Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024
PVY (Potato virus Y )

Hospedeiro: Solanum lycopersicum (tomateiro), Solanaceae

Agente causal: potato virus Y (PVY)

Etiologia: Potato virus Y é a espécie tipo do gênero Potyvirus, família Potyviridae, ordem Patatavirales, classe Stelpaviricetes, filo Pisuviricota, reino Orthornavirae, domínio Riboviria. Com um total de 225 espécies descritas (que corresponde a 14% do total das cerca de 1600 espécies de vírus de plantas), Potyviridae é uma das maiores famílias de vírus de plantas, abrigando doze gêneros (Arepavirus, Bevemovirus, Brambyvirus, Bymovirus, Celavirus, Ipomovirus, Macluravirus, Poacevirus, Potyvirus, Roymovirus, Rymovirus, Tritimovirus). As espécies pertencentes a esses gêneros são classificadas de acordo com a organização genômica, tipo de vetores envolvidos na transmissão (ácaros, insetos ou plasmodioforídeos), maneira de transmissão e círculo de hospedeiras. O RNA genômico dos Potyviridae encontra-se ligado covalentemente a uma proteína codificada pelo vírus (VPg) no terminal 5’ não traduzido, além de possuir uma cauda de poliadenilação no terminal 3’ não traduzido. Os vírus pertencentes à família Potyviridae têm partículas filamentosas e flexuosas, medindo de 11 a 20 nm de diâmetro e de 500 a 800 nm de comprimento. Com exceção dos vírus pertencentes ao gênero Bymovirus, os membros dos outros gêneros de Potyviridae, incluindo o potato virus Y (PVY), possuem genoma monopartido, constituído por uma única molécula de RNA de cadeia simples, de polaridade positiva, com tamanho entre 9 e 10 kb e duas fases abertas de leitura (ORFs). O genoma se expressa por uma poliproteína, que é clivada por três proteases de origem viral (NIa, HC-Pro e P1), originando 10 proteínas funcionais (P1, HC-Pro, P3, 6K1, CI, 6K2, NIa, VPg, NIa-Pro, NIb, CP); e por uma proteína (P3N-PIPO) traduzida de uma ORF menor sobreposta na região genômica correspondente à proteína P3. A proteína da inclusão cilíndrica (CI) se acumula no citoplasma das células infectadas e forma inclusões do tipo cata-vento, uma das principais características da família Potyviridae.

O potato virus Y (PVY, Potyvirus) é transmitido por diversas espécies de afídeos (pulgões) de maneira não persistente (não circulativa), sendo Myzus persicae relatado como a espécie mais eficiente. Não há relatos de transmissão do PVY por sementes. Experimentalmente, o PVY pode ser transmitido por inoculação mecânica para plantas hospedeiras suscetíveis.

Sintomas: O PVY causa a doença conhecida por “risca-do-tomateiro”. Os sintomas induzidos pelo PVY em tomateiros são variáveis, mas geralmente se constituem de mosaico com diferentes níveis de severidade. Outros sintomas também podem ser observados como clareamento de nervuras, mosqueado, estrias amarelas próximas à nervura principal, rugosidade e distorção nas folhas mais velhas. A classificação das estirpes de PVY é realizada com base em hospedeiros primários, sintomas induzidos em diferentes espécies de plantas, e em função da resposta sorológica a anticorpos monoclonais. O PVY possui três estirpes principais: PVYN - estirpe necrótica; PVYO - estirpe comum; e PVYC - estirpe clorótica. Entretanto, em tomateiros, ao contrário de outras solanáceas, há pouca distinção entre os sintomas causados por essas estirpes. Isolados de PVYO e PVYC causam, em tomateiros, deformação das folhas mais jovens, seguidas de mosqueado necrótico e por vezes necrose das nervuras, enquanto isolados de PVYN induzem sintomas foliares de mosaico severo com manchas amarelas entre as nervuras e manchas esbranquiçadas nos frutos, afetando as características agronômicas e depreciando seu valor comercial. Nos últimos 20 anos, dois isolados de PVY foram identificados e classificados como subgrupos da estirpe PVYN: PVYNTN e PVYNW. Agente causal da doença da mancha necrótica do tubérculo da batata, o PVYNTN também foi identificado infectando tomateiros na América do Sul, incluindo o Brasil. Tanto a manifestação, quanto o tipo de sintomas podem ser influenciados de acordo com as interações das estirpes com as cultivares, o estádio fenológico da planta no momento da infecção, infecções mistas, recombinação entre as estirpes e fatores ambientais.

Hospedeiros: O PVY infecta naturalmente as principais espécies de solanáceas cultivadas, incluindo tomate, pimentão, batata, fumo e berinjela, sendo limitante a essas culturas. Pode infectar também espécies de plantas ornamentais e da vegetação espontânea pertencentes a nove famílias botânicas, com destaque para Amaranthaceae, Asteraceae, Fabaceae e Solanaceae.

Importância: O PVY é considerado um dos vírus limitantes para a cultura do tomateiro. Um dos fatores que contribuem para manutenção do vírus no campo e para o aumento de sua importância é o cultivo concomitante de solanáceas como batata, pimentão e tomate, podendo ocorrer reinfecções sucessivas, além de infecções cruzadas e recombinação entre as estirpes virais. Até a década de 1980, a severidade dos sintomas do PVY em tomateiros era considerada de pouca importância nos países produtores de tomate, incluindo o Brasil, onde até então o vírus tinha baixa ocorrência, principalmente devido ao plantio da cultivar ‘Ângela’ (resistente ao PVY). Entretanto, na década de 1990, a ocorrência de estirpes do PVY, que causavam necrose em tomateiros, foram registradas na Austrália, Canadá, Espanha, França e Índia, causando perdas entre 50 e 100%. No Brasil, nesta mesma década, houve a ocorrência de um isolado de PVY, em pimentão ‘Magda’, denominado PVYM, que causava necrose e quebra da resistência em tomateiro. Esta estirpe, porém, foi posteriormente identificada e caracterizada como pepper yellow mosaic virus (PepYMV), pertencente a uma nova espécie de Potyvirus. Atualmente, apesar do aumento da incidência e severidade dos potyvírus em tomateiro, o emprego de cultivares com resistência a esses vírus vem sendo negligenciado na cultura. Com isso, perdas de 100% têm sido constatadas nas regiões produtoras de tomate do Espírito Santo e São Paulo, em tomateiro ‘Alambra’, devido a infecções recorrentes de PepYMV e PVY.

Ocorrência: O PVY está amplamente distribuído no mundo e ocorre em todos os países produtores de batata e tomate, incluindo Ásia, África, Austrália, Europa, América do Norte, América do Sul e América Central.

Manejo: A resistência genética é a principal medida de controle do PVY. A primeira cultivar de tomateiro resistente com impacto comercial produzida no Brasil foi denominada ‘Ângela’, desenvolvida no IAC, em 1969. Essa cultivar foi resultado do cruzamento interespecífico entre S. lycopersicum ‘Santa Cruz’ x S. pimpinellifolium ‘PI 126410’, com o objetivo de se incorporar o gene recessivo rt, que conferiria resistência aos isolados de PVY predominantes em tomateiros. Após três décadas de utilização da cultivar ‘Angela’, foi registrada a quebra desse gene de resistência pelo PVYM. Novas fontes de resistência ao PVY foram obtidas a partir da espécie selvagem Lycopersicon hirsutum ‘PI247087’, havendo relatos de fontes de resistência nas espécies silvestres S. peruvianum, S. chilense, S. pimpinellifolium e S. habrochaites, todas conferidas por um único gene recessivo. Em S. habrochaites, a resistência pode ser condicionada pela presença do gene pot-1 ou de um alelo deste gene, já que essa espécie de tomateiro é fonte deste fator de resistência. Entretanto, a característica de resistência recessiva a potyviroses, em tomateiro, dificulta a implementação de programas de melhoramento genético visando à resistência ao PVY. Em tomateiro, é difícil distinguir os sintomas causados pela infecção das diferentes estirpes de PVY, ocorrendo muitas infecções mistas e recombinações, o que tem dificultado o controle pelo emprego de cultivares com resistência genética.

Como alternativa ao emprego de cultivares resistentes, pode-se lançar mão de medidas preventivas de manejo e controle.
Entre as medidas, destacam-se:
(i) o uso de mudas livres de vírus; (ii) o cultivo em estufas protegidas por tela anti-afídeos; e (iii) o uso de superfícies reflexivas nos canteiros, antes da semeadura ou do transplante, para impedir o pouso dos afídeos, uma vez que o controle químico desses insetos é, na maioria das vezes, uma medida ineficiente para o controle do vírus. Também é importante a rápida substituição das plantas infectadas no interior do cultivo, bem como o controle das plantas da vegetação espontânea, tanto nos arredores como no interior do cultivo, uma vez que estas podem ter papel importante como reservatórios do vírus e/ou dos afídeos vetores.

Referências consultadas

AHMED, M.A. & ELCI, E. Effects of Potato Virus Y Strains on Local Tomato Genotype “Sazlıca”. International Journal of Life Sciences and Biotechnology, v. 2, n. 3, p. 205-220, 2019.

AMARAL, J.G. et al. Resistência ao Potato virus Y (PVY) em acessos de tomate. Horticultura Brasileira,30: S4729-S4733. Hortic. bras., v. 30, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2012.

ARAMBURU, J.; GALIPIENSO, L.; MATAS, M. Characterization of potato virus Y isolates from tomato crops in northeast Spain. European Journal of Plant Pathology, v. 115, p. 247–258, 2006.

ÁVILA, A.C. et al. Ocorrência de viroses em tomate e pimentão na região serrana do Estado do Espírito Santo. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.3, p.655-658, 2004.

COLARICCIO, A.; CHAVES, A.L.R.; EIRAS, M. Doenças virais. In: COLARICCIO, A.; TÖFOLI, J.G. (Eds.). Aspectos fitossanitários do tomateiro. São Paulo, SP: Instituto Biológico. Boletim Técnico do Instituto Biológico, n.27 (junho). p. 57-77, 2013.

COLARICCIO, A.; CHAVES, A.L.R.; EIRAS, M. Doenças do tomateiro causadas por vírus. In: PAPA, G.; FURIATTI, R.S.; SPADER, V. (Eds.). Boletim Técnico 3 - Tomate. Desafios Fitossanitários e Manejo Sustentável. 1ed. São Paulo: Maria de Lourdes Brandel - ME. p.181-205, 2014.

INOUE-NAGATA, A. et al. Pepper yellow mosaic virus, a new Potyvirus in sweetpepper, Capsicum annuum. Archives of Virology, v. 147, p. 849-855, 2002.

LOURENÇÃO, A.L. et al. Resistência de cultivares e linhagens de tomateiro a Tomato chlorotic spot virus e a Potato virus Y. Fitopatologia Brasileira, v. 30, n.6, 609-614. 2005.

MUÑOZ-BAENA, L.; GUTIÉRREZ-SÁNCHEZ, P.A.; MARIN-MONTOYA, M. Detección y Secuenciación del genoma del Potato virus Y (PVY) que infecta plantas de tomate em Antioquia, Colombia. Bioagro, v.28, n.2, p.69-80, 2016.

NAGAI, H. Melhoramento do pimentão (Capsicum annuum L.) visando resistência ao vírus Y. Horticultura Brasileira, v.1, p. 3-9. 1983.

PALAZZO, S.R.L. et al. Surto de Potyvirus associado ao mosaico amarelo do tomateiro no Estado de São Paulo. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.30, n.1, p.117-117, 2004.

PALAZZO, S. R. L.; COLARICCIO, A.; MELO, A. M.T. Reação de acessos de Lycopersicon spp. a um isolado de Potato Virus Y (PVYº) de tomateiro. Bragantia, v. 67, n. 2, p. 391-399, 2008.

RUFFEL, S. et al. The potyvirus recessive resistance gene pot-1 is the tomato orthologue of the pepper pvr2- eIF4E gene. Molecular Genetics and Genomics, v. 274, p. 346-353, 2005.

SIHELSKÁ, N. et al. Detection and molecular characterization of Slovak tomato isolates belonging to two recombinant strains of potato virus Y. Acta Virologica, v. 60, p. 347 – 353, 2016.

WYLIE, S. et al. ; ADAMS, M.; CHALAM, C.; KREUZE, J.; LÓPEZ-MOYA, J.J.; OSHIMA, K.; PRAVEEM, S.; RABESNSTEIN, F.; STENGER, D.; WANG, A.; ZERBINI, F.M. and ICTV Report Consortium, ICTV Virus Taxonomy Profile Potyviridae, Journal of General Virology, v. 98, p. 352-354, 2019.

Autores: Addolorata Colariccio, Silvia Regina Palazzo, Alexandre Levi Rodrigues Chaves, Marcelo Eiras, CPSV, Instituto Biológico
E-mail: addolorata.colariccio@sp.gov.br

 
Publicado em: 08/10/2020
Atualizado em: 08/10/2020
Clique na imagem para ampliar
  Instituto Biológico
  Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 1252
  Vila Mariana - - CEP 04014-002- São Paulo - SP - Brasil
  (11) 5087-1700
                                                                                                         Número de visitas:
                                                                                                                   12.371