Sábado, 27 de Abril de 2024
Mosaico do cymbidium (Cymbidium mosaic virus (CymMV))

Autores: Eliana B. Rivas; Samantha Zanotta; Larissa B.C. Vasconcelos, 1Lab. de Diagnóstico Fitopatológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Sanidade Vegetal, Instituto Biológico.

E-mail: eliana.rivas@sp.gov.br

Nome comum: vírus do mosaico do cymbidium.

Nome Científico: Cymbidium mosaic virus (CymMV), gênero Potexvirus, família Alphaflexiviridae. Sinonímias: Cymbidium black streak virus, Orchid mosaic virus.

Hospedeiros: Vanilla sp. e outros 55 gêneros de orquídeas. Atualmente, há o relato de apenas uma espécie de não-orquidácea naturalmente infectada por Cymbidium mosaic virus: a conífera Cephalotaxus hainanensis (GenBank: https://ncbi.nlm.nih.gov/nuccore/939193298).

Odontoglossum ringspot virus e Cymbidium ringspot virus, duas espécies de vírus que comumente ocorrem em orquídeas, apresentam muitas semelhanças nos modos de transmissão e no manejo da cultura e, por estas razões, as informações desses vírus serão compartilhadas.

Etiologia: Cymbidium mosaic virus é uma espécie de vírus que infecta inúmeras espécies de orquídeas, dentre elas, Vanilla sp. As partículas virais são alongado-flexuosas, com cerca de 495 nm de comprimento; seu genoma é de RNA de fita simples e senso positivo.

Não há vetor conhecido envolvido na transmissão do CymMV. Dados de literatura mostraram que embriões resultantes de sementes de plantas de Dendrobium infectadas com CymMV não estavam infectados, indicando que não houve transmissão desse vírus por sementes.

A disseminação do CymMV ocorre por propagação vegetativa de Vanilla infectada e por transmissão mecânica, i.e., através de ferimentos causados por instrumentos de corte contaminados com a seiva de plantas infectadas, durante o manejo da cultura. Uma vez que a cultura de Vanilla é perene, plantas infectadas continuam a servir de fonte de vírus por muito tempo no campo, se medidas fitossanitárias não forem adotadas.


Sintomas: Em Vanilla, o CymMV pode causar sintomas discretos, como mosqueado e mosaico nas folhas, manchas cloróticas e/ou necróticas alongadas paralelas às nervuras, necrose e enrolamento das folhas. Plantas infectadas podem apresentar redução de crescimento. Por vezes, o CymMV pode ser latente, ou seja, não induz sintomas perceptíveis em Vanilla. Os sintomas podem ser mais graves quando CymMV e Odontoglossum ringspot virus infectam a mesma planta.


Importância econômica: A infecção por CymMV pode causar prejuízos econômicos, por reduzir a produção e qualidade dos frutos, se os sintomas reduzirem a área fotossintética das folhas de Vanilla. Além disso, uma cultura com plantas infectadas demanda tratos culturais específicos e frequentes, o que pode aumentar os custos da produção.

A atenção diária quanto à presença de sintomas na cultura de Vanilla é fundamental para a rápida tomada de decisão sobre as medidas sanitárias adequadas, após confirmação do agente causal da doença.


Ocorrência: Em Vanilla, o CymMV foi relatado pela primeira vez em 1987 na Polinésia Francesa e, posteriormente, na China, França, Ilhas Fiji, Ilhas Reunião, Índia, Madagascar, México e Tonga. Relatamos aqui a primeira ocorrência de CymMV em Vanilla no Brasil.


Manejo: Para minimizar o impacto da virose, medidas profiláticas, como a introdução na cultura apenas de mudas com certificação sanitária e de plantas com resistência ao CymMV, ajudam a prevenir a presença de vírus e reduzem a taxa de infecção primária.

A eliminação de plantas sintomáticas (‘roguing’), com resultado laboratorial positivo para vírus, ajuda a reduzir a fonte desse patógeno no campo. Uma vez que, o vírus não tem vetor e a disseminação na cultura é por propagação vegetativa de plantas infectadas e por ferimentos causados por ferramentas de corte contaminadas com seiva de plantas infectadas, a multiplicação de plantas sabidamente sadias e a desinfecção das ferramentas após o uso é fundamental para ‘conter’ a disseminação do vírus.

As partículas virais do CymMV são estáveis, permanecendo infectivas por até 7 dias em temperatura ambiente, após terem sido submetidas a 60°C por 10 minutos e após tratamento com solventes orgânicos como, por exemplo, o clorofórmio. Assim, o procedimento para desinfecção das ferramentas de corte deve levar em consideração essa estabilidade da partícula viral.

A desinfecção de ferramentas e utensílios utilizados no manejo da cultura de orquídeas envolve, normalmente, a esterilização por calor (autoclavagem ou flambagem) e/ou tratamento químico com solução de fosfato trissódico (=fosfato de sódio tribásico) de 3 a 15%, hipoclorito de sódio (alvejante doméstico) entre 10% e 20%, e álcool etílico a 70%. Em laboratório, para desinfecção de materiais e vidrarias, bancadas e pisos, é utilizado um detergente neutro concentrado de tensoativos, de uso profissional, diluído a 5 a 10%; neste caso, os materiais são imersos na solução e as bancadas borrifadas com a solução e secas com papel.

O tempo de exposição das ferramentas e utensílios aos agentes para desinfecção é extremamente importante; por exemplo, é recomendado a imersão por 15 a 30 minutos na solução de fosfato trissódico pois, no caso de Cymbidium mosaic virus e também do Odontoglossum ringspot virus, 10 minutos de imersão não inativa o vírus presente nas ferramentas de corte, além disso, sugere-se limpar a ferramenta antes da imersão e trocar a solução com frequência. O inconveniente do uso da solução de fosfato trissódico é que ela deve ser manuseada com luvas e ter cuidado para evitar respingos. O uso de produtos químicos para a desinfecção deve levar em consideração a evaporação devido ao calor nas estufas, o que altera a concentração recomendada da solução e, consequentemente, a sua eficácia na inativação do vírus.

Idealmente seria desinfectar ferramentas após o corte de cada planta, mas diante da impossibilidade prática, o uso de duas ferramentas de corte para cada trabalhador para que, enquanto estiver cortando as vanillas com uma, a outra ferramenta esteja imersa na solução desinfectante, por um tempo maior que 15 minutos, é a melhor ação a ser adotada para evitar ou, pelo menos, reduzir a disseminação de vírus na cultura.

Por fim, lembramos também que as mãos podem ficar também contaminadas com a seiva de plantas infectadas, assim a higienização frequente das mãos durante a execução dos tratos culturais deve ser adotada.


Referências

BHAT, A.I.; BHADRAMURTHY, V.; SIJU, S. et al. Detection and identification of Cymbidium mosaic virus infecting vanilla (Vanilla planifolia Andrews) in India based on coat protein gene sequence relationships. J. Plant Biochem. Biotechnol., v.15, p.33–37, 2006. https://doi.org/10.1007/BF03321898

CHANG, C.A.; CHEN, H.R.; CHIU, C.H. Disinfection of Odontoglossum ringspot virus and Cymbidium mosaic virus from tools used during orchid cultivation. Acta Horticulturae, v.878, p.381-388, 2020. DOI: 10.17660/ActaHortic.2010.878.48

FRANCKI, R.I.B. Cymbidium mosaic virus. Descriptions of Plant Viruses, n.27, 1970. Disponível em: https://www.dpvweb.net/dpv/showdpv/?dpvno=27. Acesso em: 07 jun. 2023.

GRISONI, M.; DAVIDSON, F.; HYRONDELLE, C.; et al. Nature, Incidence, and Symptomatology of Viruses Infecting Vanilla tahitensis in French Polynesia. Plant Disease, v. 88, p.119-124, 2004. https://doi.org/10.1094/PDIS.2004.88.2.119

HAMILTON, R.M. Trisodium Phosphate: As a viruscide. In: The Orchid Doctor. R.M. Hamilton, Compiler and Publisher, Canadá, 1980. Disponível em: https://www.orchids.org/articles/trisodium-phosphate-as-a-viruscide. Acesso em: 07 jun. 2023.

INOUYE, N. Viruses of orchids. Blue Bird Publishers, The Netherland. 176p., 2008.

JENSEN, D. D. (1970). Virus diseases of orchids in The Netherlands. Netherlands Journal of Plant Pathology, 76(3), 135–139. doi:10.1007/bf01974319

MEERA CHETTRI DAS, ALVAREEN NONGSIANG, M WANLAMBOK SANGLYNE. Detection methods and in vitro elimination techniques for orchid viruses: A review. South African Journal of Botany, v.153, p.227-235, 2023.

PALAMA, T.L.; GRISONI, M.; FOCK-BASTIDE, I.; et al. Metabolome of Vanilla planifolia (Orchidaceae) and related species under Cymbidium mosaic virus (CymMV) infection. Plant Physiology and Biochemistry, v.60, p.25-34, 2012. https://doi.org/10.1016/j.plaphy.2012.07.015.

RIVAS, E.B.; DUARTE, L.M.L.; ALEXANDRE, M.A.V.; CHAGAS, C.M. Viroses em orquídeas no Estado de São Paulo. Arquivos do Instituto Biológico, v.63, p.31-35, 1996.

TEIXEIRA DA SILVA, JAIME A.; WINARTO, BUDI; DOBRÁNSZKI, JUDIT; CARDOSO, JEAN CARLOS; ZENG, SONGJUN. Tissue disinfection for preparation of Dendrobium in vitro culture. Folia Horticulturae, v.28, p.57-75, 2016. https://doi.org/10.1515/fhort-2016-0008

ZETTLER, F.W.; KO, N.; WISLER, G.C.; ELLIOTT, M.S.; WONG, S. Viruses of orchids and their control. Plant Disease, v.74, p.621-626, 1990.

YUEN, C.K.K.H.; KAMEMOTO, H.; ISHII, M. Transmission of cymbidium mosaic virus through seed propagation in Dendrobium. American Orchid Society Bulletin, v.48, p.1245-1247, 1979.

Como citar:

RIVAS, E.B.; ZANOTTA, S.; VASCONCELOS, L.B.C.; Cymbidium mosaic virus em Vanilla planifolia. In: Instituto Biológico. Guia de Sanidade Vegetal. Disponível em: http://www.sica.bio.br/guiabiologico/busca_culturas_resultado_ok.php?Id=251&Vlt=2. Acesso em: dia. mês (abreviado).ano.

Palavras-chave: manejo, sintomas causados por vírus, desinfecção de ferramentas de corte


 
Publicado em: 14/06/2023
Atualizado em: 14/06/2023
Clique na imagem para ampliar
  Instituto Biológico
  Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 1252
  Vila Mariana - - CEP 04014-002- São Paulo - SP - Brasil
  (11) 5087-1700
                                                                                                         Número de visitas:
                                                                                                                   13.551