Terça-Feira, 23 de Abril de 2024
Formigas cortadeiras - saúvas e quenquéns (Atta e Acromyrmex)

Caracterização

As formigas cortadeiras, saúvas e quenquéns, nativas do Novo Mundo, cortam e transportam vegetais diversos para dentro de seus ninhos. Os fragmentos dos vegetais são utilizados para a produção de um fungo que serve de alimento para as formas jovens e adultos.
Saúvas (gênero Atta) e quenquéns (gênero Acromyrmex) estão distribuídas por todo o Brasil e podem ocorrer tanto na área rural quanto no meio urbano. As formigas cortadeiras são seletivas, de modo que algumas espécies de vegetais não são cortadas. Elas causam danos severos a diversas plantações e na silvicultura.

Saúvas
As saúvas constroem ninhos de fácil visualização. Constam de montes de terra solta, também chamados de murundus, sobre a superfície do solo, mas a maior parte da colônia está localizada subterraneamente. As formigas têm acesso ao meio externo por orifícios, chamados olheiros, que estão ligados por galerias às câmaras subterrâneas. Nas câmaras fica contido o fungo e o lixo que consta de restos de vegetais não aproveitados para o fungo e de formigas mortas.
Algumas espécies de saúvas fazem ninhos bastante profundos. Atta laevigata, conhecida como saúva cabeça-de-vidro, escava ninhos com até 7 metros de profundidade e com mais de 7.800 câmaras, por exemplo.
No Brasil ocorrem 8 espécies de saúvas, A. sexdens, A. laevigata, A. bisphaerica, A. capiguara, A. vollenweideri, A. opaciceps, A. cephalotes e A. robusta.

Quenquéns
Os ninhos das Acromyrmex variam em estrutura e forma, sendo bem menores que os ninhos de Atta. Algumas espécies fazem ninhos superficiais cobertos por palha ou resíduos de vegetais, enquanto outras fazem o ninho subterrâneo, que pode estar coberto com terra solta ou pode estar imperceptível. As espécies que fazem ninhos superficiais distribuem-se nas regiões mais frias, enquanto as espécies que fazem ninhos subterrâneos, encontram-se nas regiões mais quentes.

Danos ocasionados

As formigas cortadeiras causam danos diretos às plantas, no entanto, as estimativas de danos causados são escassas e antigas, tendo sido a maior parte dos levantamentos feito em reflorestamentos. Em 2005 os danos giravam em torno de 3,4 milhões de hectares de florestas plantadas de eucaliptos, 1 milhão de hectares com Pinus e 326 mil hectares com outras espécies. Projeções de danos por saúvas estimavam um custo de U$8,26 por árvore de eucalipto destruída.
As formigas cortadeiras causam danos em várias culturas, não somente em reflorestamentos. Em pastagens, por exemplo, além de causarem danos diretos nas gramíneas, o solo nu, ao redor do formiqueiro de saúvas, pode erodir e ocasionar danos aos animais e ao equipamento mecânico.
Na cultura da cana-de-açúcar os prejuízos também são altos, sendo as saúvas responsáveis por perdas médias na produtividade agrícola que variam de 1,7 a 3,2 toneladas de cana por ninho, a cada ciclo, e pela redução de 30% no teor de sacarose da matéria prima colhida na área de forrageamento.

Recomendação de controle

Apesar dos esforços da comunidade científica no sentido de se desenvolverem formas alternativas de controle, ainda não se dispõe de um método eficiente para utilização em larga escala. Por essa razão, o controle tem sido realizado, predominantemente, por meio de métodos químicos. O manejo integrado de pragas, isto é a combinação de diversos métodos de controle e do meio ambiente, visando minimizar e racionalizar o uso de produtos químicos pode ser usado, em parte para o controle de formigas cortadeiras. Para tanto, é necessário que se faça a identificação correta da espécie que ocorre na área bem como o conhecimento da sua biologia e comportamento. Antes da implantação de qualquer cultura, seja agrícola ou florestal, deve ser realizado o controle preventivo de formigas cortadeiras. Após a implantação da cultura, deve-se realizar o monitoramento da área a fim de definir o controle mais adequado.

Estratégias de controle de formigas cortadeiras

Controle mecânico e cultural

Consiste na remoção do ninho com enxada ou enxadão. Tal técnica somente é viável para formiqueiros de até quatro meses de idade (no caso das saúvas).

Outra estratégia é a de aração durante o preparo do solo para o plantio. Esta técnica atinge principalmente as espécies de Acromyrmex.

As barreiras físicas, como o uso de tiras plásticas untadas com graxa, óleo queimado ou vaselina e a fixação de cones invertidos no caule das plantas também podem funcionar impedindo o acesso das formigas às folhas da planta. Porém, esta técnica somente é indicada para áreas pequenas, com poucas plantas, como pomares, quintais e pequenos jardins.

Controle Físico

Em algumas áreas como reflorestamento, após o corte da floresta, o ateamento de fogo pode ser eficiente, uma vez que elimina a vegetação local, além de controlar fisicamente os ninhos, principalmente de Acromyrmex. Pesquisas registraram que a inundação em áreas pequenas de plantação de arroz no Rio Grande do Sul foram suficientes para eliminar formigueiros de Acromyrmex.

Controle químico

Líquidos termonebulizáveis e iscas granuladas são as formas mais utilizadas atualmente para o controle de formigas cortadeiras.
Para a termonebulização se utiliza um aparelho chamado termonebulizador e inseticidas líquidos piretróides (deltametrina) e fosforados (clorpirifós), os quais são liberados pela combustão de um óleo, diesel ou querosene, que serve de veículo para o ingrediente ativo. Esse método necessita de pessoa treinada para a operação do equipamento.
O uso de iscas granuladas é recomendado nas épocas secas. Os inseticidas atuais utilizados nas iscas são o fipronil, o clorpirifós e a sulfluramida, com várias marcas comerciais. O uso de iscas granuladas é prático e eficiente, mas depende da medição da área da colônia de acordo com o monte de terra solta. Para tanto, multiplica-se a maior largura pelo maior comprimento. No caso de A. capiguara, por exemplo, adiciona-se a essa medição a área dos olheiros e canais situados ao longo do murundu. Aplica-se a 20 cm em torno dos olheiros ativos e ao lado das trilhas de forrageamento a dosagem recomendada pelo fabricante, por metro quadrado de formigueiro.
O método mais adequado deve ser ponderado pela cultura e pela mão de obra exigida para cada técnica de controle. Por exemplo, na cana de açúcar a termonebulização é largamente utilizada, enquanto na silvicultura o controle com iscas é privilegiado.

Referência consultada

DELLA LUCIA, T.M.C. Formigas Cortadeiras. Viçosa: Editora UFV. 421 p. 2011.

Autor: Ana Eugenia de Carvalho Campos, Instituto Biológico
E-mail: anacarvalho@sp.gov.br

 
Publicado em: 22/04/2016
Atualizado em: 22/04/2016
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