Sexta-Feira, 26 de Abril de 2024
Metarhizium (Metarhizium anisopliae)

Caracterização: os fungos entomopatogênicos são os agentes microbianos mais utilizados no controle biológico, devido às características de ação desses patógenos, pois atuam por contato e ingestão. Estão presentes em grandes quantidades na natureza, sendo o solo o seu maior reservatório e apresentam grande variabilidade genética.

No Brasil, esses patógenos vêm sendo estudados há mais de sessenta anos, sendo que após 1964, com a aplicação em massa do fungo Metarhizium anisopliae para o controle de cigarrinha-da-folha da cana-de-açúcar, Mahanarva posticata, o uso desses entomopatógenos aumentou, criando assim novas oportunidades de projetos de pesquisa ou mesmo a formação de biofábricas.

Modo de ação e sintomas: o ciclo das relações fungo-hospedeiro depende das condições ambientais, como temperatura, luz, umidade, radiação solar, condições nutricionais e suscetibilidade do hospedeiro e apresenta as seguintes fases:

  • Adesão: os mecanismos envolvidos na adesão ainda não são totalmente conhecidos. Existe a ação de forças eletrostáticas, além de relações de umidade e temperatura;
  • Germinação: quando o fungo encontra condições favoráveis de umidade (acima de 90%), temperatura de 23 a 30oC, pH entre 5,5 e 7,0, oxigênio e nutrição, ocorre a germinação, produzindo o tubo germinativo;
  • Formação de apressórios: na extremidade do tubo germinativo ocorre uma dilatação das hifas, formando uma estrutura chamada apressório. Nesta dilatação ocorre a migração do conteúdo citoplasmático, tornando esta área um ponto de intensa atividade metabólica;
  • Formação do grampo de penetração: pode ocorrer uma diferenciação da hifa no apressório, tornando-a mais saliente, transformando-a numa espécie de grampo para perfuração da cutícula do inseto; 
  • Penetração: na penetração estão envolvidos os processos físico e químico, sendo que neste ocorre à liberação de enzimas, tais como quitinases, lipases e proteases, que facilitam a penetração mecânica; 
  • Colonização: após a penetração, a hifa inicia o crescimento e colonização do interior do corpo do inseto a partir dos corpos gordurosos, passando para o tubo digestivo, e causando paralisação da alimentação. Atinge o sistema nervoso paralisando o inseto, tornando-o rígido. Alcança a traquéia, por onde sai do corpo do inseto para se reproduzir;
  • Reprodução: O fungo pode se reproduzir por processo sexual ou assexual, sendo que a maioria dos trabalhos realizados para o controle de pragas é com Deuteromicetos, e reprodução assexuada.

Controle da cigarrinha da raiz da cana-de-açúcar:  a cigarrinha-da-raiz da cana, Mahanarva fimbriolata, tem se tornado um sério problema em algumas regiões do Estado de São Paulo onde a maioria da cana já é colhida mecanicamente e crua, pois não havendo queima da palha ocorre um acúmulo desse material no solo e um aumento da umidade facilitando assim o crescimento e a disseminação do inseto. Junto com a colheita mecanizada e sem queima, os ataques da cigarrinha-da-raiz da cana estão cada vez mais freqüentes e intensos, causando prejuízos que podem atingir a 60% ou mais em produtividade agrícola e nas qualidades industriais da matéria-prima, através da contaminação com bactérias, perda do Pol e outros mais. Desde a constatação do problema, no final da década de 90, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, através do Instituto Biológico/APTA, vem desenvolvendo ações de pesquisa para fomentar o uso de M. anisopliae. Essas ações envolveram pesquisas para obtenção de isolados do fungo mais eficientes no controle em campo, bem como a determinação de concentrações adequadas do bioinseticida e épocas propícias para aplicação. Ressalta-se que o isolado IBCB 425, fruto do processo de seleção, é hoje utilizados pela maioria das empresas produtoras de fungos entomopatogênicos no Brasil. Adulto da cigarrinha-da-raiz da cana-de-açúcar, Mahanarva fimbriolata, infectada pelo fungo Metarhizium anisopliae (Olímpia-SP).

Controle das cigarrinhas-das-pastagens: as cigarrinhas são consideradas uma das principais pragas das pastagens, causando danos estimados em cerca de 10 milhões de hectares de gramíneas, provocando prejuízos de até 90%, dependendo da espécie da gramínea, clima, espécie de cigarrinha e do manejo do pasto. As principais espécies encontradas no centro-sul são: Zulia entreriana, Deois flavopicta, Deois schach e Mahanarva fimbriolata. O fungo M. anisopliae pode ser aplicado com o surgimento das segundas e terceiras gerações de ninfas (entre dezembro a março), pois as aplicações sobre as gerações mais populosas de ninfas tendem a ser mais eficientes. Esse entomopatógeno é utilizado na concentração de 5 × 1012 conídios/ha, ou seja, 50 g de conídios puros por hectare ou 1 kg de produto formulado, podendo ser aplicado com pulverizadores terrestres, gastando-se 200 a 300 L de água/ha. Além dessas recomendações, é importante que o fungo seja aplicado em pastagens com 25 a 40 cm de altura, com o objetivo de evitar a ação indesejável da radiação ultravioleta sobre o fungo. É indispensável também uma elevada umidade, seguida de veranicos, e temperatura na faixa de 25 a 27ºC, para a obtenção de bons resultados de controle.

Controle da broca da bananeira: A broca-da-bananeira, Cosmopolites sordidus, é considerada a principal espécie de inseto praga da cultura da banana, não só pelos prejuízos que causa ao rizoma da planta, mas pela possibilidade de transmissão de doenças como o mal-do-Panamá. Os prejuízos podem chegar a 50% da produção, causando redução do tamanho dos cachos e queda de bananeiras. O controle é realizado com o fungo Beauveria bassiana em iscas de pseudocaule de bananeira do tipo telha ou tipo queijo.
A aplicação do fungo é feita em pasta de arroz preparada a partir do meio de cultura, com 1 kg arroz com fungo (micélio + conídios + meio) em 1 L de água, batidos em liquidificador. A pasta deve ser espalhada nas iscas e aplicada no campo.
As recomendações para o controle biológico da broca-da-bananeira, são:

  • Utilizar 100 iscas/ha;
  • Colocar as iscas com a superfície tratada pela pasta fúngica voltada para o solo;
  • Substituir as iscas a cada 15 dias;
  • Manter o tratamento até que o número de insetos capturados por isca seja menor que cinco.

Outra forma é a utilização do fungo em grãos de arroz inteiros ou moídos diretamente nas iscas de pseudocaule de bananeira. Os adultos infectados morrem após 10 dias e apresentam coloração branca nas inserções do exoesqueleto.

Controle do percevejo-de-renda da seringueira: O percevejo-de-renda, Leptopharsa heveae, é a principal praga da seringueira na Amazônia, Centro-Oeste e São Paulo, pois perfura as folhas com seu aparelho bucal sugador para retirar a seiva, causando a queda da mesma, redução da fotossíntese e perda da produção de látex.
O controle tem sido realizado com o fungo Sporothrix insectorum aplicado em pulverizações sobre as árvores.
O fungo é aplicado na concentração de 108 conídios/mL, sendo aplicado entre 1 a 2 L/ha da suspensão fúngica. A eficiência de controle após 60 dias da aplicação atinge de 70 a 100%.

Autor: Antonio Batista Filho, Instituto Biológico
E-mail: batistaf@biologico.sp.gov.br

 
Publicado em: 04/04/2016
Atualizado em: 04/04/2016
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