Sexta-Feira, 26 de Abril de 2024
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Mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum, Sclerotinia minor)

Autores: Jesus G. Töfoli, Ricardo J. Domingues, Josiane T Ferrari. CPSV, Instituto Biológico
Email: jesus.tofoli@sp.gov.br

Nome comum: Mofo Branco, podridão de Sclerotinia

Nome científico: Sclerotinia sclerotiorum,  Sclerotinia minor

Hospedeiro: Alface (Lactuca sativa)

Etiologia

As espécies Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary e Sclerotinia minor Jagger pertencem ao Reino Fungi, Filo Ascomycota, Classe Leotiomycetes, Ordem Helotiales, Familia Sclerotiniaceae. As duas espécies diferem principalmente quanto ao tamanho dos escleródios, ao ciclo de vida e o espectro de hospedeiras.
S. sclerotiorum produz escleródios grandes (20-10 mm de diâmetro), lisos, com formato arredondado enquanto que em S. minor esses são menores (0,5 - 2 mm de diâmetro), ásperos e angulares. As duas espécies também diferem quanto ao ciclo de vida. Os escleródios de S. minor raramente produzem apotécios na natureza. Esses ao germinarem formam um crescimento cotonoso esbranquiçado na superficie do solo que em contato direto com tecidos senescentes do hospedeiro dão inicio ao processo infeccioso. Além de germinarem diretamente os escleródios de S. sclerotiorum, possuem também a capacidade de produzir apotécios em condições específicas. Os apotécios são corpos de frutificação que produzem ascosporos que são ejetados e em seguida dispersos pelo vento ou água. Esses em contato com a planta germinam e dão inicio a infecção. Os ascósporos podem sobreviver por até duas semanas antes de iniciar uma infecção. Quanto ao modo de infecção, S. sclerotiorum produz ascosporos que podem alcançar longas distâncias pela ação do vento ou água, enquanto que S. minor afeta apenas plantas que estão próximas aos escleródios germinados. Os escleródios são estruturas de resistência desses fungos que os permitem sobreviver no solo em condições adversas por periodos de 8 a 10 anos. A sobrevivência de escleródios está intimamente relacionada com o tipo de solo; pH; cultura anterior; sua localização no perfil do solo; umidade e temperatura e de presença de micro-organismos que causam sua degradação.
De maneira geral considera-se que S. sclerotiorum apresenta maior potencial destrutivo quando comparada a S. minor. Por possuir germinação carpogênica, S. sclerotiorum pode alcançar um maior potencial de inóculo, uma vez que cada escleródio pode gerar de um a mais de 20 apotécios e esses liberarem mais de 2.000.000 de ascósporos, em curto espaço de tempo. Destaca-se, no entanto, que produção de escleródios por S. minor é de 10 a 100 vezes maior que a de S. Sclerotiorum.
A doença é favorecida por períodos úmidos e temperaturas que variam de 10 a 20° C, sendo mais severa após o fechamento da cultura. Todos os tipos de alface são suscetíveis as duas espécies.

Sintomas
O mofo branco é uma doença, típica de inverno e primavera, capaz de causar elevados prejuízos ao produtor caso não seja manejada corretamente. Causado pelos fungos Sclerotinia sclerotiorum e Sclerotinia minor, a doença afeta a base das plantas, causando o apodrecimento do caule e das folhas próximas ao solo. As plantas afetadas apresentam sintomas de murcha progressiva, seguida de amarelecimento, colapso generalizado e morte. As lesões apresentam inicialmente aspecto úmido, coloração castanho claro ou escuro, e são recobertas por um denso micélio branco e escleródios negros. Os tecidos afetados se degradam de forma rápida e severa, assumindo o aspecto de podridão mole. Apesar de ser considerada uma doença típica de solo, sua ocorrência também tem sido relatada em cultivo hidropônico. O controle do mofo branco é considerado difícil devido ao grande numero de hospedeiros que a doença apresenta e a sua capacidade de sobreviver no solo por longos períodos na forma de escleródios. A adoção de estratégias conjuntas, relacionadas à praticas culturais, emprego de fungicidas e uso de agentes de controle biológico, são fundamentais para a sustentabilidade da cultura.

Manejo

As principais medidas de controle são:

• Quando possível evitar o plantio em áreas com histórico recente da doença

• Efetuar o plantio em solos leves e drenados.

• Evitar o plantio em baixadas, áreas sujeitas ao acumulo de umidade.

• Realizar aração profunda com o objetivo de enterrar escleródios e eliminar possíveis áreas compactadas que favorecem o acumulo de umidade nas camadas superficiais do solo.

• Adotar canteiros elevados para evitar acumulo de umidade no solo.

• Plantio de mudas sadias.

• Adotar espaçamento adequado ao tipo de alface cultivado, de forma a permitir a circulação de ar entre as plantas e redução dos níveis de umidade nas folhas. O adensamento de plantas deve ser evitado em épocas favoráveis por criar microclima favorável a doença.

• Adubação equilibrada. O excesso de nitrogênio gera tecidos tenros e folhagem densa, favorecendo o desenvolvimento do mofo branco.

• Adotar o plantio de cultivares mais eretas como as do grupo: Romana. Essas permitem um menor acúmulo de umidade entre as plantas, em relação às cultivares “repolhudas”.

• Realizar rotação de cultura com culturas não suscetíveis como milho, aveia, milho-doce, sorgo, trigo ou pasto por períodos de 3 a 4 anos.

• Eliminar plantas voluntárias suscetíveis e plantas daninhas hospedeiras como: amendoim bravo (Euphorbia hetrophylla); caruru (Amaranthus deflexus), corda de viola (Ipomeae nil); poaia do campo (Borreria alata); fazendeiro (Galinsoga parviflora); guanxuma (Sida rhombifolia); picão preto (Bidens pilosa) e maria mole (Senecio brasiliensis).

• Reduzir a irrigação em períodos críticos e favoráveis à doença. Esquematizar as regas de forma que as plantas possam estar mais secas no final do dia.

• Evitar o contato da planta com o solo através do uso de cobertura (“mulch”)

• Eliminar e destruir restos de cultura com objetivo de reduzir fontes de inóculo.

• Limpeza e desinfestação dos implementos.

• Realizar as operações de cultivo e tratos culturais primeiramente nas áreas livres de doença e depois nas áreas com histórico da doença.

• A solarização com polietileno transparente por 60 dias no mínimo, é recomendada para o controle de S. sclerotiorum e S minor e outros patógenos de solo. A pratica deve ser empregada durante o verão.

• Limpeza e higienização de sistemas hidropônicos com solução a base de cloro.

• O controle biológico da doença pode ser realizado com formulações de Trichoderma sp. O micro-organismo deve ser aplicado em pré-plantio e deve ser utilizado em combinação com outras estratégias de controle como a solarização para que se alcance bons níveis de controle.

Fungicidas. As aplicações de fungicidas registrados (AGROFIT http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons) devem ser iniciadas sete dias após o transplante, repetindo-se a cada 10 dias (máximo de 3 aplicações/ciclo).
Em situações críticas pode-se adotar a rega das mudas com fungicida antes de serem lavadas ao campo.
Em sistemas de semeadura direta, as pulverizações devem ser realizadas a partir do desbaste até a fase de roseta.
O uso de fungicidas deve ser realizado dentro de programas de controle integrado e deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose, volume, intervalos, número de aplicações, uso de equipamento de proteção individual (EPI), intervalo de segurança, armazenamento de produtos e descarte de embalagens. Para evitar casos de resistência a fungicidas específicos recomenda-se que esses sejam utilizados de forma alternada ou formulados com produtos inespecíficos (contato); que se evite o uso repetitivo de fungicidas com o mesmo mecanismo de ação e não se faça aplicações curativas em situações de alta pressão de doença. A tecnologia de aplicação de fungicidas é importante para que haja sucesso no controle da doença tendo em vista que a doença se inicia nas folhas de baixo. Fatores como: tipo de bicos, volume de aplicação, pressão, altura de barra e velocidade do trator devem ser sempre considerados com o objetivo de proporcionar a melhor distribuição possível do produto na cultura.

Referência consultada

KOIKE, S.T.; GLADDERS, P.; PAULUS, A.O. Vegetable Diseases: a colour handbook. St. Paul: APS. 2007. 448 p.

KRAUSE SAKATE, R. et al. (Ed.) Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 5. ed. São Paulo: Agronômica Ceres 2: 2016, p.33-40.

LOPES, C.A.; QUEZADO-DUVAL, A.M.; REIS, A. Doenças da alface. Brasília: Embrapa Hortaliças. 2010. 68p.

TOFOLI, J.G.; DOMINGUES, R.J. Manejo e métodos de controle de doenças fúngicas da alface. PROSAF. Instituto Biológico. http://www.biologico.sp.gov.br/uploads/files/pdf/prosaf/apostilas/doencas_alface.pdf

TÖFOLI, J.G.; DOMINGUES, R.J. Doenças causadas por fungos. Aspectos Fitossanitários da Cultura da Alface. Boletim Técnico - Instituto Biológico, no 29, p. 28-26, 2017.


 
Publicado em: 07/07/2020
Atualizado em: 17/03/2023
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