Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024
Ferrugem (Puccinia pampeana)

Hospedeiros: Pimenta e Pimentão (Capsicum sp.), exemplos: Pimenta Jalapeño (Capsicum annuum L.); Pimenta tomate (red ruffled) (Capsicum annuum L.); Pimenta Ardida (Capsicum annuum L); Pimenta Serrano (Capsicum annuum L.); Pimenta Cayenne (Capsicum annuum L.); Pimenta Habañero (Capsicum chinense L.); Pimenta Chapéu-de-frade (Capsicum baccatum L.); Pimenta Malagueta (Capsicum frutescens L.); Pimentão Martha-R (Capsicum annuum L.); Pimentão Dahra-R (Capsicum annuum L.); Pimentão Bruna-R (Capsicum annuum L.)

Etiologia
Agente causal
: Puccinia pampeana
Sinonímias: Puccinia capsici
Nome comum: Ferrugem
Biologia: A ferrugem de Capsicum sp., causada pelo fungo Puccinia pampeana ocorre na região sul e sudeste do Brasil, com maior frequência no outono e inverno, quando predominam as temperaturas moderadas ao redor de 18 e 21ºC e alta umidade. O fungo P. pampeana, tem um ciclo de vida raro, na fase inicial após a penetração e desenvolvimento do talo monocariótico, apresenta espermogônios e espermácias (Figura 01A), ocorrendo num só hospedeiro, sendo por esse motivo chamada de ferrugem autoécia. A única estrutura infectiva do microrganismo é o basidiosporo (Figura 01B), produzido em decorrência da germinação de qualquer dos dois estados teleomórficos, originados pelo talo dicariótico (N+N): o tipo Puccinia ou, o tipo Endophyllum. Devido à existência desses dois estados teleomórficos, P. pampeana é caracterizado como um microrganismo biteleomórfico. Os soros do tipo Endophyllum apresentam morfologia semelhante à do anamorfo Aecidium e produzem teliosporos que apresentam morfologia de eciosporos, por isso denominados teliosporos ecióides (IIII), os quais são unicelulares, catenulados, de coloração amarelo-ouro, sem pedicelo e envoltos por uma membrana denominada perídio (Figuras 01C, 1D e 01E). Os soros do tipo Puccinia (Figuras 01F, 01G e 01H) surgem ao final do ciclo da doença e são constituídos pelos teliosporos telióides (III), assim chamados para diferenciação dos primeiros, são bicelulares, pedicelados e que apresentam intensa coloração marrom. Os teliosporos telióides são os responsáveis pela sobrevivência do fungo, nos períodos mais quentes do verão. Isto porque apresentam parede espessa, com grande concentração de substância auto-inibidora da germinação, cuja função é impedir que todos os esporos germinem quando as condições ambientais são desfavoráveis, possibilitando a permanência dessas estruturas na planta de uma estação para outra. Sob condições ambientais favoráveis, os teliosporos do tipo Endophyllum germinam prontamente produzindo, cada um, quatro basidiosporos. Estes são disseminados por agentes físicos, principalmente água e ventos. Quando encontram a planta hospedeira suscetível germinam, desenvolvendo pequenos apressórios na extremidade dos tubos germinativos. A hifa de penetração rompe a cutícula e invade os espaços intercelulares e não diretamente as células epidérmicas. A porção final da hifa de penetração alarga-se, dando origem a uma vesícula a partir da qual as hifas de infecção chegam aos espaços intercelulares. Origina-se, dessa forma o talo monocariótico (N) que é responsável pelo crescimento vegetativo do fungo, acúmulo de nutrientes e produção de espermogônios, visíveis apenas nas lesões mais jovens, e espermácias. Cada espermogônio produz espermácias com talos geneticamente compatíveis (+ ou -), sendo que a espermatização somente irá ocorrer quando estes se encontrarem, o que pode ocorrer pela ação de insetos, devido à produção do néctar espermogonial ou, pela ação de outros agentes físicos, principalmente água. Observa-se, portanto, que estas estruturas são responsáveis pela rápida disseminação do patógeno e pelas epifitotias, em períodos frios e úmidos, mais favoráveis ao desenvolvimento da doença e da planta hospedeira, que apresenta maior desenvolvimento vegetativo. Ao final do ciclo, os teliosporos ecióides são substituídos pelos teliosporos telióides que germinam lentamente sob condições favoráveis.

Sintomas: A doença afeta todos os órgãos jovens da parte aérea. As folhas, frutos, caule e brotos infectados sofrem hipertrofia, encarquilhamento, distorções, fasciação e superbrotamento das gemas apicais e laterais dando origem a estruturas ou ramos laterais que crescem de forma mais ou menos indefinida, do tipo “vassoura de bruxa" (Figura 02A). Os sintomas se manifestam predominantemente nas folhas, mas também em outras partes vegetais como bainhas, flores e frutos em início de desenvolvimento (Figuras 02B, 02C e 02D). A ferrugem causada por Puccinia pampeana é específica do gênero Capsicum spp., entretanto, algumas cultivares podem apresentar mecanismos de defesa, como a reação de hipersensibilidade. 4) Importância Puccinia pampeana é um fungo que infecta plantações comerciais de diferente espécies de Capsicum no Brasil, sendo muito agressiva durante os meses de maio a agosto (outono e inverno), quando o patógeno encontra condições favoráveis de temperatura e umidade para seu desenvolvimento e evolução. O fungo P. pampeana é capaz de infectar toda a plantas podendo causar perdas totais das culturas. 

Ocorrência: No Brasil, esta ferrugem foi constatada nas regiões sul e sudeste do Brasil. No México foi constatada sobre a espécie de pimenta Capsicum ciliatum (Kunth) e sobre Capsicum frutescens L., em 2003 e, desde 2008, foi encontrada no México no município de Tetela de Ocampo. No ano de 2009 foram observadas plantas com os mesmos sintomas, porém muito mais agressivos do que no ano anterior. Nos Estados Unidos é considerada uma doença quarentenária.

Manejo e controle: Com relação ao controle químico, existem produtos registrados, sendo adequado realizar consulta no Agrofit para utilização correta, nas dosagens e períodos recomendados.

Referência consultada

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Autores: Martha Maria Passador - UNESP/Botucatu; Christiane Ceriani Aparecido;  Instituto Biológico
e-mail: christiane.aparecido@sp.gov.br

 
Publicado em: 22/04/2014
Atualizado em: 22/04/2014
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