Quinta-Feira, 25 de Abril de 2024
Requeima , Mela (Phytophthora infestans)


Etiologia: A espécie P. infestans pertence ao reino Chromista, Filo Oomycota, classe Oomycetes. Caracteriza-se por ser morfologicamente semelhante aos fungos, porém é mais relacionada com organismos aquáticos, como as algas marrons e as diatomáceas.
P. infestans é um micro-organismo diplóide para a maior parte do seu ciclo de vida e isento de pigmentos fotossintéticos. A parede celular é constituída por celulose e outras glucanas, enquanto que a dos fungos verdadeiros é composta principalmente por quitina. Outra característica marcante do gênero Phytophthora é não possuir capacidade de sintetizar o próprio esterol e tiamina, sendo esses obtidos diretamente na planta hospedeira.
P. infestans apresenta crescimento micelial característico, porém não apresenta septos (cenocítico). Os esporângios são hialinos, papilados e apresentam formato semelhante a um limão. Os esporangióforos são desenvolvidos, com ramificação simpodial, que emergem através dos estômatos Em condições especificas de temperatura e umidade no interior dos esporângios formam-se esporos móveis (zoósporos) com dois flagelos que os tornam capazes de nadar indicando uma ancestralidade aquática.
A requeima é favorecida por períodos de temperaturas frias a amenas que variam entre 12 e 25º C. Os esporângios germinam diretamente quando as temperaturas variam de 18 e 25º C, ou podem produzir zoósporos biflagelados quando essas se encontram na faixa de 12 a 16ºC. Cada esporângio origina em média 8 zoósporos, o que aumenta significativamente a quantidade de inóculo e consequentemente a severidade e potencial destrutivo da doença. A penetração do pró-micélio resultante da germinação dos esporângios ou dos zoósporos encistados, é direta no tecido vegetal, com a formação de apressórios. A colonização dos tecidos é rápida, sendo que o período de incubação pode variar de 48 a 72 horas. Quanto à umidade a requeima é favorecida por períodos molhamento foliar superiores a 12 horas e ambientes de nevoa e chuva fina. No entanto, em algumas situações a altitude associada à presença de orvalho e a queda da temperatura noturna são suficientes para epidemias importantes da doença.

Sintomas: No inicio os sintomas da requeima são caracterizados por manchas de tamanho variável, coloração verde-clara ou escura, aspecto úmido localizadas nas bordas ou ápices dos folíolos. Ao evoluírem essas se tornam escuras, irregulares ou parcialmente circulares, apresentando geralmente aspecto encharcado. Em condições ótimas de temperatura (12 a 18° C) e umidade (100%), observa-se na face inferior das lesões um crescimento esbranquiçado, formado por esporângios e esporangióforos de P. infestans. À medida que a doença evolui as lesões tendem a coalescer destruindo completamente o limbo foliar.
Nas hastes, as lesões são marrom-escuras a negras, contínuas, úmidas, alongadas e podem anelar o órgão afetado. A ocorrência da doença no ápice da haste causa a morte da gema apical e paralisa o crescimento da mesma.
Nos tubérculos, as lesões são castanhas, superficiais, irregulares e com bordos definidos. No interior dos mesmos, a necrose é irregular, de coloração marrom, aparência granular e mesclada.

Importância: Os danos causados pela requeima variam em função da suscetibilidade do cultivar, condições ambientais e fase em que a doença ocorre. De maneira geral, a doença afeta drasticamente a produtividade e qualidade de tubérculos, podendo os danos oscilarem de 20 a 100%.

Ocorrência: No Brasil, a doença ocorre praticamente em todas as regiões produtoras.

Manejo

Plantio de batata-semente sadia.
Essa prática permite atrasar possíveis epidemias e reduz a introdução novas raças.

• Local de plantio.
Evitar plantios em áreas sujeitas ao acúmulo de umidade, circulação de ar limitada e próximas a reservas de água. Esses locais apresentam lenta dissipação da umidade, o que favorece o desenvolvimento da requeima. O plantio deve ser realizado preferencialmente em áreas planas, ventiladas e distantes de campos em final de ciclo.

Plantio de cultivares com algum nível de resistência.
Resistentes: Ibituaçú, Itararé, Araucária, Cristal, Pérola, Catucha, BRS Clara, IAPAR Cristina, Monte Alegre 172, SCS 365 - Cota.
Moderadamente resistentes: Crebella, Apuã, Aracy e Aracy Ruiva, Cristal, Naturella, Panda, BRS Ana.
Moderadamente suscetíveis: Baraka, Baronesa, BRS Ana, BRS Eliza, Caesar, Catucha, Emeraude, Florice, Itararé, Innovator, Markies, Marlen, Melody, Soleias, Caesar, Oceania, Voyage, Eden, Colorado, Novellae BRSIPR Bel.
Suscetíveis: Ágata, Almera, Arrow, Armada, Artemis, Asterix, Atlantic, Amorosa, Bailla, Bintje, Canelle, Chipie, Contenda, Cupido, Delta, Elodie, Eole, Fontane, Gourmandine, Gredine, Isabel, Monalisa, Maranca, Mondial, Omega, Opilane El Paso, e Sinora.

Rotação de culturas.
Impedir o plantio sucessivo de batata e de outras solanáceas.

Evitar plantios adensados.
Estes favorecem a má circulação de ar e o acúmulo de umidade entre as plantas, condições que favorecem a requeima.

Eliminar fontes de inóculo.
Eliminar tubérculos remanescentes no campo, plantas voluntárias e hospedeiros alternativos como figueira do inferno (Datura stramonium L.), picão branco (Galinsoga parvifora Cav), Corda de viola (Ipomea purpúrea L.), falso jóa de capote (Nicandra physaloides L.) Gaertn, petúnia (Petúnia hybrida Hort.), joá de capote (Physalis angulata L.), maria-pretinha (Solanum nigrum L.), maravilha (Mirabilis jalapa L) e Nicotiana benthamiana Domin.

Irrigação controlada.
Evitar longos períodos de molhamento foliar é fundamental para o manejo da requeima. Para tanto, deve-se: evitar irrigações noturnas ou em finais de tarde; minimizar o tempo e reduzir a frequência das regas em campos com sintomas da doença.

Adubação equilibrada.
De maneira geral, níveis elevados de adubação nitrogenada originam tecidos mais tenros e suscetíveis a requeima. Por outro lado, o aumento dos níveis de fósforo, cálcio e silício podem diminuir a severidade da doença. O boro, magnésio e o cobre assumem papel importante no metabolismo do fenol e na biossíntese da lignina que conferem maior resistência às plantas. A deficiência de zinco pode resultar na condução de açúcares para a superfície das plantas, favorecendo a germinação de esporângios e zoósporos.

Manejo correto das plantas invasoras.
Além de concorrerem por espaço, luz, água e nutrientes, essas dificultam a dissipação da umidade e a circulação de ar na folhagem.

Aplicação preventiva de fungicidas.
O uso de fungicidas deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose, volume, momento da aplicação, intervalo e número de pulverizações, intervalo de segurança, uso de equipamento de proteção individual (EPI), armazenamento e descarte de embalagens, etc.
Os fungicidas oficialmente registrados no Brasil para o controle da requeima na cultura da batata encontram-se descritos no AGROFIT (http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons). Para evitar a ocorrência de resistência de P. infestans recomenda-se que fungicidas específicos (sistêmicos) sejam utilizados de forma alternada ou formulados com produtos inespecíficos (contato); que se evite o uso repetitivo de produtos com o mesmo mecanismo de ação; e que não se façam aplicações curativas em situações de alta pressão de doença.

Limpar e desinfestar equipamentos utilizados em culturas afetadas.
Visa evitar a disseminação do patógeno pela cultura e entre diferentes campos na propriedade.

Eliminar e destruir tubérculos doentes e descartes.
Tem o objetivo de reduzir possiveis fontes de inóculo

Armazenamento de batata-semente.
Promover condições adequadas de temperatura, umidade, circulação de ar e higiene durante o armazenamento de batata-semente e tubérculos.

Vistoria constante dos campos de produção.
Visa identificar focos da doença com o objetivo de facilitar e agilizar a tomada de decisões.

Sistemas orgânicos.
Além das práticas abordadas anteriormente como plantio em épocas menos favoráveis, uso de sementes sadias, escolha correta da área, plantios espaçados e adubação equilibrada; sistemas orgânicos devem estar centrados na escolha de cultivares que apresentem algum nível de resistência. A calda bordalesa destaca-se como uma alternativa eficaz para o controle da doença nessa modalidade de cultivo. Produtos a base de cobre podem ser fitotóxicos a cultura da batata.

Referências consultadas.

DIAS, J.A.C.; IAMAUTI, M.T.; FISCHER, I..H. Doenças da Batateira. In: AMORIM, L.; REZENDE, J.A.M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A. (Eds.). Manual de Fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 5. ed. São Paulo: Ceres, 2016. v.2, p.125-147.

MIZUBUTI, E.S.G. Requeima ou mela da batata e tomate. In: LUZ, E.D.M.N.; SANTOS, A.F.; MATSUOKA, K.; BEZERRA, J.L. Doenças causadas por Phytophthora no Brasil. Campinas, p.100-173, 2001.

TÖFOLI, J.G. et al. Doenças fúngicas da cultura da batata. O Biológico, São Paulo, v.74, n.1, p.63-73, 2012.

TÖFOLI, J.G.et al. Requeima e pinta preta na cultura da batata: importância, características e manejo sustentável. O Biológico, São Paulo, v.75, n.1, p.33-40, 2013.

TÖFOLI, J.G. et al. Doenças Fúngicas da Batata.. In: SALAS, F. J.S. & TÖFOLI, J.G. (Eds.). Cultura da batata: pragas e doenças. 1. ed. São Paulo: 2017. p.152-206.

WALE, S.; PLATT, H.W.; CATTLIN, N. Disease Pests and Disorders of Potatoes. Amsterdan: Elsevier. 2008. 179 pg.

Autor: Jesus G Töfoli; Ricardo José Domingues,  APTA - Instituto Biológico
E-mail: jesus.tofoli@sp.gov.br


 
Publicado em: 10/12/2018
Atualizado em: 06/02/2019
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