Domingo, 28 de Abril de 2024
Hérnia (Plasmodiophora brassicae Woronin 1877)

Autores: Jesus G. Tofoli; Ricardo José Domingues - APTA/Instituto Biológico. E-mail: jesus.tofoli@sp.gov.br

Etiologia: Plasmodiophora brassicae, agente causal da hérnia das brássicas, é um parasita biotrófico que pertence ao Reino Chromista, Filo Cercozoa, Classe Phytomycea, Ordem Plasmodiophorida, Família Plasmodiophoridae. Produz uma massa multinucleada, denominada plasmódio, que na fase reprodutiva origina zoosporângios, zoósporos e esporos de resistência. Trata-se de um microrganismo taxonomicamente próximo dos protozoários, que necessita de raízes vivas do hospedeiro para que possa sobreviver e completar o seu ciclo de vida.

Hospedeiros:  repolho (Brassica oleracea var. capitata), couve (Brassica oleracea var. acephala), brócolis (Brassica oleracea var. italica), couve-de-Bruxelas (Brassica oleracea var. gemmifera), couve-flor (Brassica oleracea var. botrytis), couve-rabano (Brassica oleracea var. gongylodes),couve-chinesa (Brassica rapa subsp. pekinensis), pak-choi (Brassica rapa subsp. chinensis), nabo (Brassica rapa subsp. rapa),canola (Brassica napus subsp. oleifera), colza (Brassica rapa subsp. oleifera), rúcula (Eruca vesicaria subsp. sativa), mostarda (Brassica juncea), rabanete (Raphanus sativus), agrião (Nasturtium officinale) e raiz-forte (Armoracia rusticana).

Sintomas: a doença afeta o sistema radicular sendo caracterizada pela formação de galhas (tumores) que dificultam a absorção de água e nutrientes pela planta, causando sintomas reflexos como: deficiência nutricional, subdesenvolvimento, amarelecimento, murcha progressiva e morte das plantas. As galhas são irregulares, brancas, sólidas e formam-se devido à multiplicação rápida e crescimento excessivo das células das raízes, induzidos pelo patógeno. Posteriormente, essas tornam-se acastanhadas, com textura macia e esponjosas. Os danos às raízes podem variar em função da quantidade de inóculo no solo, das condições climáticas predominantes e do nível de resistência do hospedeiro ao patógeno.

Epidemiologia: na presença de raízes de hospedeiros suscetíveis e condições climáticas favoráveis, os esporos de resistência presentes no solo germinam e produzem zoósporos que nadam na água livre e infectam os pelos radiculares. Em seguida, plasmódios são produzidos no interior das raízes e esses, por sua vez, originam os zoosporângios que liberam zoósporos secundários e que dão origem a novas infecções. A presença de plasmódios nas raízes faz com que as células se multipliquem de forma descontrolada e promovam a formação de galhas distorcidas. Os plasmódios maduros originam a formação de esporos de resistência, esféricos e com parede dupla, que são liberados no solo após a morte das galhas ou a invasão dessas por organismos secundários. Os esporos de resistência do patógeno podem permanecer viáveis no solo por até 18 anos. A concentração do inóculo desempenha um papel importante na incidência e severidade da doença. Estudos indicaram que a expressão dos sintomas é dependente da presença de um potencial inicial de infecção de aproximadamente 1.000–10.000 esporos por grama de solo. Acima desse limite, o aumento da concentração de esporos pode gerar maior severidade da doença e perdas de rendimento.

A doença é favorecida por solos ácidos, frios (15 a 21°C), úmidos (acima de 70 %), compactos, com baixos teores de matéria orgânica, cálcio e boro. Elevada umidade relativa do ar e temperaturas que variam de 12 a 25°C também são condições que favorecem a doença. O cultivo sucessivo de brássicas em áreas infestadas pode elevar de forma significativa o potencial de inóculo, inviabilizando no futuro o cultivo econômico dessas culturas.

A disseminação do patógeno ocorre principalmente através de mudas doentes, água de irrigação contaminada e solo infestado aderido às botas, equipamentos, implementos, ferramentas e veículos.

Além das brássicas cultivadas, P. brassicae pode infectar plantas invasoras da mesma família como: agrião bravo (Cardamine sp.), mostarda-do-campo (Brassica rapa subsp. campestris., Sinapis sp.), rinchão (Sisymbrium officinale) e mastrus (Lepidium virginicum).

Importância: a hérnia representa uma das doenças com maior potencial destrutivo e maior dificuldade de controle no cultivo de brássicas. Quando não manejada corretamente a doença pode inviabilizar o cultivo econômico causando sérios prejuízos ao produtor, especialmente quando plantas jovens são infectadas.

Manejo:

- Evitar o plantio em áreas com histórico recente da doença;

- Preparo adequado do solo eliminando áreas compactas;

- Plantio de mudas sadias;

- Eliminação de plantas voluntárias e plantas daninhas hospedeiras;

- Correção do pH do solo para 6,5-7,2. Cabe lembrar que manter o pH do solo próximo de 7,0 desfavorece a absorção de cálcio e boro pela planta. Desse modo é recomendável realizar adubações foliares com estes nutrientes;

- Adubação equilibrada. A suplementação adequada de cálcio reduz a severidade da hérnia. O cálcio permite que as células radiculares se tornem mais resistentes o que dificulta a penetração do patógeno. O cálcio liberado no solo através da calagem também tem um papel muito importante no manejo da doença, pois reduz a germinação de esporos de resistência. O uso de matéria orgânica livre de patógenos também favorece o desenvolvimento de uma microflora benéfica que, ao competir por alimento e espaço, reduz a população de patógenos;

- Cultivares/híbridos: Sempre que possível optar por materiais com algum nível de resistência a doença. A consulta a catálogos de empresas produtoras de sementes e a assistência técnica regional podem auxiliar na escolha dos melhores materiais para cada região;

- A aplicação preventiva de fungicidas registrados deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose; volume; momento da aplicação; intervalo e número de pulverizações; intervalo de segurança; uso de equipamento de proteção individual (EPI); armazenamento e descarte de embalagens etc. O fungicida ciazofamida encontra-se registrado no MAPA para o controle da hérnia nas culturas de couve, repolho, couve-flor, couve-chinesa e brócolis.

- Limpeza e desinfestação de botas, ferramentas, equipamentos e rodas de veículos para evitar a disseminação da doença pela propriedade e pela região.


Referências:

MARINGONI AC. SILVA JR., T.A.F. Doenças das Brássicas. In: AMORIM L; REZENDE JAM. BERGAMIN FILHO A; CAMARGO LEA; (EDS). Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 5. ed. São Paulo: Agronômica Ceres 2: 2016, p.315-324.

KOIKE, S.T.; GLADDERS, P.; PAULUS, A.O. Vegetable diseases: a colour handbook. St. Paul: APS, 2007. 448p.

TÖFOLI, J.G.; DOMINGUES, R.J. Doenças fúngicas em brássicas. PROSAF. Instituto Biológico. http://www.biologico.sp.gov.br/uploads/files/pdf/prosaf/apostilas/doencas_fungicas_brassicas.pdf

TÖFOLI, J.G.; DOMINGUES, R.J. Doenças causadas por fungos e chromistas. In: CHAVES, A.L.R.; TOFOLI, J.G. Brássicas: doenças, plantas daninhas e manejo. São Paulo: Instituto Biológico, 2024. p. 40-93.


Como citar:

TÖFOLI, J. G.; DOMINGUES, R.J. Brássicas (Brassica spp.): Hérnia (Plasmodiophora brassicae). In: Instituto Biológico. Guia de Sanidade Vegetal. Disponível em: https://www.sica.bio.br/guiabiologico/busca_culturas_resultado_ok.php?Id=261&Vlt=2. Acesso em: dia. mês (abreviado).ano.

Palavras-chave: patógenos de solo, hérnia das crucíferas, raízes inchadas, plantas murchas.

 
Publicado em: 14/03/2024
Atualizado em: 14/03/2024
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