Sexta-Feira, 29 de Março de 2024
Mal-do-Panamá (Fusarium oxysporum f.sp. cubense )

Nome comum: Mal-do-Panamá, Fusariose ou Murcha de Fusarium.

Hospedeiro principal: Bananeira (Musa spp.)

Etiologia: Fusarium oxysporum f.sp. cubense (Foc), Divisão Ascomycetes, Ordem Hypocreales, Família Nectriacea) sendo descrito pela primeira vez em 1904 em Honolulu no Havaí.
Foc produz três tipos de esporos assexuais: microconídios, macroconídios e clamidosporos. Os microconídios são formados por uma ou duas células de formato oval no interior dos vasos das plantas infectadas. Os macroconídios possuem de quatro a oito células, em forma de foice, com paredes finas e são comumente encontrados na superfície das plantas mortas pelo fungo. Os clamidósporos são propágulos de resistência, de formato arredondados e de paredes espessas. Podem sobreviver por 30 anos ou mais no solo ou como endófitos e se multiplicando em hospedeiros alternativos, como plantas daninhas. O micélio de Foc cresce no intervalo de temperaturas entre 9 e 38 ºC com uma fase de crescimento ótimo entre 23 e 27 ºC.
O agente causal do Mal-doPanamá apresenta 4 raças fisiológicas, das quais a raça 1 infecta os cultivares do grupo Gros Michel e Maçã, a raça 2, o cultivar Bluggoe , a raça 3 atinge plantas do gênero Heliconia e a raça 4 causa doença nos cultivares do subgrupo Cavendish (Nanica ou Nanicão). No Brasil, de acordo com a estrutura dos grupos de compatibilidade vegetativa dos isolados de F. oxysporum f. sp. cubense, há prevalência da raça 1.

Sintomas
Os sinais e sintomas induzidos pelo Foc em bananeira são observados em folhas, pseudocaule e no rizoma. 
Nas folhas, provoca um amarelecimento das mais velhas para as mais novas, que no início aparece como uma faixa ao longo da margem, progredindo para a nervura principal. Com o desenvolvimento do fungo no rizoma, as folhas murcham, secam e no final quebram-se junto ao pseudocaule, ficando pendentes, com o aspecto típico de “guarda chuva fechado”, enquanto as folhas cartucho e vela permanecem eretas e apresentam uma necrose.
No pseudocaule,comumente notam-se externamente rachaduras do feixe de bainha junto ao solo, cujo tamanho varia com a área afetada no rizoma. Nas plantas com sintomas iniciais nas folhas, não se consegue observar nada de anormal por meio de cortes transversais ou longitudinais do pseudocaule, mas nos casos de adiantado estágio de desenvolvimento da doença, observam-se, em um corte transversal, pontuações ou mesmo áreas já bem afetadas com coloração castanha avermelhada passando à escura. Em cortes transversais dos rizomas, notam-se pontuações castanhas avermelhadas.
Na fase final, o fungo desenvolve-se em todo o rizoma sendo que o centro permanece com a coloração branca. Cortes longitudinais de raízes infectadas mostram descoloração vascular com coloração castanho avermelhada a escura. Sintomas reflexos podem aparecer como brotação de touceiras atacadas, apresentando aspectos de plantas adultas, não se observando broto ou muda tipo chifrão. Cachos apresentam-se raquíticos e com maturação desuniforme e prematura.

Importância econômica
Por ser uma doença de difícil controle é considerada ainda hoje como o mais importante problema fitopatológico da bananeira. Existem relatos de sua sobrevivência no solo por mais de 20 anos, na ausência do hospedeiro, devido à formação dos clamidósporos, e da sobrevivência do fungo por meio dos restos de culturas.
Em 1990 uma nova variante de Foc, foi identificada no Sul da Ásia, nas cultivares do subgrupo Cavendish. Denominada como raça 4 tropical (Foc R4T), esta raça disseminou-se rapidamente na Ásia, causando grandes perdas na região, com grande iimpacto na Indonésia, Filipinas e na China. Estima-se que mais de 100.000 ha plantados com banana já foram destruídos pela doença. A raça 4 tropical é mais agressiva que a raça 1 e estimativas apontam que, atualmente, mais de 80% da produção de bananas e plátanos provenham de variedades suscetíveis a esta raça. Os hospedeiros primários (cultivados ou silvestres). Em condições de campo, Foc R4T está associado aos gêneros Musa (Musa spp., Musa textilis , Musa acuminata, Musa balbisiana) e Heliconia (Heliconia spp., H. caribaea, H. psittacorum, H. mariae), Chloris inflata e Chloris barbata e plantas silvestres como Commelina diffusa, Ensete ventricosum, Euphorbia heterophylla e Tridax procumbens. No Brasil, o fungo ainda não foi relatado, porém já está presente na Colômbia.

Ocorrência
O mal-do-Panamá é endêmico em todas as regiões bananicultoras do mundo. A primeira constatação no Brasil foi em 1930, no Município de Piracicaba, SP, e em apenas 3 a 4 anos, dizimou cerca de um milhão de plantas de banana maçã. Atualmente, a doença está presente em todos os estados brasileiros produtores de banana, sendo importante nos cultivares Maçã, que é altamente suscetível, Prata, Pacovan e Prata Anã, são moderadamente suscetíveis. Depois dos estragos ocasionados por este patógeno no Panamá em 1904, de onde veio o seu nome, o fungo foi progressivamente atingindo as plantações do cultivar Gros Michel em todos os países produtores da América Central e do Caribe.

Manejo
A melhor forma de controle para o Mal do Panamá em solos infestados é a substituição de cultivares suscetíveis por resistentes.
Entre as variedades resistentes destacam-se as do grupo AAA – com os cultivares Nanica, Nanicão, GrandeNaine e Yangambi, sendo que as três primeiras são suscetíveis à raça 4 do patógeno (R4T); o grupo AAB – com os cultivares Terra, Terrinha, D’ Angola e Mysore; e o grupo AAAB com o cultivar Ouro-da-Mata, conhecido como Prata Maçã.
Vários autores discutem a hipótese da relação entre o estado nutricional das plantas e a incidência da doença, verificando a alta incidência do Mal-do-Panamá em bananais das cultivares Prata Anã e Branca, implantados em áreas de solo com baixo níveis de pH, Ca, Mg e Zn. Apesar da tolerância da cultivar Nanicão, desequilíbrios nutricionais (N, Ca ,Mg e Zn), o parasitismo de nematoides ou período elevado de estiagem podem levar ao aparecimento de sintomas da fusariose.

Práticas culturais recomendadas
- Evitar a entrada no pomar ou bananal de veículos e pessoas estranhas ao serviço;
- Realizar fiscalização permanente e constante no pomar. Em caso de suspeita da doença, enviar material a um laboratório de diagnóstico credenciado;
- Utilizar material propagativo sadio, somente obtido de local livre do patógeno, de produtores credenciados e, de preferência, oriundo de cultura de tecidos.
- Realizar a desinfecção dos implementos sempre, principalmente quando a doença estiver presente no pomar como tratores, roçadeiras, grades, subsolador, rotativa, tesoura de poda, canivete, ferramentas para desbrota, facões para limpeza de folhas etc., com produtos à base de hipoclorito de sódio ou cálcio, álcool ou amônia quaternária;
- Evitar capinas manuais ou mecânicas para não causar ferimentos no sistema radicular. Na medida do possível, dar preferência ao uso de herbicidas e roçadas com implementos que não causem danos às raízes da planta;
- Manter uma adubação equilibrada com base nos resultados das análises foliares e da fertilidade do solo, já que os micronutrientes boro e zinco aumentam a resistência da planta ao ataque da doença e o desequilíbrio nutricional entre K e Ca favorece seu aparecimento;
- Instalar os plantios novos em solos bem drenados e com bons níveis de fertilidade natural e ricos em matéria orgânica;
- Controlar os nematoides e a broca-do-rizoma, tendo em vista que eles podem predispor a bananeira à infecção pela Fusariose;
- Inspecionar e erradicar todas as plantas com sintomas da doença; - Realizar o controle das plantas daninhas;
- Evitar o uso de grade, enxada rotativa ou ferramentas para não provocar ferimentos no sistema radicular da bananeira, abrindo caminho para entrada do fungo.

Referência consultada
Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Raça 4 tropical de Fusarium oxysporum f.sp. cubense : subsídios para caracterização de praga quarentenária ausente / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. – Brasília : MAPA/SDA, 2018. 37 p. : il.

CORDEIRO, Z.J.M.; KIMATI, H. Doenças da bananeira (Musa sp.) In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A. (Ed.). Manual de fitopatologia. Doenças das plantas cultivadas. 4.ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005. v.2. p.99-117.

Fusarium oxysporum f. sp. cubense. Disponível em: http://www.promusa.org/Fusarium+oxysporum+f.+sp.+cubense#Race_4
Acesso em: 06/07/2020

MARYANI, N. et al. Phylogeny and genetic diversity of the banana Fusarium wilt pathogen Fusarium oxysporum f. sp. cubense in the Indonesian centre of origin. Studies in Mycology, V. 92, p. 155-194, 2019. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0166061618300307?via%3Dihub
Acesso em: 06/07/2020

FERRARI, J.T. ; NOGUEIRA, E.M.C. Principais doenças fúngicas da bananeira. In: Bananicultura - Manejo Fitossanitário e Aspectos Econômicos e Sociais da Cultura, cap.3, 21 p. Disponível em http://www.biologico.sp.gov.br/page/outras-publicacoes/livro-online-bananicultura
Acesso em 13/07/2020.

STOVER, R.H. Banana plantain and abaca diseases. Kew: 56 Commonwealth Mycological Institute, 1972. 316p.

Autores: Josiane Takassaki Ferrari, Jesus G. Töfoli; Ricardo J Domingues, LDFH, CPSV, Instituto Biológico
E-mail: josiane.ferrari@sp.gov.br

 
Publicado em: 15/07/2020
Atualizado em: 15/07/2020
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