Terça-Feira, 23 de Abril de 2024
CMV (Cucumber mosaic virus)

Hospedeiro: Capsicum annuum L. (pimentão), Solanaceae.

Agente causal: Cucumber mosaic virus (CMV).

Etiologia: Cucumber mosaic virus é uma espécie pertencente ao gênero Cucumovirus, família Bromoviridae. As partículas do cucumber mosaic virus (CMV) são isométricas, medindo de 28 a 30 nm de diâmetro, e seu genoma é constituído por três segmentos de RNA lineares de fita simples de polaridade positiva. O RNA1 (ORF 1a) e o RNA2 (ORF 2a) codificam proteínas associadas à replicação do vírus, sendo que o RNA2 (ORF 2b) também codifica uma proteína que está associada à supressão de silenciamento gênico. O RNA3 possui duas ORF: ORF 3a, que codifica a proteína de movimento (MP); e a ORF 3b, que codifica a proteína da capa (CP). A CP é expressa por meio de um RNA subgenômico (RNA4). Alguns isolados de CMV possuem RNA satélites, que não codificam proteínas e estão associados à replicação e patogenicidade. Por possuir um genoma segmentado, o CMV é sujeito a pseudo-recombinações, que juntamente com mutações e rearranjos, refletem em sua elevada variabilidade genética e no grande número de estirpes. As estirpes do CMV são classificadas em dois grupos: CMV-I e CMV-II. Análises das sequências do RNA3 de isolados do CMV indicaram que as estirpes do grupo I podem ser subdivididas em dois subgrupos (IA e IB). A identificação do subgrupo é importante, uma vez que a variabilidade das estirpes pode interferir na transmissão do vírus e na manifestação dos sintomas.
O CMV, em condições naturais, é transmitido de modo não circulativo, não persistente (durante as picadas de prova) por mais de 85 espécies de afídeos vetores. Myzus persicae e Aphis gossypii têm se mostrado as mais eficientes e prevalentes. Os afídeos desempenham um papel importante na manutenção do vírus na cultura, assim como as plantas da vegetação espontânea, que podem ser hospedeiras dos afídeos e do CMV. A transmissão do CMV por sementes foi relatada em várias espécies hospedeiras. Recentemente, demonstrou-se que o CMV subgrupo I pode ser transmitido por sementes de pimentão, embora não haja relatos de problemas fitossanitários associados a esse tipo de transmissão. Experimentalmente, o CMV pode ser transmitido mecanicamente. A ampla disseminação do CMV é resultado de sua enorme gama de hospedeiras e do grande número de espécies de afídeos vetores.

Sintomas: Em pimentão, os sintomas podem se manifestar nas folhas como mosaico, bolhas, deformação e redução do limbo (sintoma conhecido como cordão de sapato). Nas plantas, pode induzir nanismo. O vírus ainda pode causar deformação e redução do tamanho dos frutos, que se desenvolvem em forma de bolinhas.

Hospedeiros: O CMV possui uma ampla gama de hospedeiros, infectando mais de 1200 espécies pertencentes a 365 gêneros de 100 famílias botânicas. Espécies de olerícolas, frutíferas e ornamentais podem ser suscetíveis, sendo um dos vírus que mais acometem os cultivos de pimentão, sendo comum nas regiões temperadas, tropicais e subtropicais. No Brasil, exceto por alguns surtos ocasionais, apresenta uma baixa incidência.

Importância: A ocorrência do CMV em pimentão, no Brasil, vem sendo considerada relevante, devido à ocorrência de surtos isolados em cultivos nos estados de São Paulo, Sergipe e Minas Gerais. Nesses casos, foram relatadas perdas significativas de até 80%, inviabilizando a produção e qualidade do produto para comercialização, devido a indução de deformações, lesões e redução do tamanho dos frutos.

Ocorrência: O CMV infecta plantas de pimentão em regiões de cultivo dessa hortaliça em todo o mundo. Possui alta incidência nos cultivos em regiões temperadas, tropicais e subtropicais. No Brasil, foi relatado infectando pimentão Magali R, resistente ao potato virus Y (PVY), nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, com predominância de isolados do subgrupo IA, enquanto no Estado do Pará observou-se uma maior incidência de isolados do subgrupo IB em pimenta verde, de cheiro e malagueta.

Manejo: No Brasil, o CMV não é considerado um problema fitossanitário para o desenvolvimento da cultura do pimentão, embora não se descarte a possibilidade das infecções por esse vírus se tornarem importantes a partir da introdução de variedades suscetíveis. A principal medida de controle do CMV em pimentão é a utilização de cultivares resistentes, o que não tem sido uma tarefa fácil, apesar do esforço de diversas equipes de pesquisa. Genótipos resistentes, imunes ou tolerantes foram encontrados e cultivares foram desenvolvidas. No entanto, algumas responderam com tolerância variável, sendo muitas delas superadas devido à elevada variabilidade das estirpes do CMV. O manejo visando ao controle da vegetação espontânea não é uma medida recomendada, pois o CMV possui ampla gama de hospedeiras. Vale ressaltar que o controle químico dos afídeos, na maioria das vezes, é ineficaz, pois o vírus é transmitido de modo não persistente, quando os afídeos realizam as picadas de prova, processo que permite que a transmissão do vírus ocorra antes que os inseticidas tenham efeito sobre os insetos.

Referências consultadas

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Acesso em 22 de abril de 2020.

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Autores: Addolorata Colariccio, Desiré Spada dos Santos Frangioni, Alexandre Levi Rodrigues Chaves, Marcelo Eiras, CPSV, Instituto Biológico
E-mail: addolorata.colariccio@sp.gov.br

 
Publicado em: 14/10/2020
Atualizado em: 14/10/2020
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