Autores:
Jesus G. Tofoli; Ricardo José Domingues - APTA/Instituto Biológico.
E-mail: jesus.tofoli@sp.gov.br
Etiologia:
Plasmodiophora brassicae, agente causal da hérnia das
brássicas, é um parasita biotrófico que pertence ao Reino
Chromista, Filo Cercozoa, Classe Phytomycea, Ordem Plasmodiophorida,
Família Plasmodiophoridae. Produz uma massa multinucleada,
denominada plasmódio, que na fase reprodutiva origina zoosporângios,
zoósporos e esporos de resistência. Trata-se de um microrganismo
taxonomicamente próximo dos protozoários, que necessita de raízes
vivas do hospedeiro para que possa sobreviver e completar o seu ciclo
de vida.
Hospedeiros:
repolho (Brassica
oleracea var. capitata), couve (Brassica
oleracea var. acephala), brócolis (Brassica
oleracea var. italica), couve-de-Bruxelas
(Brassica oleracea var. gemmifera), couve-flor (Brassica
oleracea var. botrytis), couve-rabano
(Brassica oleracea var. gongylodes),couve-chinesa (Brassica rapa subsp. pekinensis), pak-choi (Brassica
rapa subsp. chinensis), nabo (Brassica rapa subsp. rapa),canola
(Brassica napus subsp. oleifera), colza (Brassica rapa subsp. oleifera), rúcula (Eruca
vesicaria subsp. sativa), mostarda
(Brassica juncea), rabanete (Raphanus sativus), agrião (Nasturtium officinale) e raiz-forte (Armoracia rusticana).
Sintomas:
a doença afeta o sistema radicular sendo caracterizada pela formação
de galhas (tumores) que dificultam a absorção de água e nutrientes
pela planta, causando sintomas reflexos como: deficiência
nutricional, subdesenvolvimento, amarelecimento, murcha progressiva e
morte das plantas. As galhas são irregulares, brancas, sólidas e
formam-se devido à multiplicação rápida e crescimento excessivo
das células das raízes, induzidos pelo patógeno. Posteriormente,
essas tornam-se acastanhadas, com textura macia e esponjosas. Os
danos às raízes podem variar em função da quantidade de inóculo
no solo, das condições climáticas predominantes e do nível de
resistência do hospedeiro ao patógeno.
Epidemiologia:
na presença de raízes de hospedeiros suscetíveis e condições
climáticas favoráveis, os esporos de resistência presentes no solo
germinam e produzem zoósporos que nadam na água livre e infectam os
pelos radiculares. Em seguida, plasmódios são produzidos no
interior das raízes e esses, por sua vez, originam os zoosporângios
que liberam zoósporos secundários e que dão origem a novas
infecções. A presença de plasmódios nas raízes faz com que as
células se multipliquem de forma descontrolada e promovam a formação
de galhas distorcidas. Os plasmódios maduros originam a formação
de esporos de resistência, esféricos e com parede dupla, que são
liberados no solo após a morte das galhas ou a invasão dessas por
organismos secundários. Os esporos de resistência do patógeno
podem permanecer viáveis no solo por até 18 anos. A concentração
do inóculo desempenha um papel importante na incidência e
severidade da doença. Estudos indicaram que a expressão dos
sintomas é dependente da presença de um potencial inicial de
infecção de aproximadamente 1.000–10.000 esporos por grama de
solo. Acima desse limite, o aumento da concentração de esporos pode
gerar maior severidade da doença e perdas de rendimento.
A
doença é favorecida por solos ácidos, frios (15 a 21°C), úmidos
(acima de 70 %), compactos, com baixos teores de matéria orgânica,
cálcio e boro. Elevada umidade relativa do ar e temperaturas que
variam de 12 a 25°C também são condições que favorecem a doença.
O cultivo sucessivo de brássicas em áreas infestadas pode elevar de
forma significativa o potencial de inóculo, inviabilizando no futuro
o cultivo econômico dessas culturas.
A
disseminação do patógeno ocorre principalmente através de mudas
doentes, água de irrigação contaminada e solo infestado aderido às
botas, equipamentos, implementos, ferramentas e veículos.
Além
das brássicas cultivadas, P. brassicae pode infectar plantas
invasoras da mesma família como: agrião bravo (Cardamine
sp.), mostarda-do-campo (Brassica rapa subsp. campestris.,
Sinapis sp.), rinchão (Sisymbrium officinale) e
mastrus (Lepidium virginicum).
Importância:
a hérnia representa uma das doenças com maior potencial destrutivo
e maior dificuldade de controle no cultivo de brássicas. Quando não
manejada corretamente a doença pode inviabilizar o cultivo econômico
causando sérios prejuízos ao produtor, especialmente quando plantas
jovens são infectadas.
Manejo:
-
Evitar o plantio em áreas com histórico recente da doença;
-
Preparo adequado do solo eliminando áreas compactas;
-
Plantio de mudas sadias;
-
Eliminação de plantas voluntárias e plantas daninhas hospedeiras;
-
Correção do pH do solo para 6,5-7,2. Cabe lembrar que manter o pH
do solo próximo de 7,0 desfavorece a absorção de cálcio e boro
pela planta. Desse modo é recomendável realizar adubações
foliares com estes nutrientes;
-
Adubação equilibrada. A suplementação adequada de cálcio reduz a
severidade da hérnia. O cálcio permite que as células radiculares
se tornem mais resistentes o que dificulta a penetração do
patógeno. O cálcio liberado no solo através da calagem também tem
um papel muito importante no manejo da doença, pois reduz a
germinação de esporos de resistência. O uso de matéria orgânica
livre de patógenos também favorece o desenvolvimento de uma
microflora benéfica que, ao competir por alimento e espaço, reduz a
população de patógenos;
-
Cultivares/híbridos: Sempre que possível optar por materiais com
algum nível de resistência a doença. A consulta a catálogos de
empresas produtoras de sementes e a assistência técnica regional
podem auxiliar na escolha dos melhores materiais para cada região;
-
A aplicação preventiva de fungicidas registrados deve seguir todas
as recomendações do fabricante quanto à dose; volume; momento da
aplicação; intervalo e número de pulverizações; intervalo de
segurança; uso de equipamento de proteção individual (EPI);
armazenamento e descarte de embalagens etc. O fungicida ciazofamida
encontra-se registrado no MAPA para o controle da hérnia nas
culturas de couve, repolho, couve-flor, couve-chinesa e brócolis.
-
Limpeza e desinfestação de botas, ferramentas, equipamentos e rodas
de veículos para evitar a disseminação da doença pela propriedade
e pela região.
Referências:
MARINGONI
AC. SILVA JR., T.A.F. Doenças das Brássicas. In: AMORIM L;
REZENDE JAM. BERGAMIN FILHO A; CAMARGO LEA; (EDS). Manual de
fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 5. ed. São Paulo:
Agronômica Ceres 2: 2016, p.315-324.
KOIKE,
S.T.; GLADDERS, P.; PAULUS, A.O. Vegetable diseases: a colour
handbook. St. Paul: APS, 2007. 448p.
TÖFOLI,
J.G.; DOMINGUES, R.J. Doenças
fúngicas em brássicas.
PROSAF. Instituto Biológico.
http://www.biologico.sp.gov.br/uploads/files/pdf/prosaf/apostilas/doencas_fungicas_brassicas.pdf
TÖFOLI,
J.G.; DOMINGUES, R.J. Doenças causadas por fungos e chromistas.
In: CHAVES, A.L.R.; TOFOLI, J.G. Brássicas: doenças, plantas
daninhas e manejo. São Paulo: Instituto Biológico, 2024. p. 40-93.
Como
citar:
TÖFOLI,
J. G.; DOMINGUES, R.J. Brássicas (Brassica spp.): Hérnia
(Plasmodiophora brassicae). In: Instituto Biológico. Guia de
Sanidade Vegetal. Disponível em:
https://www.sica.bio.br/guiabiologico/busca_culturas_resultado_ok.php?Id=261&Vlt=2.
Acesso em: dia. mês (abreviado).ano.
Palavras-chave:
patógenos de solo, hérnia das crucíferas, raízes inchadas,
plantas murchas.