Terça-Feira, 16 de Abril de 2024
Mosaico (Sugarcane mosaic virus)

Hospedeiros: Saccharum ssp. (cana-de-açúcar) e Zea mays (milho).

Agente causal: Sugarcane mosaic virus (SCMV), gênero Potyvirus, família Potyviridae.

Etiologia: o agente causal do mosaico em cana-de-açúcar e milho, no Brasil, é o Sugarcane mosaic virus (SCMV) também conhecido como vírus do mosaico da cana de açúcar ou mosaico comum do milho. As várias estirpes do SCMV diferem em sua habilidade de causar infecção no hospedeiro e no tipo e severidade dos sintomas. Esse vírus e suas diversas estirpes pertencem à família Potyviridae, gênero Potyvirus, um dos maiores e economicamente mais importantes gêneros de vírus que infectam plantas. O SMCV possui partículas alongadas e flexuosas com aproximadamente 750nm de comprimento e provoca inclusões citoplasmáticas típicas dos potyvirus, como cataventos, agregados laminares e túbulos. O SCMV pode ser transmitido por várias espécies de pulgões, dentre as quais Rhopalosiphum maidis, Schizaphis graminum e Myzus persicae, todos comumente encontrados no Brasil. O principal vetor no Brasil é o afídeo R. maidis, que além de incidir sobre a cultura da cana-de-açúcar, coloniza e transmite o vírus para a cultura do milho, principal planta hospedeira do inseto. A transmissão é do tipo não persistente e os períodos de acesso de aquisição e de transmissão duram de poucos segundos a minutos; por sua vez, o período de retenção pode durar algumas horas.

Sintomas: os sintomas iniciais da infecção pelo vírus consistem em pontos cloróticos com disposição linear, no meio, ou mais comumente na base das folhas, que evoluem para áreas alongadas formando um mosaico típico, o qual pode aumentar em severidade com a idade da folha. Geralmente, as áreas cloróticas são difusas, mas podem variar com contornos mais definidos dependendo da variedade infectada e da estirpe viral. As áreas cloróticas são mais evidentes na base das folhas, podendo atingir a bainha foliar. A infecção também pode ser acompanhada por vários graus de necrose foliar em cana-de-açúcar. O crescimento das plantas pode ser acentuadamente reduzido conforme a estirpe do vírus e a variedade de milho ou cana cultivadas, principalmente quando a infecção ocorre nos estágios iniciais de desenvolvimento. Ocasionalmente, em variedades de cana altamente suscetíveis podem ocorrer riscas e estrias nos colmos e encurtamento dos entrenós.

Importância: as perdas estimadas na produção variam grandemente dependendo do período considerado e da área cultivada envolvida, podendo atingir grandes proporções. Historicamente, esta foi a principal doença de etiologia viral da cultura canavieira no Brasil. Diversas epidemias da doença ocorreram no país na década de 1920, sendo controladas pela substituição das variedades susceptíveis por híbridos resistentes, no início da década de 1930. Posteriormente, com a suposta erradicação do mosaico, variedades suscetíveis voltaram a ser plantadas pelos agricultores, ocasionando novos ciclos da doença. Atualmente, a doença está relativamente controlada no país com o uso de variedades resistentes, porém, freqüentemente observam-se plantas sintomáticas em plantios comerciais de cana e milho. O vírus incide também sobre outras gramíneas cultivadas, dentre as quais o sorgo (Sorghum bicolor) e sobre diversas espécies de plantas invasoras. O grande aumento da área plantada de cana-de-açúcar no país nos últimos anos, associado ao cultivo do milho na safrinha (milho semeado entre janeiro e março), têm proporcionado a sobreposição de ciclos dessas culturas e, conseqüentemente, a maior exposição aos afídeos vetores da doença. Esses fatos têm contribuído para a maior disseminação e incidência do mosaico, além da manutenção da fonte de inóculo no campo. Em conseqüência, novas estirpes do vírus estão se disseminando e o mosaico continua a ser uma das doenças que podem causar grandes prejuízos, principalmente à cultura da cana-de-açúcar.

Ocorrência: ocorre em todos os principais países produtores de cana de açúcar e milho.

Manejo: o uso de variedades resistentes de cana-de-açúcar e milho associado à prática do “roguing", para viveiros de mudas de cana, consistem no modo mais eficiente de controle.
A taxa de distribuição do mosaico no campo é influenciada principalmente pelos fatores: (i) nível de tolerância da variedade plantada; (ii) estirpe do vírus presente; (iii) número e distribuição dos focos de infecção; (iv) número, tipo e atividade de insetos vetores; (v) e condições climáticas que afetam a suscetibilidade da cultura e a atividade dos vetores.
Aplicações de inseticidas para o controle dos vetores, na tentativa de prevenir a disseminação do vírus, não são efetivas e mostram-se economicamente inviáveis, devido à relação vírus vetor ser do tipo não-persistente (ver item Etiologia). Por este motivo, o emprego de mudas sadias na formação dos canaviais é imprescindível para evitar fontes de inóculo e a potencial disseminação do vírus pelos afídeos. A frequente utilização de novos cultivares de milho no país, associada ao aumento da área plantada e ao cultivo na safrinha, têm aumentado a incidência do mosaico nessa cultura e em campos de cana-de-açúcar próximos a lavouras de milho. Conforme mencionado, isto tem causado o surgimento de novas estirpes e a aumentado a disseminação da doença no país. Levantamentos periódicos do SCMV são imprescindíveis e a constatação de novas estirpes deve ser considerada nas avaliações de cultivares nos programas de melhoramento genético das culturas.

Referência consultada

GONÇALVES, M.C. et al. Sugarcane yellow leaf virus infection leads to alterations in photosynthetic efficiency and carbohydrate accumulation in sugarcane leaves. Fitopatologia Brasileira, Fortaleza, v.30, p.10-16, 2005.

GONÇALVES, M.C. et al. Caracterização de um isolado do Sugarcane mosaic virus que quebra a resistência de variedades comerciais de cana-de-açúcar. Tropical Plant Pathology, Lavras, v.32, p. 32-39, 2007.

GONÇALVES, M.C. et al. Infecção mista pelo Sugarcane mosaic virus e Maize rayado fino virus provoca danos na cultura do milho no estado de São Paulo. Summa Phytopathologica, v.33, p.22-26, 2007.

GONÇALVES, M.C. Doenças causadas por vírus. In: DINARDO-MIRANDA, L.L.; VASCONCELOS, A.C.M.; LANDELL, M.G.A. (Eds.). Cana-de-Açúcar. Campinas: Instituto Agronômico de Campinas, 2008. 1a. ed. v.1. p. 150-165.

Autor: Marcos C.Gonçalves, Instituto Biológico
E-mail: marcos.goncalves@sp.gov.br

 
Publicado em: 01/03/2016
Atualizado em: 02/03/2016
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