Quinta-Feira, 25 de Abril de 2024
ToMoLCV (Tomato mottle leaf curl virus )

Hospedeiro: Solanum lycopersicum (tomateiro), Solanaceae.

Agente causal: Tomato mottle leaf curl virus (ToMoLCV)

Etiologia
De acordo com o International Committee on Taxonomy of Viruses (ICTV), desde 2019, os vírus passaram a ser classificados hierarquicamente em Domínios, Reinos, Filos, Classes, Ordens, Famílias, Gêneros e Espécies. A espécie Tomato mottle leaf curl virus pertence ao Domínio Monodnaviria, Reino Shotokuvirae, Filo Cressdnaviricota, Classe Repensiviricetes, Ordem Geplafuvirales, Família Geminiviridae.
Por sua vez, a família Geminiviridae é composta por nove gêneros: Begomovirus, Becurtovirus, Curtovirus, Capulavirus, Eragrovirus, Grablovirus, Mastrevirus, Topocuvirus e Turncurtovirus. Essa divisão dos gêneros é baseada nas características relacionadas a gama de hospedeiros, inseto vetor, organização genômica e relacionamento filogenético. Entre os nove gêneros descritos de Geminiviridae, Begomovirus se destaca por compreender o maior número de membros, com 424 espécies aceitas até o momento. Assim como os demais begomovírus, o tomato mottle leaf curl virus (ToMoLCV) é encapsidado por uma única proteína estrutural que confere à partícula uma estrutura icosaédrica geminada com cerca de 20 a 30 nm. Ao contrário dos demais begomovírus que infectam tomateiros no Brasil, que apresentam dois componentes genômicos (DNA-A e DNA-B), o genoma do ToMoLCV é monopartido, ou seja, é constituído por uma única molécula de DNA circular de fita simples (ssDNA). De acordo com a diversidade genética e distribuição geográfica, os begomovírus estão divididos em dois grupos denominados “Velho Mundo” (Europa, África, Ásia e Austrália) e “Novo Mundo” (Américas). Os begomovírus do "Velho Mundo" são constituídos por um ou dois componentes genômicos que, frequentemente, estão associados a moléculas de ssDNA satélites denominados alfassatélites (anteriormente DNA-1) e betassatélites (anteriormente DNA β).
A maioria dos begomovírus descritos no "Novo Mundo" apresenta dois componentes genômicos (DNA-A e DNA-B) associados a alfassatélites, sendo cada componente genômico encapsidado separadamente em cada uma das partículas geminadas. No caso dos begomovírus monopartidos, todas os genes encontram-se no DNA-A. Nos begomovírus bipartidos, o DNA-A contém os genes responsáveis pela replicação e encapsidação das partículas virais, enquanto o DNA-B possui os genes responsáveis pelo movimento intra e intercelular.
O Brasil é considerado o maior centro de origem de espécies de begomovírus e análises filogenéticas, realizadas com amostras de tomateiros infectados provenientes de diferentes regiões produtoras, revelaram que o ToMoLCV possui maior identidade com espécies de begomovírus brasileiros e da América Central. Porém, até o momento, o ToMoLCV foi relatado somente no Brasil e exclusivamente em tomateiros. A sua transmissão, assim como das demais espécies de begomovírus, é realizada de maneira persistente circulativa não propagativa por moscas-brancas (Bemisia tabaci, Homoptera: Aleyrodidae). No entanto, é importante destacar que a emergência de todas as espécies de begomovírus relatadas no Brasil, inclusive o ToMoLCV, ocorreu após a introdução da mosca-branca Middle East-Asia Minor 1 (MEAM1; conhecida como biótipo B) no início da década de 1990.
Quanto às interações vírus/vetor/hospedeiro, é importante mencionar que as associações existentes são propícias para a dispersão do vírus no campo. Os begomovírus infectam e replicam-se nas células do floema, mesmo sítio de alimentação das moscas-brancas. Por sua vez, as moscas-brancas (MEAM 1) são extremamente invasivas e polífagas, além de apresentar excelente capacidade de reprodução, dispersão e colonização de diversas espécies de plantas cultivadas e da vegetação espontânea. A aquisição das partículas virais ocorre quando as moscas-brancas (MEAM1) se alimentam durante minutos ou horas em uma hospedeira suscetível Após a aquisição, as partículas virais circularão no corpo do vetor e somente serão transmitidas após um período de no mínimo 16 horas (período de latência). Após o período de latência, as moscas-brancas estarão aptas para transmitir o vírus por um período de até 15 dias (período de retenção).

Sintomas: Os begomovírus causam sintomas variáveis dependendo da espécie viral, da planta hospedeira, da fase de desenvolvimento da planta quando a infecção se estabeleceu, da condição nutricional da planta e do estresse devido a fatores do ambiente (seca e temperaturas elevadas). Em tomateiros, o ToMoLCV pode induzir nas plantas suscetíveis sintomas foliares de clareamento das nervuras, clorose internerval, mosaico amarelo ou dourado, distorção e encarquilhamento. Pode induzir também uma drástica redução do desenvolvimento da planta (nanismo), com redução do número e do tamanho dos frutos e, consequentemente, quebra da produção.

Importância: O tomateiro (Solanum lycopersicum) é uma olerícola de grande importância socioeconômica em regiões tropicais e subtropicais. O ToMoLCV, assim como os demais begomovírus descritos em tomateiros estão entre os patógenos que mais afetam os cultivos de tomate, sendo limitantes em áreas produtoras. Em estudos da infecção de plantas de tomate por begomovírus, foi observada uma queda de rendimento de aproximadamente 60%, causada principalmente pela redução significativa do número médio de frutos por planta.

Ocorrência: Em áreas de cultivo de tomate, constatou-se que os begomovírus brasileiros apresentam uma certa separação biogeográfica, com diferentes espécies virais predominantes em diferentes regiões produtoras. Em levantamentos realizados em áreas de cultivo de tomate, no Nordeste do Brasil, principalmente nos estados da Bahia, Paraíba e Pernambuco, observou-se a ocorrência somente do ToMoLCV nas amostras analisadas. Curiosamente, mais de dez anos após esse levantamento, o ToMoLCV ainda parece ser o begomovírus prevalente nos cultivos de tomate do Nordeste. Porém, apesar do ToMoLCV não ser prevalente em outras regiões produtoras de tomate, a sua ocorrência já foi registrada no Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em 2017, por meio de análise moleculares e filogenéticas, o ToMoLCV foi identificado em tomateiros provenientes do Município de Santo Antônio da Posse, Estado de São Paulo.

Manejo e controle: Assim como preconizado para os demais begomovírus descritos em tomateiros, recomenda-se o controle preventivo de populações de moscas-brancas. Apesar do ToMoLCV ser somente relatado em tomateiros, recomenda-se a eliminação de espécies de plantas invasoras pois, devido à polifagia das moscas-brancas (MEAM1) estas podem estabelecer colônias em diversas espécies não cultivadas e propiciar a dispersão do vírus nos campos de produção. Além disso, existem evidências de que a maioria das espécies de begomovírus infectam plantas invasoras e possui alta capacidade de recombinação, fato que pode alterar com frequência a estrutura populacional de begomovírus em uma determinada região. No Brasil, um complexo viral composto por pelo menos oito espécies de begomovírus é responsável por graves perdas nas plantações de tomate e a recombinação é inevitável. Diante desse fato, é importante destacar que como todos os begomovírus brasileiros, o ToMoLCV também possui uma natureza recombinante. Como o ToMoLCV ocorre exclusivamente em tomateiros, evitar a permanência de plantas de tomate de ciclos anteriores próximas aos canteiros com mudas de tomate é uma medida profilática desejada para evitar a manutenção da pressão de inoculo do vírus no campo.

Referência consultada

CHAVES, A.L.R. et al. First report of Tomato mottle leaf curl virus infecting tomato in São Paulo State, Brazil. Summa Phytopathologica, v. 43, n. 4, p. 353, 2017.

COLARICCIO, A.; CHAVES, A. L.R.; EIRAS, M. Doenças do tomateiro causadas por vírus. In: PAPA, G.; FURIATTI, R.S.; SPADER, V. (Eds.) Boletim Técnico Tomate 3: Desafios Fitossanitários e Manejo Sustentável. Jaboticabal, SP, 2014. p. 183-207.

INOUE-NAGATA, A.K., LIMA, M.F., GILBERTSON, R.L. A review of geminivirus diseases in vegetables and other crops in Brazil: current status and approaches for management. Horticultura Brasileira, v. 34, n. 1, p. 8-18, 2016.

ROCHA, C.S. et al. Brazilian begomovirus populations are highly recombinant, rapidly evolving, and segregated based on geographical location. Journal of Virology, v. 87, n. 10, p. 5784–5799, 2013.

Autores: Alexandre Levi Rodrigues Chaves, Marcelo Eiras, Addolorata Colariccio, Lab. de Fitovirologia e Fisiopatologia (LFF), CPSV, Instituto Biológico
E-mail: alexandre.chaves@sp.gov.br

 
Publicado em: 13/05/2020
Atualizado em: 13/05/2020
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