Autores:
Eliana
B. Rivas; Samantha Zanotta; Larissa B.C. Vasconcelos, 1Lab.
de Diagnóstico Fitopatológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento
em Sanidade Vegetal, Instituto Biológico.
E-mail:
eliana.rivas@sp.gov.br
Nome comum: Vírus da
mancha em anel do Odontoglossum.
Nome científico:
Odontoglossum ringspot virus (ORSV), gênero Tobamovirus,
família Virgaviridae. Sinonímias: Tobacco mosaic virus
orchid strain (TMV-O). Odontoglossum ringspot virus e
Cymbidium ringspot virus (CymMV), duas espécies de vírus que
comumente ocorrem em orquídeas, apresentam muitas semelhanças nos
modos de transmissão e no manejo da cultura e, por estas razões, as
informações desses vírus serão compartilhadas.
Hospedeiros:
Vanilla
sp. e outros 32 gêneros de orquídeas.
Etiologia:
As
partículas virais de Odontoglossum
ringspot virus
são alongado-rígidas, com cerca de 300 nm de comprimento e seu
genoma é de RNA de fita simples e senso positivo.
Não
há vetor conhecido envolvido na transmissão do ORSV. Dados de
literatura mostraram que apesar do revestimento das sementes de
orquídeas terem partículas virais, o embrião resultante de semente
de planta infectada com não é infectado, indicando que não houve
transmissão desse vírus por sementes.
O
ORSV é disseminado por propagação vegetativa de Vanilla
infectada e por transmissão mecânica, ou seja, através de
ferimentos causados por instrumentos de corte contaminados com a
seiva de plantas infectadas, durante o manejo da cultura.
Uma vez que a cultura de Vanilla
é perene, plantas infectadas continuam a servir de fonte de vírus
por muito tempo no campo, se medidas fitossanitárias não forem
adotadas.
Sintomas:
o
ORSV, geralmente, não induz sintomas em Vanilla,
mas sintomas como pequenas manchas e mosqueado discreto podem estar
presentes nas folhas de plantas infectadas. Sintomas mais drásticos
podem ocorrer quando CymMV e ORSV infectam a mesma planta.
Importância econômica: A
infecção por ORSV pode causar prejuízos econômicos se os sintomas
reduzirem a área fotossintética das folhas
de Vanilla.
Uma cultura com plantas infectadas demanda tratos culturais
específicos e frequentes, o que pode aumentar os custos da produção.
A
atenção diária quanto à presença de sintomas na cultura de
Vanilla
é fundamental para a rápida tomada de decisão sobre as medidas
sanitárias adequadas, após confirmação do agente causal da
doença.
Ocorrência:
Em Vanilla,
o ORSV foi relatado pela primeira vez em 1987 na Polinésia Francesa
e, posteriormente, no Pacífico Sul (Cook Islands, Fiji, Niue, Tonga
e Vanuatu) na Índia, Madagascar e México.
Relatamos aqui a primeira ocorrência de ORSV em Vanilla
no Brasil.
Manejo:
Para minimizar o impacto da virose, medidas profiláticas, como a
introdução na cultura apenas de mudas com certificação sanitária
e de plantas com resistência ao ORSV, ajudam a prevenir a presença
de vírus e reduzem a taxa de infecção primária.
A
eliminação de plantas sintomáticas (‘roguing’), com resultado
laboratorial positivo para vírus, ajuda a reduzir a fonte desse
patógeno no campo.
Uma vez que, o vírus não tem vetor e a disseminação na cultura é
por propagação vegetativa de plantas infectadas e por ferimentos
causados por ferramentas de corte contaminadas com seiva de plantas
infectadas, a multiplicação de plantas sabidamente sadias e a
desinfecção das ferramentas após o uso é fundamental para
‘conter’ a disseminação do vírus.
As
partículas virais do ORSV são muito estáveis, permanecendo
infectivas por vários dias em temperatura ambiente, após terem sido
submetidas a 85°C por 10 minutos e após tratamento com clorofórmio.
Assim, o procedimento para desinfecção das ferramentas de corte
deve levar em consideração a estabilidade da partícula viral.
A
desinfecção de ferramentas e utensílios utilizados no manejo da
cultura de orquídeas envolve, normalmente, a esterilização por
calor (autoclavagem ou flambagem) e/ou
tratamento
químico com solução de fosfato trissódico (=fosfato de sódio
tribásico) de 3 a 15%, hipoclorito de sódio (alvejante doméstico)
entre 10% e 20%, e álcool etílico a 70%. Em laboratório, para
desinfecção de materiais e vidrarias, bancadas e pisos, é
utilizado um
detergente
neutro concentrado de tensoativos, de uso profissional, diluído a 5
a 10%; neste caso, os materiais são imersos na solução e as
bancadas borrifadas com a solução e secas com papel.
O
tempo de exposição das ferramentas e utensílios aos agentes para
desinfecção é extremamente importante; por exemplo, é recomendado
a imersão por 15 a 30 minutos na solução de fosfato trissódico
pois, no caso do Odontoglossum
ringspot virus,
10 minutos de imersão não inativa o vírus presente nas ferramentas
de corte, além disso, sugere-se limpar a ferramenta antes da imersão
e trocar a solução com frequência. O inconveniente do uso da
solução de fosfato trissódico é que ela deve ser manuseada com
luvas e ter cuidado para evitar respingos. O uso de produtos químicos
para a desinfecção deve levar em consideração a evaporação
devido ao calor nas estufas, o que altera a concentração
recomendada da solução e, consequentemente, a sua eficácia na
inativação do vírus.
Estudos
realizados com Tobacco
mosaic virus (TMV),
mostraram que a solução de leite em pó desnatado a 0,2 g/mL + 0,1%
de Tween-20 reduziu a zero a transmissão do vírus por lâminas
contaminadas. Embora o TMV seja uma espécie do mesmo gênero de ORSV
e também possua alta estabilidade das partículas virais, é
necessário que testes científicos sejam feitos com ORSV para
validar o uso da solução de leite em pó desnatado para desinfecção
de ferramentas contaminadas com esse vírus.
Idealmente
seria desinfectar ferramentas após o corte de cada planta, mas
diante da impossibilidade prática, o uso de duas ferramentas de
corte para cada trabalhador para que, enquanto estiver cortando as
vanillas com uma, a outra ferramenta esteja imersa na solução
desinfectante, por um tempo maior que 15 minutos, é a melhor ação
a ser adotada para evitar ou, pelo menos, reduzir a disseminação de
vírus na cultura.
Por
fim, lembramos também que as mãos podem ficar também contaminadas
com a seiva de plantas infectadas, assim a higienização frequente
das mãos durante a execução dos tratos culturais deve ser adotada.
Referências
CHANG,
C.A.; CHEN, H.R.; CHIU, C.H. Disinfection of Odontoglossum ringspot
virus and Cymbidium mosaic virus from tools used during orchid
cultivation. Acta
Horticulturae,
v.878, p.381-388, 2020. DOI: 10.17660/ActaHortic.2010.878.48
GRISONI,
M.; DAVIDSON, F.; HYRONDELLE, C.; et al. Nature, Incidence, and
Symptomatology of Viruses Infecting Vanilla
tahitensis
in French Polynesia. Plant
Disease,
v. 88, p.119-124, 2004. https://doi.org/10.1094/PDIS.2004.88.2.119
HAMILTON,
R.M. Trisodium Phosphate: As a viruscide. In:
The Orchid
Doctor.
R.M. Hamilton, Compiler and Publisher, Canadá, 1980. Disponível em:
https://www.orchids.org/articles/trisodium-phosphate-as-a-viruscide.
Acesso em: 07 jun. 2023.
INOUYE,
N. Viruses of
orchids.
Blue Bird Publishers, The Netherland. 176p., 2008.
JENSEN,
D. D. (1970). Virus diseases of orchids in The Netherlands.
Netherlands
Journal of Plant Pathology,
76(3), 135–139. doi:10.1007/bf01974319
LEWANDOWSKI,
D.J.; HAYES, A.J.; ADKINS, S. Surprising results from a search for
effective disinfectants for Tobacco
mosaic virus–contaminated
tools. Plant
Disease,
v.94, p.542-550, 2010.
MAHFUT;
DARYONO, B.S.; INDRIANTO, A.; SOMOWIYARJO, S. effectiveness test of
orchid mycorrhizal isolate (Ceratorhiza
and Trichoderma).
Indonesia and its role as a biofertilizer. Annual
Research & Review in Biology,
v.33, p.1-7, 2019.
MEERA
CHETTRI DAS, ALVAREEN NONGSIANG, M WANLAMBOK SANGLYNE. Detection
methods and in vitro elimination techniques for orchid viruses: A
review. South
African Journal of Botany,
v.153, p.227-235, 2023.
PAUL,
H.L. Odontoglossum
ringspot virus.
Descriptions of
Plant Viruses,
n.155, 1975. Disponível em:
https://www.dpvweb.net/dpv/showdpv/?dpvno=155. Acesso em: 07 jun.
2023.
RIVAS,
E.B.; DUARTE, L.M.L.; ALEXANDRE, M.A.V.; CHAGAS, C.M. Viroses em
orquídeas no Estado de São Paulo. Arquivos
do Instituto Biológico,
v.63, p.31-35, 1996.
TEIXEIRA
DA SILVA, JAIME A.; WINARTO, BUDI; DOBRÁNSZKI, JUDIT; CARDOSO, JEAN
CARLOS; ZENG, SONGJUN. Tissue disinfection for preparation of
Dendrobium in vitro culture. Folia
Horticulturae,
v.28, p.57-75, 2016. https://doi.org/10.1515/fhort-2016-0008
ZETTLER,
F.W.; KO, N.; WISLER, G.C.; ELLIOTT, M.S.; WONG, S. Viruses of
orchids and their control. Plant
Disease,
v.74, p.621-626, 1990.
Como
citar:
RIVAS,
E.B.; ZANOTTA, S.; VASCONCELOS, L.B.C.; Odontoglossum
ringspot
virus em Vanilla
planifolia.
In: Instituto Biológico. Guia de Sanidade Vegetal. Disponível em: http://www.sica.bio.br/guiabiologico/busca_culturas_resultado_ok.php?Id=253&Vlt=2.
Acesso
em: dia. mês (abreviado).ano.
Palavras-chave:
manejo, sintomas causados por vírus, desinfecção de
ferramentas