Sexta-Feira, 26 de Abril de 2024
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Fusariose ou murcha de Fusarium (Fusarium oxysporum f. sp. lactucae)

Autores: Jesus G. Töfoli; Ricardo J. Domingues; Josiane T. Ferrari, CPSV, Instituto Biológico
E-mail: jesus.tofoli@sp.gov.br

Nome comum: Fusariose ou murcha de Fusarium 

Nome científico: Fusarium oxysporum f. sp. lactucae

Hospedeiro: Alface (Lactuca sativa)

Etiologia
   A Fusariose ou Murcha de Fusarium representa uma das ameaças mais recentes à cultura da alface no Brasil. A doença afeta de forma significativa o desenvolvimento das plantas, a produtividade e a qualidade, podendo causar perdas superiores a 70%. A doença é causada pelo fungo Fusarium oxysporum Schlechtend.: Fr. f. sp. lactucae Matuo & Motohashi que pertence ao Reino Fungi, Divisão Ascomicota, Classe Sordariomycetes, Ordem Hypocreales, Familia Nectriaceae. 
  Possui micélio vigoroso, que pode apresentar coloração variável, apresenta hifas septadas e produz macro e microconídios curvos, fusiformes, septados ou não. A doença pode ser causada por 4 raças do patógeno (raças 1, 2, 3 e 4), sendo identificadas no Brasil, as raças 1 e 3. 
   A ocorrência da Fusariose é mais frequente no verão, quando prevalecem períodos com altas temperaturas e umidade. Solo ácidos, compactos, e com baixa oxigenação também favorecem a doença.
   Vários dos tipos de alface cultivados (crespa, lisa, americana e mimosa) são suscetíveis à doença. Além da alface, a fusariose afeta também outra astereacea — a Valerianella locusta, conhecida também como alface de cordeiro. Sabe-se, ainda, que o patógeno pode colonizar o sistema radicular de plantas de tomate, melão, melancia e algodão sem, no entanto, causar sintomas.
   O fungo penetra nas raízes através de aberturas naturais ou ferimentos e coloniza o sistema vascular das plantas dificultando a absorção de água e nutrientes. A obstrução do xilema causa, com o passar do tempo, a murcha, atrofia e morte das plantas. Na ausência de hospedeiros suscetíveis ou condições adversas, esse pode permanecer viável na área infestada por longos periodos através de estruturas de resistência denominadas clamidósporos ou, ainda, associado a restos de cultura ou matéria orgânica. Estudos têm evidenciado que o patógeno pode permanecer viável no solo por períodos de até 8 anos. 
   O uso de sementes infectadas é considerado o modo mais importante de disseminação da doença. A introdução do fungo em áreas sadias é feita através do plantio de mudas infectadas. No campo, a transmissão da doença deve-se principalmente ao uso de implementos e ferramentas agrícolas infestados, àgua de irrigação, chuvas e circulação de pessoas e veículos.

Sintomas
   Amarelecimento das folhas basais, atrofia generalizada, não formação de cabeça, listras marrons ou negras no sistema vascular, córtex acastanhado ou avermelhado, murcha progressiva, redução significativa do sistema radicular e morte de plantas são sintomas característicos da doença. No campo, a fusariose pode afetar plantas ao acaso ou ocorrer em reboleiras. Em algumas situações pode ocorrer associada a outras doenças como a queima da saia (Rhizoctonia solani) e a murchadeira (Thielaviopsis basicola).

Manejo
   Para o manejo da fusariose recomenda-se a adoção de medidas integradas que visem a evitar a sua introdução em áreas livres da mesma , reduzam o potencial de inóculo ou dificultem a sua disseminação.

• Evitar o plantio em áreas com histórico recente da doença.

• Preparo correto do solo evitando a formação de áreas compactadas nas áreas de cultivo. Essas ocasionam o acúmulo de umidade e baixa oxigenação nas camadas superficiais do solo favorecendo a doença.

• Optar por cultivares resistentes/tolerantes. Entre os materiais disponiveis no mercado podemos citar: Valentina (raça 1), Marisa, Bataille (raça 1), Naide (raça 1), Multiblond 3 (raça 1), Astorga (raça 1), Tendita (raça 1), Jonction (raça 1), Pira Roxa (raça 1), Lucy Brown, Vanda, Alface Crespa BS AC0063, Luzia entre outras. • Usar sementes sadias e tratadas com fungicidas. Para a produção de mudas, utilizar substrato livre de patógenos, evitar semeadura profunda e regas excessivas. As bandejas devem ser desinfestadas com cloro a 10% por 30 minutos. • Plantar mudas sadias no campo. Obter mudas com viveiros comprometidos com a qualidade e sanidade.

• Corrigir o pH do solo (6,5) e adubar de forma equilibrada. Excesso de adubação nitrogenada pode favorecer a doença. A incorporação de adubos verdes no solo promove o aumento da matéria orgânica e favorece o desenvolvimento de uma microflora benéfica que, ao competir por alimento e espaço, pode reduzir a população do patógeno no solo. Além disso, a decomposição dos adubos verdes libera dióxido de carbono que reduz a capacidade competitiva de vários fungos.

• Irrigar moderadamente com água de boa qualidade.

• Realizar rotação de culturas por três a cinco anos visando a redução do inóculo em áreas afetadas.

• Eliminar e destruir plantas doentes, inclusive o caule e raízes.

• Eliminar restos culturais que possam servir substrato para a sobrevivência do patógeno na área.

• O Emprego a solarização associada a agentes de controle biológico (Trichoderma harzianum) pode reduzir de forma significativa a doença no campo.

• Lavar e desinfestar ferramentas, implementos, veículos, sapatos e botas com uma solução de hiploclorito de sódio a 2%.

Referência consultada

CABRAL, C.S.; REIS, A. Screening of lettuce accessions for resistance to Fusarium oxysporum f. sp. lactucae race 1. Tropical Plant Pathology, Viçosa, MG, v.38, n.4, p. 275-281, 2013.

CLAERBOUT et al. First Report of Fusarium oxysporum f. sp. lactucae Race 4 on Lettuce in Belgium. In: https://doi.org/10.1094/PDIS-10-17-1627-PDN.

FRIAS, A. G. Caracterização de isolados de Fusarium oxysporum f.sp lactucae obtidos de campos de produção comercial no Estado de São P aulo e avaliação de genótipos de alface. 2014. ix, 45 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu, 2014. http://hdl.handle.net/11449/110957.

KRAUSE-SAKATE, R. et al. (Ed.) Manual de Fitopatologia: volume 2: Doenças das Plantas Cultivadas. Ouro Fino: Ceres, 2016. p.33-40.

TÖFOLI, J.G; DOMINGUES, R.J. Doenças causadas por fungos. Aspectos fitossanitários da alface. Boletim Técnico. Instituto Biológico. São Paulo, v. 29, p. 28 – 46, 2017, 126p.


 
Publicado em: 01/07/2020
Atualizado em: 01/07/2020
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