Sábado, 27 de Abril de 2024
Mancha em anel do Odontoglossum (Odontoglossum ringspot virus (ORSV))

Autores: Eliana B. Rivas; Samantha Zanotta; Larissa B.C. Vasconcelos, 1Lab. de Diagnóstico Fitopatológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Sanidade Vegetal, Instituto Biológico.

E-mail: eliana.rivas@sp.gov.br

Nome comum: Vírus da mancha em anel do Odontoglossum.

Nome científico: Odontoglossum ringspot virus (ORSV), gênero Tobamovirus, família Virgaviridae. Sinonímias: Tobacco mosaic virus orchid strain (TMV-O). Odontoglossum ringspot virus e Cymbidium ringspot virus (CymMV), duas espécies de vírus que comumente ocorrem em orquídeas, apresentam muitas semelhanças nos modos de transmissão e no manejo da cultura e, por estas razões, as informações desses vírus serão compartilhadas.

Hospedeiros: Vanilla sp. e outros 32 gêneros de orquídeas.

Etiologia: As partículas virais de Odontoglossum ringspot virus são alongado-rígidas, com cerca de 300 nm de comprimento e seu genoma é de RNA de fita simples e senso positivo.

Não há vetor conhecido envolvido na transmissão do ORSV. Dados de literatura mostraram que apesar do revestimento das sementes de orquídeas terem partículas virais, o embrião resultante de semente de planta infectada com não é infectado, indicando que não houve transmissão desse vírus por sementes.

O ORSV é disseminado por propagação vegetativa de Vanilla infectada e por transmissão mecânica, ou seja, através de ferimentos causados por instrumentos de corte contaminados com a seiva de plantas infectadas, durante o manejo da cultura. Uma vez que a cultura de Vanilla é perene, plantas infectadas continuam a servir de fonte de vírus por muito tempo no campo, se medidas fitossanitárias não forem adotadas.

Sintomas: o ORSV, geralmente, não induz sintomas em Vanilla, mas sintomas como pequenas manchas e mosqueado discreto podem estar presentes nas folhas de plantas infectadas. Sintomas mais drásticos podem ocorrer quando CymMV e ORSV infectam a mesma planta.

Importância econômica: A infecção por ORSV pode causar prejuízos econômicos se os sintomas reduzirem a área fotossintética das folhas de Vanilla. Uma cultura com plantas infectadas demanda tratos culturais específicos e frequentes, o que pode aumentar os custos da produção.

A atenção diária quanto à presença de sintomas na cultura de Vanilla é fundamental para a rápida tomada de decisão sobre as medidas sanitárias adequadas, após confirmação do agente causal da doença.

Ocorrência: Em Vanilla, o ORSV foi relatado pela primeira vez em 1987 na Polinésia Francesa e, posteriormente, no Pacífico Sul (Cook Islands, Fiji, Niue, Tonga e Vanuatu) na Índia, Madagascar e México. Relatamos aqui a primeira ocorrência de ORSV em Vanilla no Brasil.

Manejo: Para minimizar o impacto da virose, medidas profiláticas, como a introdução na cultura apenas de mudas com certificação sanitária e de plantas com resistência ao ORSV, ajudam a prevenir a presença de vírus e reduzem a taxa de infecção primária.

A eliminação de plantas sintomáticas (‘roguing’), com resultado laboratorial positivo para vírus, ajuda a reduzir a fonte desse patógeno no campo. Uma vez que, o vírus não tem vetor e a disseminação na cultura é por propagação vegetativa de plantas infectadas e por ferimentos causados por ferramentas de corte contaminadas com seiva de plantas infectadas, a multiplicação de plantas sabidamente sadias e a desinfecção das ferramentas após o uso é fundamental para ‘conter’ a disseminação do vírus.

As partículas virais do ORSV são muito estáveis, permanecendo infectivas por vários dias em temperatura ambiente, após terem sido submetidas a 85°C por 10 minutos e após tratamento com clorofórmio. Assim, o procedimento para desinfecção das ferramentas de corte deve levar em consideração a estabilidade da partícula viral.

A desinfecção de ferramentas e utensílios utilizados no manejo da cultura de orquídeas envolve, normalmente, a esterilização por calor (autoclavagem ou flambagem) e/ou tratamento químico com solução de fosfato trissódico (=fosfato de sódio tribásico) de 3 a 15%, hipoclorito de sódio (alvejante doméstico) entre 10% e 20%, e álcool etílico a 70%. Em laboratório, para desinfecção de materiais e vidrarias, bancadas e pisos, é utilizado um detergente neutro concentrado de tensoativos, de uso profissional, diluído a 5 a 10%; neste caso, os materiais são imersos na solução e as bancadas borrifadas com a solução e secas com papel.

O tempo de exposição das ferramentas e utensílios aos agentes para desinfecção é extremamente importante; por exemplo, é recomendado a imersão por 15 a 30 minutos na solução de fosfato trissódico pois, no caso do Odontoglossum ringspot virus, 10 minutos de imersão não inativa o vírus presente nas ferramentas de corte, além disso, sugere-se limpar a ferramenta antes da imersão e trocar a solução com frequência. O inconveniente do uso da solução de fosfato trissódico é que ela deve ser manuseada com luvas e ter cuidado para evitar respingos. O uso de produtos químicos para a desinfecção deve levar em consideração a evaporação devido ao calor nas estufas, o que altera a concentração recomendada da solução e, consequentemente, a sua eficácia na inativação do vírus.

Estudos realizados com Tobacco mosaic virus (TMV), mostraram que a solução de leite em pó desnatado a 0,2 g/mL + 0,1% de Tween-20 reduziu a zero a transmissão do vírus por lâminas contaminadas. Embora o TMV seja uma espécie do mesmo gênero de ORSV e também possua alta estabilidade das partículas virais, é necessário que testes científicos sejam feitos com ORSV para validar o uso da solução de leite em pó desnatado para desinfecção de ferramentas contaminadas com esse vírus.

Idealmente seria desinfectar ferramentas após o corte de cada planta, mas diante da impossibilidade prática, o uso de duas ferramentas de corte para cada trabalhador para que, enquanto estiver cortando as vanillas com uma, a outra ferramenta esteja imersa na solução desinfectante, por um tempo maior que 15 minutos, é a melhor ação a ser adotada para evitar ou, pelo menos, reduzir a disseminação de vírus na cultura.

Por fim, lembramos também que as mãos podem ficar também contaminadas com a seiva de plantas infectadas, assim a higienização frequente das mãos durante a execução dos tratos culturais deve ser adotada.

Referências

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Como citar:

RIVAS, E.B.; ZANOTTA, S.; VASCONCELOS, L.B.C.Odontoglossum ringspot virus em Vanilla planifolia. In: Instituto Biológico. Guia de Sanidade Vegetal. Disponível em: http://www.sica.bio.br/guiabiologico/busca_culturas_resultado_ok.php?Id=253&Vlt=2.

Acesso em: dia. mês (abreviado).ano.

Palavras-chave: manejo, sintomas causados por vírus, desinfecção de ferramentas

 
Publicado em: 15/06/2023
Atualizado em: 15/06/2023
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