Hospedeiro: Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum)
Agente causal: Ceratocystis paradoxa / Thielaviospis paradoxa
Etiologia: a doença é causada o fungo Thielaviopsis paradoxa (De Seynes) Höhn (sinônimo de Chalara paradoxa) ou seu teleomorfo (forma sexuada) Ceratocystis paradoxa (Dade) C. Moreau, (1952) (Ascomycetes, Microascales, família Ophiostomatacea).
Este é um patógeno polífago, pois já foi relatado em diversas outras espécies de plantas tropicais, como bananeira, abacaxizeiro, coqueiros, entre outros e que sobrevive no solo em restos culturais, podendo infectar as mudas de cana-de-açúcar logo em seguida ao plantio, resultando na podridão das mesmas. Na fase assexuada, podem ser observados conidióforos hialinos a marrom-claro crescendo livremente a partir de hifas septadas, produzido numerosos conídios hialinos, cilíndricos e retangulares (artroconídios), formados por fragmentação das hifas, além de numerosos clamidósporos lisos, ovais e de coloração marrom-escuros, produzidos também a partir dos conidióforos. Devido aos clamidosporos serem estruturas altamente resistentes, T. paradoxa pode sobreviver no solo por períodos superiores a 15 meses.
Na fase sexuada (Ceratocystis paradoxa), ocorrem numerosos peritécios de coloração marrom-escura, os quais ficam imersos no tecido necrosado ou no meio de cultura, e exibem um longo pescoço (rostro) com filamentos de hifas associados na abertura, de onde são liberados os ascósporos hialinos, asseptados, elipsóides com lados desiguais curvados, e cercados em uma bainha gelatinosa típicos do fungo.
O patógeno não possui mecanismos próprios de penetração, utilizando-se de aberturas naturais ou ferimentos para entrar e colonizar uma planta. Se a cana-de-açúcar for plantada em solo contaminado, a penetração do fungo ocorre pelo corte existente nos toletes de plantio. A sobrevivência do fungo é favorecida pela alta umidade a doença ocorre, geralmente, em solos argilosos, encharcados e de difícil drenagem. Além disso, as temperaturas baixas são, também, altamente favoráveis ao desenvolvimento do fungo, por isso o outono da Região Centro-Sul é a época mais comum de aparecimento da doença. A disseminação da doença ocorre, principalmente pelos conídios, mas também, por meio de mudas infectadas.
Sintomas: nas mudas infectadas recentemente são observados os sintomas iniciais de encharcamento. Com progresso da infecção, o tolete contaminado inicialmente apresenta uma coloração amarelo-pardacenta, cinza escuro e, ao final, passando à negra (Figura 03). Geralmente há destruição total do tecido parenquimatoso, permanecendo indestrutíveis os tecidos fibrovasculares. Os toletes atacados não germinam, provocando falhas na lavoura, podendo ocasionar prejuízo total. Durante o ataque pode ser exalado um odor típico, semelhante ao de frutos de abacaxi, como resultado da fermentação dos toletes. O fator primordial para a manifestação da doença é o retardamento da brotação das gemas, portanto, a ocorrência de baixas temperaturas, a utilização de mudas com mais de 12 meses, a cobertura muito profunda dos toletes e os plantios realizados em solos secos ou encharcados aumentam a intensidade da doença. Porém, deve-se ressaltar que, havendo condições que favoreçam a brotação, mesmo o patógeno estando presente no solo, os danos à cultura não ocorrem.
Importância: a cana-de-açúcar é uma cultura de grande importância para a economia do País, pois a partir dela açúcar e álcool são produzidos, sendo este último utilizado para a produção de bebidas e combustível. Segundo dados de 2019, Brasil e Índia respondem por pouco mais da metade da cana produzida em todo o planeta. Assim, qualquer doença que afete a cultura poderá resultar em impactos importantes na economia.
Manejo e controle
- Tratar as mudas com fungicida indicado nas dosagens e preparo recomendados pelos fabricantes;
- Evitar o plantio profundo dos toletes;
- Cortar os toletes em tamanhos maiores, com seis gemas ou mais;
- Evitar replantio de mudas em solos contaminados recentemente;
- Utilizar variedades resistentes com rápida brotação;
- Plantio em época correta, bom preparo do solo e colocação do tolete à profundidade adequada aceleram a germinação e constituem o melhor controle da doença.
Referência consultada
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Curiosidades Sobre O Cultivo Da Cana-De-Açúcar No Brasil. Link. Acesso: 10 Maio 2020.
Autores: Christiane Ceriani Aparecido¹, Carlos Alberto Mathias Azania² ¹Centro de Pesquisa de Sanidade Vegetal, Instituto Biológico
E-mail: christianeceriani@biologico.sp.gov.br
²Instituto Agronômico, Centro de Cana
E-mail: azania@iac.sp.gov.br