Quarta-Feira, 8 de Maio de 2024
Míldio (Hyaloperonospora parasitica )

Cultura – Brássicas ( Brassica spp.)

Míldio (Hyaloperonospora parasitica (Pers. : Fr.) Constant.)

Hospedeiros: Repolho, couve-flor, rúcula, brócolis, couve-chinesa, agrião.

Etiologia
H. parasitica caracteriza-se por ser um microrganismo biotrófico pertencente ao Reino Chromista, Filo Oomycota, Classe Peronosporea, Ordem Peronosporales, Familia Peronosporaceae. Os esporângios são ovóides a elípticos (20 a 22 µm) sem a presença de papila, enquanto que os esporangióforos são agrupados, retos, longos e ramificados dicotomicamente. O patógeno pode produzir estruturas de resistência denominadas oósporos que podem perpetuá-lo no solo em condições desfavoráveis a doença.

Sintomas
O míldio das brássicas pode afetar seriamente a produção de mudas, reduzir a área foliar das plantas em desenvolvimento e reduzir a produção e qualidade de sementes.
Na produção de mudas a doença inicia-se nos cotilédones e folhas primárias, evoluindo em seguida para as folhas superiores. Nessa fase os sintomas são caracterizados inicialmente por manchas circulares, úmidas e cloróticas, que em seguida evoluem para lesões escuras e irregulares envoltas por halos amarelados que podem coalescer.
Nas folhas adultas os sintomas são caracterizados por lesões necróticas, angulares, envoltas ou não por um halo clorótico. Quando as condições climáticas são favoráveis a doença essas lesões podem apresentar frutificações branco-acinzentadas, do patógeno, na face inferior das mesmas.
Nas inflorescências o míldio manifesta-se na forma de lesões deprimidas, úmidas e escuras que podem inviabilizar a floração e a formação de sementes. Infecções sistêmicas podem atingir o sistema vascular das plantas tornando-as escuros.
A doença é favorecida por alta umidade (chuva fina, orvalho e névoa) e temperaturas na faixa de 12 a 20°C. Uma vez presente na área, na forma de oósporos ou associado a hospedeiros intermediários (plantas voluntárias ou invasoras suscetíveis), possui rápida disseminação pela ação de ventos e respingos de água provenientes de chuvas e irrigação. A presença de água livre na superfície das folhas é fundamental para que ocorra a germinação dos esporângios e a penetração do patógeno, dando início ao desenvolvimento de sintomas característicos da doença. As sementes e mudas infectadas são os principais agentes de disseminação da doença.
Além das brássicas cultivadas H. parasítica pode infectar plantas invasoras da mesma família como: agrião bravo (Cardamine spp.), mostarda (Brassica spp., Sinapis spp.), mastrus (Lepidium virginicum) e nabiça (Raphanus sativus L., Raphanus spp.).

Ocorrência
A doença é encontrada principalmente nas regiões produtora do centro-sul.

Manejo
O manejo de doenças fúngicas em brássicas deve ser baseado em programas multidisciplinares, que integrem diferentes estratégias de controle, com os objetivos de otimizar os resultados, reduzir os custos, promover a sustentabilidade da produção e promover a saudabilidade dos alimentos. Entre os fatores a serem considerados em programas de produção integrada destacam-se:

Local de plantio
Evitar o plantio em sujeitas ao acúmulo de umidade e circulação de ar deficiente. O plantio deve ser realizado preferencialmente em áreas planas, ventiladas e bem drenadas. Com o objetivo de evitar a disseminação de doenças deve-se evitar a instalação de novos cultivos próximos a áreas em final de ciclo.

Sementes e mudas sadias
O uso de sementes e mudas sadias é fundamental para a obtenção de cultivos com baixos níveis de doença e alto potencial produtivo. Além disso, é uma das medidas mais efetivas para evitar a entrada de doenças na propriedade. A introdução de patógenos de solo pode comprometer seriamente o cultivo de folhosas uma vez que podem sobreviver por longos períodos, mesmo na ausência de culturas hospedeiras.

Para o preparo de mudas é recomendado o uso de substrato, bandejas, bancadas e água de irrigação livres de patógenos e a adoção de práticas que evitem o acúmulo de umidade no ambiente de cultivo tais como: irrigação equilibrada e o favorecimento da circulação de ar no ambiente de estufas.

Cultivares
Sempre que possível o produtor deve optar por cultivares com algum nível de resistência à doença (Quadro 1, Figura 5). A suscetibilidade das cultivares pode variar em função das condições climáticas, genótipos do patógeno existente na área, pressão de doença, época de plantio, espaçamento adotado, nutrição das plantas, etc.

Rotação de culturas
Com o objetivo de reduzir o potencial de inóculo nas áreas de cultivo recomenda-se evitar o plantio sucessivo de brássicas no mesmo local. O intervalo mínimo entre plantios não deve ser inferior a 2 a 3 anos para doenças foliares como o míldio.

Espaçamento
Deve-se evitar plantios adensados por permitirem o acúmulo de umidade e favorecerem a má circulação de ar entre as plantas, fatores que criam um micro-clima favorável ao desenvolvimento de doenças.

Adubação equilibrada
O uso de adubação equilibrada baseada na análise de solo é fundamental para a obtenção de plantas vigorosas e mais resistentes a doenças. Níveis excessivos de nitrogênio podem favorecer o míldio, uma vez que favorecem o desenvolvimento de tecidos mais tenros e suscetíveis a doença. O excesso de nitrogênio pode ainda favorecer um desenvolvimento foliar excessivo aumentando o acumulo de umidade entre as plantas podendo favorecer o desenvolvimento da doença.
O uso do fosfito de potássio, como fonte de fósforo e potássio, pode reduzir a severidade do míldio no campo e na produção de mudas. Esse produto pode agir de forma direta, como fungicida e indireta, como indutor de resistência.
A incorporação de adubos verdes no solo promove o aumento da matéria orgânica e favorece o desenvolvimento de uma microflora benéfica que, ao competir por alimento e espaço, pode reduzir a população de patógenos no solo. Além disso, a decomposição dos adubos verdes libera dióxido de carbono que reduz a capacidade competitiva de vários fungos. Manejo correto das plantas invasoras Além de concorrerem por espaço, luz, água e nutrientes, as invasoras dificultam a dissipação da umidade e a circulação de ar na folhagem. Além disso, algumas dessas plantas podem ser hospedeiras intermediárias de vários patógenos.

Irrigação controlada
Evitar longos períodos de molhamento foliar e acúmulo de umidade no solo é essencial para o manejo do míldio em brássicas. Para tanto, deve-se: priorizar o uso de irrigação localizada, evitar irrigações noturnas ou em finais de tarde, assim como, minimizar o tempo ou reduzir a frequência das regas em períodos favoráveis. Além de reduzir a umidade na superfície foliar, a irrigação localizada evita que ocorra dispersão de inóculo por toda área cultivada.

Eliminar e destruir restos culturais, hospedeiros alternativos e plantas voluntárias
A prática visa principalmente eliminar possíveis fontes de inoculo através da sua eliminação e incorporação ao solo visando a rápida decomposição.

Fungicidas
O emprego de fungicidas registrados em brássicas pode ser feito através de tratamento de sementes e pulverizações nas fases de produção de mudas e cultivo no campo. O uso desses produtos deve ser realizado dentro de programas de produção integrada e deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose, volume, intervalo e número de aplicações, uso de equipamentos de proteção individual (EPI), intervalo de segurança e descarte seguro de embalagens.
A tecnologia de aplicação é fundamental para que os fungicidas alcancem a eficácia esperada. A aplicação inadequada pode comprometer e limitar a eficácia dos produtos. Desse modo, fatores como umidade relativa no momento da aplicação, tipo de bicos, volume de aplicação, pressão, altura da barra, velocidade, regulagem, calibração e manutenção dos equipamentos, devem ser considerados, com o objetivo de proporcionar a melhor cobertura possível da cultura.
Para evitar a ocorrência de resistência a fungicidas, os produtos com modo de ação específico devem ser utilizados de forma alternada ou formulados com produtos inespecíficos. O uso repetitivo de fungicidas específicos com o mesmo mecanismo de ação deve ser evitado no decorrer da mesma safra.

Os fungicidas registrados para o controle do míldio podem ser consultados no AGROFIT (http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons)

Medidas de higiene
A limpeza e a desinfestação de botas, ferramentas, equipamentos, implementos, rodas de tratores e veículos utilizados em áreas com histórico da doença podem limitar a sua disseminação. Os equipamentos e implementos devem passar por lavagem a alta pressão para evitar que o solo aderido seja transportado para áreas livres de doenças. Os reservatórios de água utilizados para irrigação não devem receber o escoamento de água de campos infestados. Quando não for possível, a água das regas deve ser retirada da superfície. Os esporos e estruturas de resistência do patógeno tendem a se depositar, portanto, deve-se evitar o uso de água barrenta retirada do fundo do reservatório.

Referência consultada

MARINGONI AC. SILVA JR., T.A.F. Doenças das Brássicas. In: AMORIM L; REZENDE JAM. BERGAMIN FILHO A; CAMARGO LEA; (EDS). Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 5. ed. São Paulo: Agronômica Ceres 2: 2016, p.315-324.

KOIKE, S.T.; GLADDERS, P.; PAULUS, A.O. Vegetable diseases: a colour handbook. St. Paul: APS, 2007. 448p.

TOFOLI, J.G.; DOMINGUES, R.J. Doenças fúngicas em brássicas. PROSAF. Instituto Biológico. http://www.biologico.sp.gov.br/uploads/files/pdf/prosaf/apostilas/doencas_fungicas_brassicas.pdf


Autores: Jesus G. Tofoli; Ricardo J Domingues; Josiane T. Ferrari, CPSV, Instituto Biológico
E-mail: jesus.tofoli@sp.gov.br

 
Publicado em: 08/06/2020
Atualizado em: 17/06/2020
Clique na imagem para ampliar
  Instituto Biológico
  Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 1252
  Vila Mariana - - CEP 04014-002- São Paulo - SP - Brasil
  (11) 5087-1700
                                                                                                         Número de visitas:
                                                                                                                   15.238