Sexta-Feira, 29 de Março de 2024
Amarelecimento foliar (Sugarcane yellow leaf virus)

Hospedeiro. Saccharum ssp. (cana-de-açúcar)

Etiologia. A doença é causada pelo Sugarcane yellow leaf virus (SCYLV), ou vírus do amarelecimento foliar da cana-de-açúcar, pertencente ao gênero Polerovirus, família Luteoviridae. As comparações de seqüências de nucleotídeos e as análises filogenéticas revelaram que o SCYLV provavelmente originou-se da recombinação de RNAs entre outros vírus da família Luteoviridae. O vírus é propagado através de toletes infectados, que constituem uma das maneiras mais importantes de disseminação da doença. O SCYLV é transmitido pelas espécies de afídeos Melanaphys sacchari, conhecido como pulgão da cana e Rophalosiphum maidis. No Brasil, o pulgão amarelo da cana, Sypha flava, também se mostrou eficiente na transmissão em testes realizados em laboratório. As três espécies de afídeos são de comum ocorrência no Brasil.

Sintomas: Os sintomas variam no tipo e principalmente na intensidade, de acordo com a variedade de cana infectada, porém são similares em todas as regiões onde a doença ocorre. Nas variedades mais suscetíveis, as plantas afetadas apresentam amarelecimento da nervura central das folhas na face abaxial, seguido do limbo foliar. As folhas mais velhas, a sexta ou a sétima a partir do ápice, eventualmente apresentam uma coloração vermelha na face adaxial da nervura central e, posteriormente, perda de pigmentação distribui-se pelo limbo foliar, progredindo do ápice para a base, seguida pela necrose do tecido. As raízes e os colmos apresentam crescimento reduzido e, conseqüentemente, a produção é significativamente prejudicada. Plantas jovens normalmente não são afetadas no campo, porém, ocasionalmente, podem apresentar sintomas característicos em casa de vegetação, quando sob condições de estresse.

Importância: O amarelecimento foliar da cana-de-açúcar, popularmente referido como amarelinho, começou a se tornar um problema para a cultura canavieira a partir do início da década de 1990, no Brasil e nos EUA. Posteriormente, a doença foi relatada na maioria dos países produtores de cana-de-açúcar, causando significativo declínio no rendimento de alguns cultivares importantes.
No Brasil, algumas variedades, como a SP71-6163, altamente produtiva e uma das mais plantadas até o aparecimento da doença, foi a primeira a apresentar os sintomas, atingindo perdas próximas a 50% na produção. A incidência do amarelinho assumiu proporções epidêmicas no estado de São Paulo no final da década de 1990, devido às extensas áreas plantadas com a SP71-6163, ocasionando a sua rápida substituição por outras variedades, por vezes menos produtivas. Atualmente a doença é endêmica no país, porém as perdas causadas pelo amarelinho não foram quantificadas para uma estimativa precisa do seu impacto atual na cultura da cana no Brasil.

Ocorrência: Ocorre em todos os principais países produtores de cana-de-açúcar.

Manejo: Há diferenças de comportamento varietal de cana-de-açúcar na expressão de sintomas, tolerância e resistência à doença, portanto a principal medida de controle consiste na seleção e no emprego de variedades resistentes. Atualmente, os principais programas de melhoramento genético de cana-de-açúcar levam em conta a resistência ao vírus na avaliação de novos clones promissores.
Uma alternativa para o aproveitamento de clones elite, porém com susceptibilidade ao vírus, é o uso da engenharia genética para introdução de genes de resistência em um curto espaço de tempo. Há pesquisas bem sucedidas nessa área, porém ainda existem alguns entraves no que diz respeito à legislação e à liberação para testes de campo e plantio comercial de cana transgênica.
Deve-se atentar para o uso de mudas sadias no plantio, uma vez que os principais afídeos vetores estão presentes em nossos campos e podem disseminar o vírus em cultivares susceptíveis, aumentando gradativamente a porcentagem de infecção após cortes sucessivos. Por este motivo, a cultura de tecidos, realizada de maneira apropriada, é altamente recomendada na propagação de mudas e pode ser útil no controle deste e de outros patógenos da cana-de-açúcar. Apesar da principal causa das epidemias do amarelecimento foliar da cana-de-açúcar ocorridas no Brasil durante a década de 1990 ser o SCYLV, existe a possibilidade que o fitoplasma, incidente na África e em Cuba, já tenha entrado no país por meio de intercâmbio de genótipos infectados. Além desses patógenos, variações edafoclimáticas, portanto sem caráter epidêmico, podem provocar sintomas semelhantes aos da síndrome do amarelecimento foliar em plantas sob condições de estresse. Por esses motivos, é importante o diagnóstico criterioso e preciso para subsidiar quarentenários e programas de melhoramento genético para que haja um efetivo controle da doença.

Referência consultada

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Autor: Marcos César Gonçalves, Instituto Biológico
E-mail: marcos.goncalves@sp.gov.br
 
Publicado em: 09/05/2016
Atualizado em: 09/05/2016
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