Sexta-Feira, 26 de Abril de 2024
Ferrugem em goiabeira (Puccinia psidii Winter)

Hospedeiro: Goiaba (Psidium guajava) - família Myrtaceae

Etiologia: Puccinia psidii, agente causal da ferrugem das mirtáceas, infecta os tecidos jovens de plantas florestais e frutíferas nativas do Brasil, como por exemplo: araçazeiro, goiabeira, jabuticabeira e, também, espécies introduzidas como jambeiro, e certas espécies de eucalipto. Todo o ciclo vital do fungo é favorecido e depende da ocorrência de temperaturas amenas, variando de 15ºC a 25ºC, e elevada umidade relativa.
O patógeno apresenta três tipos de estruturas: duas infectivas - urediniosporos e basidiosporos e, a terceira denominada teliosporo e importante para a sobrevivência do patógeno. Quanto à disseminação, se dá pelo vento, chuva, insetos e pássaros e, os teliosporos podem sobreviver nas folhas que permanecem na área de plantio. Sob condições ambientais favoráveis, os urediniosporos germinam, produzindo um tubo germinativo que retira os nutrientes do hospedeiro para produção de novos soros urediniais. Porém, quando as condições se tornam adversas, os soros urediniais são substituídos pelos teliossoros. A partir do momento que as condições ambientais voltam a ser favoráveis ao fungos, os teliosporos bicelulares germinam, produzindo oito basidiosporos, ou seja, quatro por célula que, ao atingirem as folhas jovens do hospedeiro, produzem um tubo germinativo e novo processo infectivo se inicia.

Sintomas: A infecção ocorre no início das brotações do hospedeiro, com o patógeno atacando tecidos jovens como folhas, inflorescências e gemas, sendo observado tanto em plantas adultas no campo, como em mudas na fase de viveiro e caracteriza-se pela observação de pústulas inicialmente de coloração amarelada, principalmente na face abaxial que, posteriormente, podem adquirir coloração marrom, sendo que em algumas mirtáceas os sintomas e sinais são observados somente nos frutos. Em condições de campo, P. psidii prejudica o desenvolvimento das plantas, levando à redução da altura e causando a morte dos hospedeiros mais suscetíveis. Nos casos mais graves as lesões coalescem, tomando toda a folha, resultando na deformação do limbo foliar, secamento e morte do órgão. Em eucalipto, também resulta na perda de dominância apical.

Importância: Atualmente, é um dos principais patógenos responsáveis por gerar resultados negativos nos reflorestamentos de eucalipto do Estado de São Paulo. Em 1973 ocorreu, na costa do Espírito Santo, a primeira constatação de danos preocupantes num viveiro de Eucalyptus grandis, procedente da África do Sul, levando à perda de mais de 400 mil mudas. Com relação às mirtáceas frutíferas cultivadas economicamente, como por exemplo, a goiabeira, o patógeno causa enormes prejuízos, levando a perdas que oscilam entre 40 a 100% da produção, dependendo do nível da doença. De abril a maio de 1997, foi registrada perda de 70% na produção de frutos de goiaba no Norte Fluminense em decorrência da ferrugem. Outra mirtácea frutífera que suscetível ao fungo é o araçá-boi (Eugenia stipitata), espécie natural da Amazônia Ocidental. Seus frutos apresentam grande potencial para a agroindústria, uma vez que podem ser utilizados na forma de suco ou sorvete. Desde 1997 os severos ataques do patógeno têm provocado grandes perdas. No País a doença constituí um sério problema, principalmente, devido à ocorrência de condições ambientais favoráveis (temperaturas amenas e umidade relativa bastante elevada) praticamente durante todo o ano. Estas condições são importantes para o desenvolvimento da doença porque favorecem todo o ciclo do patógeno e, também, a fenologia do hospedeiro. Como resultado, a doença pode se tornar fator limitante à produção e desenvolvimento da planta infectada.

Ocorrência: No Brasil, as primeiras evidências da ocorrência de Puccinia psidii ocorreram em 1929, porém o primeiro relato e descrição foram realizados somente em 1944 por Joffily, no Rio de Janeiro. O patógeno tem sua origem na América do Sul e, nas Américas, a doença ocorre desde o Sul dos Estados Unidos até a Argentina, sendo considerada uma das doenças mais severas na cultura do eucalipto no Brasil.

Manejo

  • Utilização de materiais resistentes, quando possível
  • Evasão espacial (plantios em áreas desfavoráveis ao patógeno)
  • Controle químico (clonais, viveiro, plantios novos). Para utilização dos produtos adequados e recomendados, deve-se realizar consulta no Agrofit.

Referência consultada

ABRAF, Anuário estatístico da ABRAF 2010 ano base 2009/ ABRAF. – Brasília, 2010. 140 p.
CAMARGO, F.R.A. et al. Ocorrência e evolução da ferrugem do eucalipto em duas regiões do Estado de São Paulo. Fitopatologia Brasileira, v. 22, p. 254, 1997.
COELHO, L. Variabilidade fisiológica de Puccinia psidii Winter – ferrugem do eucalipto. Viçosa, 1988. 68 p. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Viçosa.
COUTINHO, T.A.et al. Eucalyptus rust: a disease with the potential for serious international implications. Plant Disease, v. 82, p. 819-925, 1998.
FERREIRA, F.A. Ferrugem do eucalipto. Revista Árvore, v.7, p. 91-109, 1983.
FERREIRA, F.A. Patologia Florestal, principais doenças no Brasil. Viçosa: Sociedade de Investigações Florestais, 1989. 570 p.
FERREIRA, F.A.; SILVA, A.R. Comportamento de procedências de Eucalyptus grandis e de E. saligna à ferrugem (Puccinia psidii). Fitopat. Bras., v.7, p. 23-8, 1982.
FIGUEIREDO, M.B.; COUTINHO, L.N. A germination chamber of obtaining pure basidiospores of rust fungi. In: SIMPÓSIO DAS FERRUGENS DO CAFEEIRO, 1984, Oeiras. Anais. Portugal, p. 61-5, 1984.
FURTADO, E.L.; SANTOS, C.A.G.; MASSON, M.V. Impacto potencial das mudanças climáticas sobre a ferrugem do eucalipto no Estado de São Paulo. In: GHINI, R.; HAMADA, E. Mudanças climáticas: impactos sobre doenças de plantas no Brasil. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2008. p. 273-286.
JUNQUEIRA, N.T.V.et al. Doenças e potencial de produção do araçá-boi (Eugenia stipitata) nos cerrados. Fitopat. Bras., v. 22 (Supl.), p. 272, 1997.
JUNGHANS, D.T. Quantificação da severidade, herança da resistência e identificação de marcadores RAPD ligados à resistência à ferrugem (Puccinia psidii) em Eucalyptus grandis. Viçosa, 2000. 53p. Tese (Doutorado em Fitopatologia) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2000.
MASSON, M.V. Ferrugem do eucalipto: planejamento evasivo, estimativa de dano e análise da viabilidade do controle químico. Botucatu, 2009. 167p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2009. SILVEIRA, S.F. da. et al. Ferrugem e escaldadura dos ramos da goiabeira no Norte Fluminense. Fitopat. Bras., v. 22 (Supl.), p. 308, 1997.

Autor: Christiane Ceriani Aparecido; Danielle Finatti, Instituto Biológico
E-mail: christiane.aparecido@sp.gov.br

 
Publicado em: 04/02/2016
Atualizado em: 07/03/2017
Clique na imagem para ampliar
  Instituto Biológico
  Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 1252
  Vila Mariana - - CEP 04014-002- São Paulo - SP - Brasil
  (11) 5087-1700
                                                                                                         Número de visitas:
                                                                                                                   13.441