, Classe Repensiviricetes, Filo Cressdnaviricota, Reino Shotokuvirae, Domínio Monodnaviria.

Geminiviridae é uma das maiores famílias de vírus de plantas de importância econômica (denominados “geminivírus”), que atualmente abriga nove gêneros (Begomovirus, Mastrevirus, Curtovirus, Topocuvirus, Becurtovirus, Turncurtovirus, Capulavirus, Eragrovirus, Grablovirus), com distintas organizações genômicas, gama de hospedeiros e insetos vetores. Os membros pertencentes à esta família possuem genoma constituído por uma ou duas moléculas de DNA circular de fita simples (ssDNA), que são encapsidadas em partículas icosaédricas geminadas (característica que dá nome à família) com tamanho de 20 a 30 nm. O gênero Begomovirus engloba, até o momento, 424 espécies de vírus, incluindo o Tomato yellow vein streak virus (https://talk.ictvonline.org/taxonomy/). A maioria desses vírus, assim como o tomato yellow vein streak virus (ToYVSV), possui genoma bipartido (DNA-A e DNA-B). Os componentes genômicos (DNA-A e DNA-B) do ToYVSV têm cerca de 2,5 kb, e a replicação ocorre no núcleo das células hospedeiras. O componente A codifica cinco proteínas: a proteína da capa (CP/AV1), a proteína associada à replicação do genoma viral (Rep/AC1), uma proteína transativadora de transcrição dos genes virais (TrAP/AL2), um intensificador de replicação (REn/AC3), e uma proteína, provavelmente, associada aos mecanismos de supressão de silenciamento (AC4/AL4). O componente B codifica duas proteínas, NSP/BV1 e MP/BC1, envolvidas, respectivamente, no movimento intracelular (do núcleo para o citoplasma) e intercelular (célula a célula e via floema) do vírus.

As moscas-brancas (Bemisia tabaci - Homoptera: Aleyrodidae) são os insetos vetores dos begomovírus, incluindo o ToYVSV. A transmissão é do tipo persistente circulativa não propagativa, ou seja, os insetos, ao se alimentarem nos vasos do floema da planta hospedeira, adquirem as partículas virais, que circulam, mas não se replicam no interior do corpo do vetor. O período de latência (tempo em que o inseto, após aquisição do vírus, é capaz de transmiti-lo) do ToYVSV em adultos do biótipo B de Bemisia tabaci (atualmente denominado MEAM1, Middle-East-Asia Minor 1) é de 16 horas, e o período de retenção (tempo em que o inseto, após a aquisição, permanece virulífero, ou seja, continua sendo capaz de transmitir o vírus) é de 20 dias. O vírus, embora circule no corpo do inseto, não passa para a prole das moscas-brancas.

Sintomas: Os sintomas induzidos pelo tomato yellow vein streak virus (ToYVSV) incluem:
(i) riscas amarelas acompanhando as nervuras das folhas (em inglês: yellow vein streak), que podem evoluir para um amarelecimento das folhas;
(ii) clorose que inicia na base dos folíolos e que pode evoluir para um mosaico amarelo;
(iii) redução do tamanho e distorção das folhas;
(iv) afilamento do ápice da planta;
(v) redução da floração;
(vi) redução ou até mesmo a paralização do crescimento, que leva a um subdesenvolvimento da planta (nanismo) e consequente quebra da produção, principalmente quando a infecção ocorre nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta.

Importância: As geminiviroses estão entre as principais doenças que afetam a tomaticultura brasileira, principalmente devido à elevada eficiência de transmissão dos begomovírus por Bemisia tabaci MEAM1 (biótipo B), o que tem resultado em importantes epidemias. Esses insetos alimentam-se de várias espécies de plantas, incluindo o tomateiro, e possuem uma enorme capacidade reprodutiva, formando grandes colônias, o que facilita a transmissão e disseminação dos begomovírus. Essas características, aliadas à dificuldade de controle desses insetos, fazem com que B. tabaci MEAM1 seja considerado um “super vetor”! Este fato, juntamente com a grande variabilidade genética dos begomovírus, permitiu a explosão de novas espécies desses vírus em diferentes regiões produtoras de tomateiro no Brasil. Além do ToYVSV, até o presente momento, outras quatorze (14) espécies de begomovírus foram descritas infectando tomateiro em diversos estados brasileiros. Dependendo do estádio de desenvolvimento da cultura, a infecção pelo ToYVSV em tomateiro pode causar perdas de 50 a 100% da produção. Além disso, vale destacar que o ToYVSV também infecta pimentão (Capsicum annuum) e batata (Solanum tuberosum), sendo que tomateiros infectados podem servir de fonte de inóculo para essas culturas.

Ocorrência: O ToYVSV tem sua ocorrência restrita ao Brasil e Uruguai. No Brasil, foi descrito inicialmente no Estado de São Paulo, onde foi prevalente em cultivos de tomateiro de meados da década de 1990 a meados dos anos 2000. O ToYVSV também já foi descrito em tomateiros nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Goiás e Distrito Federal.

Manejo e controle: O controle do ToYVSV, assim como dos demais begomovírus que infectam tomateiros, é bastante difícil, devido à grande diversidade de espécies de plantas que as moscas-brancas (B. tabaci MEAM1) colonizam, além da capacidade em adquirir resistência aos inseticidas e à formação de grandes colônias, que fazem com que as populações desses “super vetores” atinjam níveis alarmantes. Portanto, o manejo e controle das begomoviroses em tomateiro requerem estratégias múltiplas, tanto visando às plantas (tomateiro e plantas hospedeiras alternativas) como aos insetos vetores, e devem envolver os princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Seguem dez medidas que podem ser recomendadas para o manejo e controle do ToYVSV em tomateiro:
(i) emprego de variedades resistentes/tolerantes – no Brasil, há cultivares (e híbridos) comerciais com um nível de resistência moderado aos begomovírus;
(ii) controle da vegetação espontânea e de tomateiros velhos no campo, para evitar a multiplicação do vetor e a manutenção da fonte de inóculo, uma vez que o ToYVSV pode infectar erva-palha (Blainvillea rhomboidea, Asteraceae), joá-de-capote (Nicandra physaloides, Solanaceae) e guanxuma (Sida micrantha e S. rhombifolia, Malvaceae);
(iii) aplicação de herbicidas ou eliminação e queima do material vegetal indesejado;
(iv) adoção de um intervalo mínimo de 15 dias para o início do próximo ciclo de produção;
(v) iniciar cultivos novos nos períodos que coincidem com os níveis populacionais mais baixos das moscas-brancas;
(vi) realizar pulverizações com inseticidas específicos para o controle da mosca-branca, obedecendo os intervalos e período de carência recomendados;
(vii) proteger, no caso de cultivos em casas de vegetação, as aberturas com tela anti-insetos;
(viii) evitar o cultivo simultâneo de plantas ornamentais;
(ix) evitar que o cultivo de tomateiros seja próximo de cultivos de batata;
(x) iniciar, sempre que possível, os cultivos com plantas de sanidade comprovada.

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Autores: Marcelo Eiras, Alexandre Levi Rodrigues Chaves, Addolorata Colariccio, Lab. de Fitovirologia e Fisiopatologia, CPSV, Instituto Biológico
E-mail: marcelo.eiras@sp.gov.br

 
Publicado em: 13/05/2020
Atualizado em: 13/05/2020
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