Sábado, 20 de Abril de 2024
ToRMV (Tomato rugose mosaic virus )

Hospedeiro: Solanum lycopersicum (tomateiro), Solanaceae.

Agente causal: Tomato rugose mosaic virus (ToRMV)

Etiologia: Tomato rugose mosaic virus é uma das 424 espécies pertencentes ao Gênero Begomovirus (Domínio Monodnaviria, Reino Shotokuvirae, Filo Cressdnaviricota, Classe Repensiviricetes, Ordem Geplafuvirales, Família Geminiviridae). Quanto à morfologia, o ToRMV é constituído de duas partículas icosaédricas geminadas com cerca de 20 a 30 nm e encapsidadas por uma única proteína estrutural. Como a maioria das espécies de begomovírus que infectam tomateiros no Brasil, o ToRMV possui genoma bipartido, ou seja, é constituído por duas moléculas de DNA circular de fita simples (ssDNA-A e ssDNA-B). O ssDNA-A contém os genes que codificam as proteínas responsáveis pela replicação e encapsidação das partículas virais, enquanto o ssDNA-B possui os genes que codificam as proteínas responsáveis pelo movimento intra e intercelular.

Atualmente, o Brasil é considerado o principal centro de origem de espécies de begomovírus que, filogeneticamente, apresentam alto grau de identidade com espécies de begomovírus do grupo denominado de "Novo Mundo" (Américas), sendo o ToRMV uma das espécies genuinamente brasileiras. A sua transmissão é realizada de maneira persistente circulativa não propagativa por moscas-brancas (Bemisia tabaci, Homoptera: Aleyrodidae). A espécie críptica de B. tabaci denominada Middle East Asia Minor I – MEAM1, também conhecida como biótipo B, é predominante no Brasil e foi introduzida no país no início da década de 1990. Porém, a espécie Mediterranean - MED (biótipo Q), detectada no Brasil em 2014, está se expandindo rapidamente. Em estudos recentes, demonstrou-se que MED é excelente vetora de diversos begomovírus que infectam solanáceas. Como todos os begomovírus, o ToRMV infecta e se replica nas células do floema, mesmo sítio de alimentação das moscas-brancas. Esses insetos são extremamente polífagos, e as interações vírus/vetor/hospedeiro são de extrema importância para o sucesso da dispersão do vírus em áreas cultivadas.

Sintomas: Em tomateiros, o ToRMV pode induzir sintomas foliares de amarelecimento das nervuras, clorose internerval, mosaico dourado e diminuição do tamanho dos folíolos, que apresentam distorção severa do limbo, que fica com aspecto rugoso (rugosidade), sintoma este que dá nome ao vírus. A planta infectada apresenta redução de crescimento bem como a diminuição do número e tamanho dos frutos, com consequente quebra da produção. Porém, os sintomas podem variar de acordo com a fase de desenvolvimento em que a planta foi infectada e também devido a fatores ambientais como fertilidade do solo (condição nutricional) e estresse devido a períodos de seca e temperaturas elevadas.

Importância: O cultivo do tomateiro (Solanum lycopersicum) é um dos segmentos de maior importância do setor olerícola, com grande influência no desenvolvimento socioeconômico rural em regiões tropicais e subtropicais. Assim como os demais begomovírus descritos no Brasil, o ToRMV é considerado uma das principais viroses do tomateiro. Epidemias do ToRMV, nos anos de 2005 e 2006, causaram prejuízos de até 70% na produção de tomate de mesa da variedade ‘Carmem’, no Estado de São Paulo. Porém, mesmo com o conhecimento do poder destrutivo deste begomovírus, esta variedade de tomateiro até hoje é cultivada em larga escala, sendo responsável por 75% da produção nacional de tomate. Isso só é possível devido à implementação de estratégias adequadas de manejo.

Ocorrência: A primeira descrição do ToRMV em tomateiros foi relatada no Estado de Minas Gerais, em 1996. Posteriormente, a ocorrência do vírus foi constatada nas principais áreas de produção de tomate nos Estados de São Paulo, Goiás, Bahia, Ceará, Paraíba e Distrito Federal. Em São Paulo, sua ocorrência foi relatada em 2006, no município de Mogi Guaçu, em tomateiros da variedade de mesa ‘Carmem’.

Manejo e controle: A melhor opção de controle das “begomoviroses” é o uso de cultivares resistentes. No entanto, há poucas informações a respeito de genes que confiram resistência efetiva contra os begomovírus de genoma bipartido que ocorrem no Brasil. Três acessos de Solanum peruvianum, contendo loci análogos ao gene Ty-3 foram avaliados visando à resistência à infecção pelo ToRMV. Os resultados foram promissores e permitiram concluir que o gene Ty-3 confere resistência considerável a esse begomovírus. O locus Ty-1, derivado de Solanum chilense, que confere tolerância para isolados de begomovírus de genoma monopartido [pertencentes ao complexo do Tomato yellow leaf curl virus (TYLCV)], que ocorre na Europa e Oriente Médio, também foram avaliados quanto à resistência ao ToRMV. No Brasil, avaliações preliminares com híbridos de tomateiros contendo o gene Ty-1 foram realizadas em campo aberto em duas regiões produtoras de tomate do Brasil Central. As condições experimentais foram de inóculo natural sob elevada densidade populacional de moscas-brancas virulíferas. Os resultados indicaram que o locus Ty-1 confere uma reação do tipo "tolerância" contra o ToRMV. Porém, estudos adicionais são necessários para demonstrar que a tolerância conferida ao ToRMV é de fato conferida exclusivamente pelo locus Ty-1 ou pela presença de outros genes. Diante da ausência de variedades resistentes, recomenda-se o controle preventivo das populações de moscas-brancas com a aplicação de inseticidas sistêmicos. No entanto, o ToRMV já foi detectado em plantas de Nicandra physaloides (joá-de-capote, Solanaceae) crescendo espontaneamente em canteiros de tomateiros e em cultivos de Phaseolus vulgaris (feijão, Fabaceae), próximos a áreas de produção intensiva de tomate. Assim, apesar do ToRMV ter o tomateiro como seu principal hospedeiro, recomenda-se a eliminação de espécies de plantas invasoras e o isolamento das áreas de cultivo, pois as moscas-brancas (MEAM1 e MED) são polífagas, podendo estabelecer colônias em diversas espécies cultivadas e espontâneas e propiciar a dispersão do vírus nos campos de produção de tomate. Além disso, evitar a permanência de tomateiros de ciclos anteriores próximos aos canteiros com mudas de tomate também é uma medida profilática desejada, para evitar a manutenção da pressão de inoculo do vírus no campo.

Referência consultada

BOITEUX, L.S. et al. Reaction of tomato hybrids carrying the Ty-1 locus to Brazilian bipartite Begomovirus species. Horticultura Brasileira, v.25, n.1, p.20-23, 2007.

COLARICCIO, A. et al. Tomato rugose mosaic virus in tomato crops in São Paulo State. Fitopatologia Brasileira, v.31, n.6, p.606 ,2006.

COLARICCIO, A.; CHAVES, A.L.R.; EIRAS, M. Doenças do tomateiro causadas por vírus. In: PAPA, G.; FURIATTI, R.S.; SPADER, V. (Eds.) Boletim Técnico Tomate 3: Desafios Fitossanitários e Manejo Sustentável. Jaboticabal, SP, p. 183-207, 2014.

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ZERBINI, F.M. et al. Traditional and novel strategies for geminivirus management in Brazil. Australasian Plant Pathology, v.34, p. 475–480, 2005.

Autores: Alexandre Levi Rodrigues Chaves, Marcelo Eiras, Addolorata Colariccio, Laboratório de Fitovirologia e Fisiopatologia, CPSV, Instituto Biológico
E-mail: alexandre.chaves@sp.gov.br

 
Publicado em: 09/06/2020
Atualizado em: 09/06/2020
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