Sexta-Feira, 26 de Abril de 2024
Broca-do-olho-das-palmeiras (Rhynchophorus palmarum)

Praga: Rhynchophorus palmarum Linnaeus, 1764 (Coleoptera, Dryophthoridae).

Nome popular: Broca-do-olho-das-palmeiras, Broca-do-olho-do-coqueiro, Bicudo-do-coqueiro.

Ocorrência: A espécie ocorre em todo o território brasileiro.

Danos: Região do estipe (caule) e cone vegetativo (cabeça da palmeira) de palmeiras.

Hospedeiros: Palmeiras ornamentais e industriais (Imperial, Real, Jerivá, Leque-da-china, Rabo-de-peixe, Palmeira majestosa, Fênix, Juçara, Açaí, Pupunha, Coqueiro, Dendezeiro, etc.).

Descrição, hábitos e aspectos biológicos: O gênero Rhynchophorus apresenta um grande número de espécies distribuídas nas zonas tropicais úmidas, sendo considerada uma das mais conhecidas e importantes pragas em palmeiras.

Adultos da espécie Rynchophorus palmarum são besouros negros, aveludados e de tamanho, variando entre 45,0 a 60,0 mm de comprimento por 15,0 a 18,0 mm de largura, apresentam cabeça pequena, rostro longo e recurvado, antenas genículo-clavadas e élitros estriados e ligeiramente curtos, deixando à mostra o último segmento abdominal.
Os machos possuem cerdas rígidas, em forma de escova, na parte superior do rostro (bico) e as fêmeas possuem-no mais afilado e liso, sem cerdas. As posturas são efetuadas nas partes tenras das palmeiras, na região do olho ou gema apical ou em ferimentos pré-existentes no estipe, numa média de 250 ovos por fêmea.
Ovos são elípticos, branco-amarelados e opacos. A larva é curculioniforme, possui tamanho bastante avantajado em seu último estádio de desenvolvimento, chegando aos 75,0 mm de comprimento por 2,5 mm de largura; é de corpo robusto, branco-amarelado, com cabeça bem desenvolvida e de coloração ferrugínea. Possui 9 a 12 estádios de desenvolvimento e apresenta canibalismo durante toda a fase de crescimento.
Próximo à pupação, a larva constrói um casulo feito com as fibras da planta hospedeira, dentro do estipe, para abrigar-se como pupa.
A praga possui hábito diurno e crepuscular, podendo ser encontrada em todas as fases de desenvolvimento durante todo o ano.
Seu ciclo é relativamente longo, variando de 2 a 4 dias para ovo, 33 a 70 dias para larva, 12 a 24 dias para a pupa e 45 a 128 dias para adulto. Os odores da fermentação oriundos de exudatos (sangramentos da planta) e ferimentos mecânicos pelo corte de folhas ou de estipes (caule) atraem insetos adultos. Os machos liberam um feromônio de agregação chamado Rhynchophorol, atraindo indivíduos de ambos os sexos para a planta hospedeira.
Os adultos voam ativamente durante as horas mais frescas do dia (antes das 12 horas e após as 16 horas), diminuindo a atividade em dias chuvosos.

Danos: Cocos nucifera (coqueiro), Elaeis guineensis (dendezeiro), Phoenix dactylifera (tamareira), Attalea speciosa (babaçu) e os palmiteiros das espécies Euterpe edulis (juçara), E. oleraceae (açaizeiro), Bactris gasipaes (pupunheira) e Archontophoenix aleandrae (palmeira real australiana, seafortia), além de palmeiras ornamentais dos gêneros Livistona (Palmeira-leque), Phoenix (Fênix), Sabal, Syagrus (Jerivá, etc.), Archontophoenix (Palmeira real), Roystonea (Palmeira Imperial), Raphia, Attalea, Washingtonia, Chamaedorea, Trachycarpus, Caryota, Ravenea (Palmeira Majestosa) dentre muitas outras, são comumente encontradas seriamente danificadas por larvas da Broca-do-olho-das-palmeiras.
As posturas são realizadas em tecidos tenros ou ferimentos e cicatrizes recentes, podendo a infestação iniciar-se tanto nas regiões mais altas, próximas a flecha, quanto nas mais baixas da planta, junto ao estipe ou próximo do colo.
A infestação se dá tanto em plantas jovens, quanto em palmeiras adultas. As larvas consomem os tecidos sadios da planta, fazendo galerias e deixando uma coloração avermelhada característica no interior do estipe (fezes e restos de tecidos fermentados) devido à ação de bactérias e fungos decompositores. Infestações severas levam à destruição completa de plantas adultas e jovens, podendo ser encontrado um número considerável de larvas por planta.
Os sintomas mais evidentes do ataque da praga são o amarelecimento (clorose) e murcha de folhas (formação de “saia"), seca da flecha (ponteiro), seca geral, curvamento do cone vegetativo (quebra da “cabeça") e morte da planta.

As espécies de Rhynchophorus são consideradas vetores mecânicos e biológicos do nematóide Bursaphelenchus cocophilus (Cobb, 1919) agente causal da doença do anel vermelho. A doença é fatal para as palmeiras, principalmente coqueiros, sendo disseminada principalmente pelo R. palmarum, no momento da deposição de ovos, realizando-se assim a transmissão. Após a eclosão dos ovos do besouro, as formas imaturas dos nematóides associam-se as larvas de R. palmarum e podem permanecer dentro do inseto mesmo após a metamorfose. Os adultos provenientes fecham o ciclo quando abandonam a planta hospedeira e infestam outras palmeiras com os nematóides adquiridos. O nematóide do anel vermelho não possui a capacidade de reproduzir-se no interior dos besouros transmissores. Em plantas já infectadas, adultos de R. palmarum podem adquirir os nematóides através da ingestão de tecidos contaminados ou mesmo mecanicamente, quando os nematóides se aderem a superfície do corpo do vetor. Estes nematóides serão transmitidos na postura de novos ovos em outras palmeiras. A doença também pode ser disseminada por ferramentas infectadas utilizadas no corte de palmeiras doentes.

Manejo: As larvas permanecem nas palmeiras mortas por um longo período, até a eclosão da fase adulta desde que haja quantidade de alimento e umidade suficientes. As palmeiras mortas, estando tombadas ou eretas em seu lugar de cultivo ou exposição, devem ser queimadas ou enterradas, evitando-se assim novos focos de criação. O uso de feromônios de agregação na forma de armadilhas é uma forma prática e eficiente no combate e monitoramento da praga. As armadilhas feromônicas consistem em baldes ou latões plásticos de 60 a 100 litros de coloração azul, verde, amarela, bege ou branca (não utilizar vermelho, preto, marrom ou prata), com tampa perfurada com quatro orifícios circulares de aproximadamente 5,0 a 6,0 cm de diâmetro onde deverão ser inseridos funis plásticos com bicos serrados ou canos de pvc usados em construção civil, com aproximadamente 15,0 cm de comprimento e de mesmo diâmetro dos orifícios feitos na tampa, presos com cola de silicone. Os recipientes plásticos deverão ser perfurados na sua base (furos com alguns milímetros) para o escoamento de água das chuvas. A armadilha deverá conter o feromônio preso internamente na tampa e de cinco a dez toletes de cana-de-açúcar ligeiramente macerados para a obtenção do odor da fermentação. A cana-de-açúcar macerada atua sinergisticamente com o feromônio, aumentando a atratividade do mesmo, devendo ser substituída a cada 10 ou 15 dias. Cascas de frutas como mamão, abacaxi e pedaços frescos de estipe de palmeiras infestadas ou mortas recentemente, também poderão ser utilizados nas armadilhas em substituição a cana-de-açúcar. Deverão ser distribuídas na proporção de uma armadilha a cada dois hectares (2 ha = 20.000 m2) e monitoradas quinzenalmente para a destruição dos adultos capturados. Normalmente a ação atrativa do feromônio é de 45 a 60 dias, dependendo das condições climáticas e do produto utilizado. Os fungos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae em pulverizações junto às axilas das folhas e flecha, poderão ser utilizados como método biológico de controle, tendo-se como norma a aplicação em horários mais frescos do dia. A erradicação de plantas mortas, doentes, infestadas ou não por R. palmarum, junto a utilização de armadilhas feromônicas para o monitoramento e controle mesmo fora da época de pico populacional da praga, são medidas racionais a serem seguidas metodicamente.

Referência consultada

ARAÚJO, R.L. Uma broca das palmeiras. O Biológico, São Paulo, 4, 6. 139-191. 1938.

BONDAR, G. Insetos e moléstias do coqueiro (Cocos nucifera) no Brasil. Bahia: Tipografia Naval, 1940. 160p.

FERREIRA, J.M.S.; WARWICK, D.R.N.; SIQUEIRA, L.A. Cultura do coqueiro no Brasil. Aracaju, SE : EMBRAPA - SPI, 1994. 309p.

LEPESME, P. Les insects des palmier. Paris. Paul Lechevalier, 1947. 899 p.

LORENZI, H. et al. Palmeiras brasileiras e exóticas cultivadas, Inst. Plantarum, Nova Odessa, 2004. 432p.

SANCHES, P.A. et al. Biologia y comportamiento del picudo del cocotero Rhynchophorus palmarum L. (Coleoptera: Curculionidae). Bol. Entomol. Venez. N.S., 8, 1: 83-93. 1993.

ZORZENON, F.J. Principais pragas das palmeiras In: Alexandre, M.A.V; Duarte, L.M.L.; Campos-Farinha, A.E. de C. Plantas ornamentais: doenças e pragas, Cap. 10 p. 207-247, 2008.

ZORZENON, F.J. Palmeiras ornamentais: a broca-do-olho-das-palmeiras Comunicados Técnicos, Instituto Biológico http://www.biologico.sp.gov.br/artigos_ok.php?id_artigo=61

Autor: Francisco José Zorzenon, Instituto Biológico
E-mail: francisco.zorzenon@sp.gov.br

 
Publicado em: 23/03/2016
Atualizado em: 23/01/2019
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