Sexta-Feira, 29 de Março de 2024
Enrolamento da folha da videira (Grapevine leafroll-associated virus 3)

Hospedeiro principal: Vitis vinifera, V. labrusca e, de modo geral, demais espécies de videira (Vitis sp.), Vitaceae.

Agente causal: Grapevine leafroll-associated virus 3, GLRaV-3, gênero Ampelovirus, família Closteroviridae.

Etiologia: O GLRaV-3 é classificado no gênero Ampelovirus, família Closteroviridae. Apresenta partículas com morfologia alongada e flexuosa, com cerca de 2.000 nm de comprimento e 12 nm de diâmetro. Seu genoma é constituído de RNA de fita simples, senso positivo, com 17.919 nucleotídeos e 12 ORF (Open Reading Frame); a proteína capsidial possui massa molecular calculada de 35 kDa, e cerca de 43 kDa, quando estimada por eletroforese SDS-PAGE/western blot.

Sintomas: O sintoma característico é o enrolamento dos bordos das folhas da videira para baixo, observado principalmente nas cultivares européias de Vitis vinifera, tanto brancas quanto tintas. Nas viníferas tintas infectadas o limbo apresenta uma coloração vermelho-violácea, permanecendo o tecido ao longo das nervuras com coloração normal. Nas cultivares brancas infectadas, o limbo adquire uma coloração amarelo-pálida. Tanto nas cultivares brancas como nas tintas, as folhas apresentam o limbo com aspecto rugoso, quebradiço e de consistência mais grossa quando comparadas às folhas sadias. Em geral, as cultivares de videiras americanas (Vitis labrusca) não exibem sintomas típicos da virose. Em cultivares como ‘Niágara Branca’, ‘Niágara Rosada’ e ‘Concord’, pode se observar um leve enrolamento das folhas e redução do desenvolvimento das plantas. Já as cultivares de porta-enxertos não mostram sintomas nas folhas quando afetadas pela virose.

Importância: O enrolamento da folha da videira, virose induzida por diferentes espécies virais, dentre as quais se destaca o GLRaV-3, causa sérios prejuízos ao cultivo de videira em todo o mundo. No Brasil, essa virose já foi relatada na maioria das áreas produtoras de uva. Causa redução significativa do número, peso e tamanho dos frutos. Além disso, diminui o teor de açúcar da uva, em até 4° Brix, a longevidade das plantas e a qualidade do vinho e do suco de uva, pois os cachos e a uva, provenientes de plantas infectadas, apresentam amadurecimento irregular e incompleto.

Ocorrência: Em praticamente todos os países que cultivam a videira. No Brasil, sua ocorrência já foi registrada nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Bahia, dentre outros.

Manejo: No campo, o GLRaV-3 pode ser transmitido de modo semipersistente por diferentes espécies de cochonilhas farinhentas da família Pseudococcidae (Heliococcus bohemicus, Phenacoccus aceris, Planococcus citri, Planococcus ficus, Pseudococcus viburni, Pseudococcus calceolariae, Pseudococcus comstocki, Pseudococcus longispinus e Pseudococcus maritimus) e por cochonilhas de carapaça da família Coccidae (Pulvinaria vitis, Pulvinaria innumerabilis e Ceroplastes rusci). As cochonilhas são vetores que apresentam pouca mobilidade nas plantas e, a princípio, poderiam ser consideradas pouco eficientes na disseminação de vírus no campo. Entretanto, expressivas disseminações do GLRaV-3 por cochonilhas têm sido relatadas em alguns países vitícolas. O homem ainda é considerado o principal agente disseminador deste vírus, ao promover o trânsito de material propagativo (gemas, mudas e estacas) infectado, e também ao utilizar material propagativo infectado no processo de enxertia. Portanto, a principal forma de controle desta virose se baseia no uso de gemas, das cultivares de copa, e porta-enxertos livres de vírus, o que é dependente de um eficiente sistema de indexação. Após a constatação, no campo, de que a videira está infectada por vírus não haverá mais possibilidade de controle a não ser a reposição da muda.

Referência consultada

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Autores: Marcelo Eiras, Instituto Biológico; Thor Vinícius Martins Fajardo, Embrapa Uva e Vinho
E-mail: marcelo.eiras@sp.gov.br; thor.fajardo@embrapa.br

 
Publicado em: 23/04/2014
Atualizado em: 21/01/2016
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