Quinta-Feira, 28 de Março de 2024
Pinta preta da batata (Alternaria solani, Alternaria grandis, Alternaria alternata)

Etiologia: O fungo Alternaria solani Sorauer tem sido rela¬tado como o agente causal da pinta preta da batata por inúmeros autores. Porém, a doença também pode estar associada a outras espécies do gênero como: Alternaria alternata (Fries) Keissler e Alternaria grandis E.G. Simmons. No Brasil, a existência de A. alternata é conhecida há algum tempo, porém a de A. grandis é recente. Apesar de aparentemente as três espécies não diferirem quanto a sintomatologia, essas diferem quanto ao tamanho, morfologia dos conídios e agressividade. Os conídios de A. solani são geralmente individuais, ovais, po¬dendo apresentar variações longas, curtas, largas e estreitas. Os conídios com apêndices únicos são longos, ovoides ou elipsoides com comprimento de 109-115 μm e largura entre 18-26 μm e um apêndice de 80-118 μm. Conídios com dois apêndices podem atingir tamanhos de 80-106 μm e 16-21 μm de largura, acrescidos de um primeiro apêndice com 58-88 μm de comprimento e um segundo com 64-88 μm. Apresentam coloração palha, parda, marrom-oliváceo ou ouro claro, com 7 a 11 septos transversais e poucos ou nenhum septos, longitudinais. Os conídios são inseridos em conidióforos septados retos ou sinu¬osos, que ocorrem isolados ou em grupos, com 6 a 10 μm de diâmetro e 100 a 110 μm de comprimento e coloração idêntica aos conídios. A. alternata apresenta conídios em forma de clava ou pera invertidos, ovoides ou elipsoides, formados em longas cadeias (conídios catenulados), com bicos curtos, cilíndricos ou cônicos, e comprimento inferior a um terço do corpo, possuindo até 8 septos transversais e vários longitudinais ou oblíquos. A. grandis possui conídios com morfologia semelhante a A. solani, porém com dimensões 50 a 100% maiores. Os conídios com apêndice único são longos, ovoides ou elipsoides, com comprimento de 141-192 μm e largura entre 26-38 μm e um apêndice de 160-200 μm. Conídios com dois apêndices possuem corpos na faixa de 128-198 μm e 24-30 μm de largura, acrescidos de um apêndice com 99-160 μm de comprimento e um segundo com 64-88 μm. A ocorrência de epidemias severas da doença está associada a temperaturas na faixa de 22 a 32º C, elevada umidade e alternâncias de períodos secos e úmidos. A pinta preta é mais severa em verões chuvosos, mas também pode ocorrer no inverno desde que haja condições favoráveis a essa. Os sintomas causados por A. solani e A. alternata aparecem geralmente a partir dos 40 a 45 dias após a emergência, nas folhas mais velhas, evoluindo, posteriormente, para as folhas mais velhas. As epidemias causadas por A. grandis iniciam-se a partir dos 20 a 25 dias após a emergência e tendem a destruir rapidamente toda área foliar.

Sintomas: A pinta preta se expressa através de lesões foliares necróticas, pardo-escuras ou negras, com característicos anéis concêntricos e bordos bem definidos. As lesões podem ser circulares, alongadas ou ainda apresentarem formato irregular devido a limitações impostas pelas nervuras das folhas. As lesões ocorrem isoladamente ou em grupos, podendo apresentar ou não halo clorótico. O aumento da intensidade da doença no campo ocorre tanto pelo surgimento de lesões novas como pela expansão das mais velhas, que podem coalescer atingindo todo limbo foliar. O tamanho das lesões pode variar em função da cultivar; as manchas são grandes em cultivares precoces, e pequenas em variedades tardias. Sintomas semelhantes, porém com lesões mais alongadas e às vezes deprimidas, ocorrem nas hastes e pecíolos, porém é menos comum nas condições brasileiras. Nos tubérculos as lesões são escuras, de formato irregular, deprimidas e tendem a provocar podridão seca. A infecção em tubérculos é causada principalmente por ferimentos, mas é considerada rara em nossas condições.

Importância: Os danos causados pela requeima variam em função da suscetibilidade do cultivar, condições ambientais e fase em que a doença ocorre. De maneira geral, a doença afeta a produtividade e qualidade de tubérculos, podendo os danos oscilarem de 15 a 80%.

Ocorrência: No Brasil, a doença ocorre em todas regiões produtoras.

Manejo:
Entre as medidas recomendadas para o manejo da pinta preta destacam-se:

Plantio de semente sadia.

Local de plantio.
Evitar plantios em áreas sujeitas ao acúmulo de umidade e baixa circulação de ar.

• Evitar plantios adensados.
Visa evitar o acúmulo de umidade nas folhas e favorecer a circulação de ar entre as plntas.

Plantio de cultivares com algum nível de resistência
Resistentes: Ibituaçú, Aracy, Aracy Ruiva, Apuã, Éden, Monte Alegre 172. 
Moderadamente resistentes: APTA 16.5, Asterix, Catucha, Cupido, Itararé, Delta, Ágata, Eliza, Novella, APTA 21.54, Baronesa, Baraka, Itararé,  Ana, Clara, Cristal, SCS 365 – Cota, BRSIPR , Bel Amorosa, Armada, El Paso, Fontane, Innovator, Maranca, Marlen e Sinora..
Moderadamente suscetíveis: Atlantic, Asterix, Monalisa, Melody, Vivaldi, Caesar, Colorado, e APTA 12.5.
Suscetíveis: Achat, Ágata, Almera Arrow, Bintje, Markies, Vivaldi, Mondial.

Rotação de culturas com gramíneas.
Evitar o plantio sucessivo de solanáceas.

Eliminar tubérculos remanescentes, plantas voluntárias, hospedeiros intermediários e restos culturais.
Visa reduzir as fontes de inóculo.

Irrigação adequada procurando evitar longos períodos de molhamento foliar.

Adubação equilibrada.
Deficiências de nitrogênio causam a senescência prematura das plantas, tornando-as mais suscetíveis. Níveis adequados de nitrogênio, potássio, magnésio e matéria orgânica no solo aumentam o vigor das plantas e podem reduzir a severidade da pinta preta.

Manejo correto das plantas invasoras.
Alem de concorrerem por água luz e nutrientes algumas invasoras podem ser hospedeiras alternativas de Alternaria ssp como:: a figueira do inferno (Datura stramonium L.), o picão branco (Galinsoga parvifora Cav), as Ipomea spp, o falso jóa de capote (Nicandra physaloides L.) Gaertn, a petúnia (Petúnia hybrida Hort.), os Physalis spp, a maria-pretinha (Solanum nigrum L.) e o tabaco (Nicotiana tabacum L).

Aplicação preventiva de fungicidas. O uso de fungicidas registrados deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose, volume, momento da aplicação, intervalo e número de pulverizações, intervalo de segurança, uso de equipamento de proteção individual (EPI), armazenamento e descarte de embalagens, etc. Os fungicidas oficialmente registrados no Brasil para o controle da requeima na cultura da batata encontram-se descritos no AGROFIT (http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons). Para evitar a ocorrência de resistência de P. infestans a fungicidas recomenda-se que fungicidas específicos (sistêmicos) sejam utilizados de forma alternada ou formulados com produtos inespecíficos (contato); que se evite o uso repetitivo de produtos com o mesmo mecanismo de ação; e que não se façam aplicações curativas em situações de alta pressão de doença. 

Referências consultadas.

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STEVENSON R; LORIA R.; FRANC G.D; WEINGARTNER D.P. Compendium of Potato Diseases. 2 ed.  St. Paul: The American Phytopathological Society. 2001, 144p.

TÖFOLI, J.G.; DOMINGUES, R.J.; FERRAI, J.T. Alternaria spp. em oleráceas: sintomas, etiologia, manejo e fungicidas. O Biológico, São Paulo, v.77, n.1, p.21-34, jan./jun., 2015.

TÖFOLI, J.G.; MELO, P.C.T.; DOMINGUES, R.J.; FERRARI, J.T. Requeima e pinta preta na cultura da batata: importância, características e manejo sustentável. O Biológico, São Paulo, v.75, n.1, p.33-40, 2013.

TÖFOLI, J.G., DOMINGUES, R.J., FERRARI, J.T., NOGUEIRA, E.M.C. Doenças fúngicas da cultura da batata. Biológico, São Paulo, v.74, n.1, p.63-73, 2012.

TÖFOLI, J.G. et al. Doenças Fúngicas da Batata.. In: SALAS, F. J.S.; TÖFOLI, J.G. (Eds.). Cultura da Batata: pragas e doenças. 1. ed. São Paulo: 2017. p.152-206.

WALE, S.; PLATT, H.W.; CATTLIN, N. Disease Pests and Disorders of Potatoes. Elsevier. 2008. 179 pg.

Autor: Jesus Guerino Töfoli; Ricardo José Domingues, Instituto Biológico
E-mail: jesus.tofoli@sp.gov.br

 
Publicado em: 10/12/2018
Atualizado em: 06/02/2019
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