Sexta-Feira, 29 de Março de 2024
Queima das Folhas (Alternaria dauci, Cercospora carotae)

Queima das Folhas

Cenoura (Daucus carota)

Alternaria dauci (J.G. Kühn) J.W. Groves & Skolko;
Cercospora carotae (Pass.) Kazn. & Siemaszko

A queima das folhas, causada pelos fungos: Alternaria dauci e Cercospora carotae, está entre as mais importantes e frequentes doenças fúngicas da cultura da cenoura. São doenças que podem ocorrer isoladas ou em complexo e caracterizam-se por apresentar alto potencial destrutivo quando se associam cultivares suscetíveis e condições climáticas favoráveis. Altos níveis de severidade das duas doenças reduzem de forma significativa a parte aérea das plantas e afetam diretamente a produtividade e a qualidade das raízes. Ambos agentes causais podem ser transmitidos por sementes ou podem sobreviver em restos de cultura.

Etiologia

Alternaria dauci (J.G. Kühn) J.W. Groves & Skolko pertence ao Reino Fungi, Filo Ascomycota, Classe Dothideomycetes, Ordem Pleosporales, Família Pleosporaceae.
Os conídios são elipsoides e clavados, marrom-oliváceos, com 5 a 11 septos transversais e um ou vários septos longitudinais. Medem de 12 a 24 µm de largura por 50 a 100 µm de comprimento e possuem um longo apêndice terminal septado, frequentemente medindo até três vezes o comprimento do corpo do conídio, podendo as vezes ser ramificados. Os conídios são produzidos individualmente no conidióforo ou raramente em cadeia de dois.

Cercospora carotae (Pass.) Kazn. & Siemaszko pertence ao Reino Fungi, Filo Ascomycota, Classe Dothideomycetes, Ordem Capnodiales, Família Mycosphaerellaceae. Possui micélio septado, hialino a marrom-claro com aproximadamente 2 a 4 µm de diâmetro. Os conidióforos são retos, não ramificados (cerca de 2 a 3 µm de diâmetro) com coloração marro-olivácea. Os conídios são formados na extremidade dos conidióforos, são uni ou multisseptados, filiformes, cilíndricos (2,2 a 2,5 µm X 40 a 110 µm), com coloração hialina a marrom pálida.
A velocidade de expansão da doença no campo depende do nível de inóculo inicial (sementes infectadas/ou restos de cultura de cultivos anteriores), temperatura do ar e da presença de alta umidade (água de chuva, irrigação ou orvalho). A. dauci é favorecida por temperaturas elevadas (20-30°C) e longos períodos de molhamento foliar (8 a 12 horas). C. carotae requer no mínimo 12 horas de molhamento foliar e temperaturas em torno de 20 a 30˚C. Em geral, os sintomas causados por esses fungos são visíveis 3 a 5 dias após a inoculação. O vento e a água são os principais agentes de dispersão de ambas doenças na cultura.

Sintomas
Os sintomas causados por A. dauci são caracterizados por lesões foliares pequenas e se localizam nas margens e extremidades dos folíolos. São de tamanho e formato irregulares, possuem coloração marrom escura, podem apresentar halos concêntricos e serem circundadas ou não por halos amarelados. Lesões escuras, grandes, alongadas e encharcadas podem também se desenvolver nos pecíolos. A doença é mais severa em folhas velhas e tecidos maduros. Em plântulas recém emergidas o fungo pode causar o tombamento e a morte das mesmas.
Nos sintomas causados por C. carotae, observa-se que as manchas foliares são inicialmente pequenas, marrom-escuras, com o centro claro e margens bem definidas. Estas são quase circulares quando ocorrem no interior do tecido e mais alongadas quando se desenvolvem na margem das folhas. Nos pecíolos essas são retangulares ou elípticas e apresentam em geral o centro claro. A doença afeta principalmente as folhas mais jovens. Em condições favoráveis, as manchas de ambas as queimas se tornam numerosas, se expandem, coalescem e causam a seca e a morte generalizada das folhas. A doença se desenvolve mais rapidamente após o fechamento da cultura, quando há maior acúmulo de umidade e menor circulação de ar no interior da densa folhagem.

Manejo

A adoção conjunta de diferentes práticas é fundamental para o manejo efetivo dessas doenças na cultura da cenoura. Entre essas se destacam:

Plantio de semente sadia
O uso de sementes sadias ou tratadas com fungicidas é recomendável, uma vez que ambos patógenos são transmitidos por sementes. A obtenção de sementes deve ser feita de empresas idôneas que disponibilizem materiais com elevados níveis de qualidade e sanidade.

Rotação de cultura
Devido a capacidade de A. dauci e C. carotae sobreviverem em restos culturais, deve–se adotar a rotação de cultura por 2 a 3 anos para que haja redução do potencial de inóculo na área. No decorrer desse período deve-se evitar o plantio de outras apiáceas como: a mandioquinha-salsa, aipo, funcho, salsa e coentro.

Cultivares e híbridos
Os produtores com histórico importante dessas doenças devem consultar frequentemente o serviço de extensão ou a assistência técnica das empresas de semente para verificar quais são os materiais mais adequados para sua região.

Cultivares de cenoura resistentes e tolerantes à queima das folhas (Alternaria dauci):

Grupo Brasília, Grupo Kuroda, Carandaí, Alvorada, Planalto, Prima, Tropico F1, Londrina, Esplanada, Verão HT, Verano F1, Juliana, Larissa, Karine, Poliana, Vedete F1, Skin Kuroda, Coral II, Amanda F1, Bruna F1, Erica F1, Francine F1, Kendo, Maestro F1, Musico F1, Siroco F1, Soprano F1, Suprema, EX4098, Natuna, Bermuda, Berlin, Belgrado, Baltimore, Tripoli, Cristalina, BRS Paranoá entre outras.

Adubação equilibrada
A doença é mais severa em plantas mal nutridas e estressadas. Assim sendo, recomenda-se o emprego de adubação equilibrada com base em análise prévia do solo. O uso com critério de nitrogênio pode aumentar o vigor das plantas, aumentando assim a emissão de novas folhas que venham a compensar as que foram destruídas pela queima das folhas. Níveis adequados de magnésio podem reduzir a ocorrência de A. dauci.

Práticas culturais
Práticas que contribuem para a redução da umidade na folhagem e aumento da permeabilidade do solo devem ser adotadas sistematicamente na instalação e decorrer de todo ciclo. As principais práticas a serem adotadas são: evitar o plantio em áreas sujeitas ao acúmulo de umidade, evitar irrigações excessivas; utilizar maior espaçamento entre linhas; realizar o plantio em canteiros mais elevados e eliminar possíveis “pés de grade”.

Controle químico
Embora um programa baseado em medidas culturais possa minimizar a ocorrência da queima das folhas, o uso de fungicidas é necessário, quando se associam o plantio de materiais suscetíveis e condições favoráveis.
Para o controle recomenda-se a aplicação preventiva de fungicidas inespecíficos (ditiocarbamato - mancozebe, ftalonitrila – clorotalonil, cúprico (oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre) no início da fase vegetativa até o fechamento da cultura. A aplicação de fungicidas específicos (estrobilurinas – azoxistrobina, piraclostrobina e trifloxistrobina; carboxamidas – boscalida, fluxapiroxade; triazóis – tebuconazol, difenoconazol, tetraconazol, metconazol, bromuconazol; imidazóis – procloraz; dicarboximidas – iprodiona, procimidona; anilinopiridina – pirimetanil e oxazolidinadiona – famoxadona) deve ser iniciada assim que ocorram condições favoráveis ou se evidenciem os primeiros sintomas da doença no campo. A tendência atual para o controle químico da queima das folhas é o desenvolvimento de misturas que conjuguem diferentes grupos químicos como por exemplo: estrobilurinas e triazóis. O uso de fungicidas deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose, volume, intervalos, número de aplicações, período de carência, uso de equipamento de proteção individual (EPI) etc.
A aplicação alternada de fungicidas específicos e inespecíficos ou de produtos com diferentes mecanismos de ação é recomendada para prevenir a ocorrência de raças resistentes dos patógenos envolvidos. A existência de resistência de A. dauci à iprodiona já foi observada no Brasil.
As cultivares resistentes à queima das folhas podem dispensar a utilização de fungicidas ou essa fica restrita a um número reduzido de aplicações em períodos críticos.

Referência consultada

INDEX FUNGORUM Disponível em: http://www.indexfungorum.org/Names/NamesRecord.asp?RecordID=259926.
Acesso: 07.07.20.

MASSOLA JÚNIOR, N. S. et al.  (Eds.). Doenças da cenoura. Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 5. ed. São Paulo: Agronômica Ceres 2: 2016, p. 255-262.

TÖFOLI, J.G.; DOMINGUES, R.J. Sintoma, etiologia e manejo da queima das folhas (Alternaria dauci; Cercospora carotae) na cultura da cenoura. Biológico, São Paulo, v.72, n.1, p.47-50, 2010.

TÖFOLI, J.G.; DOMINGUES, R.J. Alternaria spp. em oleráceas: sintomas, etiologia, manejo e fungicidas. Biológico, São Paulo, v.77, n.1, p.21-34, jan./jun., 2015.

TÖFOLI, J. G, DOMINGUES, R. J., TORTOLO, M. P. L. Effect of various fungicides in the control of alternaria leaf blight in carrot crops. Biológico, São Paulo, v. 81, n. 1, p.1-30, 2019

Autores: Jesus G. Tofoli; Ricardo J. Domingues; Josiane T. Ferrari, LDFH, CPSV, Instituto Biológico
Email: jesus.tofoli@sp.gov.br

 
Publicado em: 04/08/2020
Atualizado em: 04/08/2020
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